04 | Como um sonho

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Mais gritos se juntaram ao corpo de desespero. Era apavorante pensar que outros humanos inocentes estavam presenciando aquela cena.

Tão inocentes quanto a pequena Anya, que gritava nas garras de Hypnos, o deus do sono.

Uma das criaturas que vivia no submundo, e que era o pai das súcubos e os Incubus.

E assim como seu pai, Yor sentiu suas garras despontarem, e suas presas rasgarem a sua gengiva na boca.

Odiava aquela aparência animalesca, e lutava para escondê-la dos humanos, mas o desespero era um gatilho para sua forma demoníaca.

— Pai, solte a Anya!

— Não te ensinei a ser tão insolente assim. — A criatura riu.

O deus abriu a bocarra demoníaca que mostrava seus dentes afiados, que se destacavam na névoa preta que cobria seu corpo.

— Você roubou o cão de Hades, então acho justo eu levar essa garota.

— Não, por favor! Eu te devolvo o cerberus, mas não dava nada com ela...

— Quanto desespero, Yor. Não sabia que você iria tão longe pra agradar uma presa.

— Não é por pressa nenhuma! — Gritou. — Anya não tem nada a ver com isso!

— Então ela é mais valiosa que ele? — O homem apontou pro humano loiro que apesar de estar em pé, estava petrificado pelo efeito da névoa noturna.

— Para com isso!

— Bom, o fato dele ter ouvido já foi o suficiente. — O homem estalou os dedos e Loid caiu no chão de joelhos.

Agora quem ficou sem saber o que fazer foi Yor, pois queria proteger Loid, mas se desgrudava os olhos do pai, ele poderia partir para o submundo com Anya...

Para a surpresa de Yor, uma pessoa surgiu na névoa e correu para socorrer Loid.

— Yuri!

— Pode deixar que eu cuido dele, onee—chan. — Ele sinalizou. — Vai!

Yor nunca sentiu tanto orgulho antes de seu irmão como naquele momento. Yuri nunca contrariava o pai, e era medroso demais pra lutar com ele.

Com aquele sentimento, Yor sentiu a obrigação de honrar aquele esforço do seu irmão, que assim como ela, não via os humanos apenas como objetos sexuais.

Yor tomou impulso com a corrida e pulou próximo ao braço esquerdo de Hypnos, que suspendia Anya com a névoa.

O golpe com as garras atingiu o ar. Não foi o suficiente para desvencilhar a garota do domínio de hypnos, mas ao menos o desestabilizou

— Quanto ódio no coração. Estou achando que você pode ser filha de ares.

— Talvez fosse melhor.

— Como você é tola... se fosse filha de ares, estava ajudando a recolher corpos.

Yor vacilou. Seu pai em nenhum momento tinha atacado fisicamente, mas ela sentia como se tivesse levado um golpe na boca do estômago.

Porque no final das contas ele estava certo. Talvez estivesse destinada ao submundo de qualquer forma.

Suas pálpebras, que ameaçavam fechar por conta do cansaço, se abriram quando ouviram latidos estrondosos de Cerberus.

O cachorro tentava acordar Anya, já que Hypnos o colocava no sono profundo.

Apesar de ser um cachorro grande, não passava de uma mancha branca querendo lutar contra uma vastidão de névoa.

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