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𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟐𝟎 : Descanse seu coração em meus sonhos

"Eeeh? O que diabos é isso?" Oluo choramingou ao chegar ao seu destino. Seu alojamento era tudo menos luxuoso por fora, e seus arredores, o bairro pobre e sujo, com certeza não ajudavam a levantar o ânimo.

"Poderia ser pior", sugeriu Gunther, embora fosse evidente pela sua expressão que não, ele não poderia imaginar pior. O prédio estava praticamente desmoronando diante de seus olhos.

"Pare de reclamar", Levi grunhiu e conduziu seu cavalo em direção ao estábulo.

Nas suas costas, ele podia ouvir Petra sussurrar algo para Oluo, "temos sorte de ter moradias como esta! Um quarto da humanidade perdeu sua casa, mostre alguma decência!"

Algo estalou e Oluo choramingou, e Levi simplesmente os desligou. Eles passaram por algumas das semanas mais estressantes de sua vida e, no final, tudo o que Levi sentiu foi uma exaustão surda. Interagir com civis nunca foi o seu forte. Ele não tinha o que era necessário para cuidar profundamente deles e com certeza detestava a ideia de que seus soldados morreram por porcos que agora estavam ocupados destruindo-os pelas costas.

De qualquer forma. Não faz muito sentido insistir nisso.

O sol ainda estava acima da Muralha, mas o céu já estava tingido de um leve tom de laranja.

Os meninos que trabalhavam nos estábulos buscaram rapidamente seus cavalos. Levi jogou a rédea para um deles e desafivelou os alforjes, querendo nada mais do que uma banheira de água morna e lençóis limpos. Sangue seco cobria suas roupas e partes da pele como poeira infecciosa.

"Ouvi dizer que a taxa de criminalidade apenas neste distrito tornou-se sete vezes mais frequente desde o ataque", disse Eld enquanto o resto deles seguiu Levi e começou a desfazer as malas.

Levi cantarolou. A fome e a pobreza fizeram coisas às pessoas que nada mais poderia fazer, ele, dentre todas as pessoas, saberia disso. A moral só era acessível quando se estava com o estômago cheio. Caso contrário, era um luxo que apenas tornava as pessoas lentas e vulneráveis, algo que matava quase tantas pessoas como a poeira tóxica que as pessoas respiravam no subsolo.

Foda-se a moral, honestamente. Foda-se viver no confinamento de uma miríade de regras. Eles não fazem bem a ninguém.

Você deveria ter matado alguns.

Suas mãos pararam no meio do levantamento do alforje do cavalo. O suor brotou em sua testa e seu rosto empalideceu.

Apenas alguns.

O que é isso agora?

Mãos frias. Cara fria. Gritando na chuva, ordens silenciosas, o chão tremendo embaixo dele. Porra, merda, pare com isso, você ao menos percebe o que acabou de sugerir ?

Deveria ter matado alguns. Mate-os, liberte-se, lute contra seus titãs, prove sua lealdade, permaneça vivo. Alguns não importam. Vale a pena. Dê de ombros, desista desse desgosto estúpido pela carne humana e liberte-se. Faça-os ir embora, mate humanos e depois mate titãs, é um comércio justo.

Não existem regras neste mundo. A bondade é uma mentira. A abnegação é uma mentira.

Mate eles. Só não deixe que cheguem até você, cubra a nuca, por favor...

"Capitão?"

Levi estremeceu. Ele soltou as alças do alforje, que segurava com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Ele limpou a garganta. "O que?"