Você é minha pessoa!

segundo capítulo

Arthur

Bebo o meu décimo café só hoje e isso porque tem poucos minutos que amanheceu. Esse já é o meu quarto plantão essa semana, tudo isso porque eu preciso de dinheiro, residente não recebe bem, e estudar/trabalhar no melhor programa de residência do país suga tanto o meu tempo que eu não consigo fazer mais plantões em outros hospitais.

Vou em direção a sala do meu chefe que fica na área da neuro. Hoje iremos atender um paciente com um tumor e ele permitiu que eu fizesse tudo do zero, então vou revisar cada passo a passo com ele. Confesso que estou muito nervoso, claro que já fiz algumas cirurgias, mas essa é bem complicada. O Dr. Garcia é o melhor médico que eu já vi, eu quero ser ele! O cara é incrível, ele faz coisas que ninguém consegue na sala de cirurgia.

Chego em frente a sua porta que é de vidro e peço licença para entrar. Entro

- Dr. Voltei para revisar novamente com o senhor o passo a passo. - digo me sentando na sua frente.

- Ei, calma jovem! Você vai mandar bem na cirurgia, só precisa ficar calmo, ok!?- ele diz olhando nos meus olhos tentando me tranquilizar.

-Mas e se não der certo? Se eu romper algum ligamento e prejudicar a vida do paciente?- me desespero.

- Ou, que isso, cara! Você, um homem desse tamanho que estudou durante anos a mesma coisa, com medo agora na hora de pôr tudo em prática?- Ele fala. O que me faz parar pra pensar. - faz o seguinte, vai relaxar, andar por aí. A gente já revisou todo o procedimento várias vezes e eu estarei lá o tempo todo.

Resolvo seguir o conselho dele e vou andar pelo hospital. Vou em direção ao centro do departamento de neurocirurgia e fico olhando pela enorme janela que dá para a cidade do Rio de janeiro. Tudo vem à minha cabeça, a luta dos meus pais para que eu conseguisse estudar para o vestibular, depois para que eu conseguisse ir para a faculdade. Me sinto no direito de arrasar nessa cirurgia.

Minha mãe trabalhou a vida toda para dar uma vida digna para mim e os meus irmãos. Não conseguiu terminar seus estudos e quando eu passei na faculdade, eu nunca a vi tão orgulhosa de mim.

Meu pai trabalhou e trabalha até hoje como pedreiro, o velho não quer parar de jeito nenhum. O sonho dele sempre foi me vê com um diploma. Ele adora se gabar pros amigos no bar que o filho é neurocirurgião.

Eu queria comprar uma casa para eles em um lugar mais calmo, mas minha mãe se nega a sair de lá da comunidade agora. Ela diz que só vai sair no dia que eu terminar a minha residência e já estar recebendo muito dinheiro.

Pego meu celular e vejo mensagens não lidas da Ana, minha noiva, chateada por eu ter saído de casa antes dela acordar. Na noite passada, ela foi pra minha casa, e acabou dormindo. Não respondo só desligo o celular e guardo novamente.

Eu a conheci ainda na escola, mas só começamos a namorar quando eu já estava na faculdade. Ela é filha de um amigo do meu pai e mora perto da minha casa, então fomos nos aproximando e começamos a namorar, entre Idas e vindas já estamos a cinco anos. Minha mãe nunca aprovou o nosso namoro, sempre que ela ia dormir lá em casa, minha mãe ficava implicando dizendo que Ana não passa de uma interesseira e quando eu pedi a mão da Ana em casamento, minha mãe falou que ela não era a pessoa certa pra mim.

Sinto que estou sendo observado de longe, e resolvo procurar de onde vem esse olhar. Vejo um garoto, na recepção principal do departamento, me observando. Ele vem na minha direção e consigo observa- ló melhor. Ele tem os olhos parecidos com os meus, verdes, ele é bem branco, pálido na verdade, e uma boca rosa, que o deixa bem fofo.

Ele começa a falar e eu preciso me inclinar um pouco, já que ele é baixo ou eu que sou alto. Paro de pensar nessa diferença de alturas quando ele fala que é residente do primeiro ano de cirurgia da Dra. Lopes. Começo a rir, porque todo ano ela faz isso, sempre escolhe um para sofrer na neurocirurgia.