𝟎𝟔

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São Paulo
??:??
Momento atual

Acordei, que horas são?

Minha cabeça de novo parece que vai explodir e não sei o porquê. Eu tô morta, só falta um pouquinho para ir pro sentindo literal.

Jesus, parece que passou um caminhão por cima de mim. Passou por cima, voltou e passou de novo, porque não é possível sentir um cansaço desse.

Opa, opa, pera aí… onde eu tô?

Mais um dos motivos por que não posso beber: Vou parar em lugares nada a ver, porque não lembro como cheguei.

Olhando ao redor é um lugar branco, totalmente branco. Será que é a sala branca de um hospício?

Não posso descartar a hipótese, eu não tô muito bem da cabeça.

Mas sério, tudo é branco, coisa de louco. Nem tudo, para dar uma quebrada no padrão, a janela é preta.

Tá ok, estou em um quarto branco com uma janela, se tem janela não pode ser um quero de hospício, me sinto aliviada.

Percebi agora, não estou com roupas. Estou totalmente nua.

Puta que pariu.

Onde estou e porque estou sem minhas roupas?
Meu deus, me ajuda.

Queria me virar para tentar reconhecer o lugar mas não posso, tem alguém deitado do meu lado.

COMO ASSIM TEM ALGUÉM DEITADO DO MEU LADO?

E pra piorar, sem roupa também… consigo sentir algo em mim…

Meu deus eu preciso de um milagre…

Não consigo me virar para ver quem é, sua cabeça está em cima da minha. Qualquer movimento meu, a pessoa vai sentir.

Estou ouvindo, sentindo, uma respiração pesada. O soninho deve tá bom né? Nem se mexe.

Já tô começando a me desesperar, preciso me levantar e ver onde estou, mas não consigo.
No meu campo de visão tem um criado mudo com um abajur, uma poltrona e uma janela, só.
Ainda não sei onde estou.

Que se foda, vou levantar, eu preciso!! Tomei coragem e levantei, mas com cuidado para a pessoa não acordar.

Antes de me virar para ver quem era, me abaixei para catar minhas roupas jogadas no chão e não achei de jeito nenhum minha calcinha.

— Que porra, ein — Murmurei baixo, afinal, minha voz quase não saiu.

Ok, meu tom de voz foi o suficiente para acordar a pessoa… eu vi ela se mexendo

— Tá acordada? — Uma voz falha pergunta.

Puta merda. — NÃO ERA PARA VOCÊ ACORDA DESGRAÇA — Pensei, porque não teria voz e nem coragem de falar isso.

Heloisa, às vezes na vida nós precisamos fazer coisas que a gente não quer. Que a gente tem vergonha e esse é o seu momento de ver um desconhecido depois de uma noitada.

Como estava agachada no chão me levantei lentamente até a cama e não vi nada além de…

Ah, nem quero comentar.

Fiquei vermelha depois dessa cena, juro que não esperava.

Mas, ainda não vi a cara do meliante e, caralho, Raphael.

Qual era o sobrenome dele mesmo? Veiga! Raphael Veiga!

Mas Heloisa, você vai ficar aí, parada por quanto tempo? Faça alguma coisa, querida.

E claro que eu fiz o que qualquer pessoa faria nessa situação: puxou a coberta para se cobrir.

— Oi, tô acordada sim — Me vesti naquele cobertor e me levantei, só não esperava que era só um cobertor para a cama inteira.

Não acredito que vi a cena de Raphael Veiga totalmente estirado na cama sem roupa com seu amiguinho pra fora.

— Meu deus, desculpa — Imediatamente me virei de costa, não conseguiria olhar mais um segundo para aquilo — Não vi que você…

— Não precisa se desculpar, tá tudo bem — Disse, sem aparentar timidez depois do ocorrido.
Tá, claro que tá tudo bem. Tá tudo bem se a gente fingir que não viu isso, aí fica tudo bem.
— Ei pode vira já, vesti um roupão. Vou buscar um remédio para você, imagino que estava com a cabeça doendo muito.

Me virei lentamente, e realmente ele estava de roupão. Menos mal.

— É… tá doendo muito, obrigada — Falei sem graça. Meu deus, não vou esquecer a cena nunca?

Nos encaramos por uns longos e constrangedores segundos até ele decidir sair daquele quarto.
Me joguei na cama e afundei minha cara no travesseiro, numa tentativa falha de afogar a vergonha.

Queria tentar lembrar o que aconteceu aqui um pouco mais cedo, talvez não fique tão envergonhada assim.

Raphael
ontem

Me obrigaram a vir aqui. Bem, não me obrigaram. Vim por vontade própria mas eu não tava muito afim, não. Essa é a festa de um amigo meu, fazia tempo que não o via e ele insistiu para que eu viesse e cá estou eu.

Mas na moral, quero ir embora

Piquerez também tá aqui, porque ele também é amigo do dono da festa, e é claro, não vai recusar uma festinha. Bebida, mulheres para pegar, porque sua vida se resume nisso

Ele, como de costume, está de olho em alguém. É uma mulher que parece ser bem branca, com cabelo curto e loiro. Loiras… só de ver uma me dá um negócio

Ele não para de encarar, e acho que ela já percebeu. Não vou mentir, a garota é muito bonita, e parece que está acompanhada e ele está tentando me convencer de eu tentar ficar com ela.

Logo eu. LOGO EU.

Depois do meu último relacionamento não sei mais como se chega numa mulher. Você já chega perguntando "Quer ficar comigo?" ? Ou isso vai ficar parecendo muito cuzão?

Sério, eu desaprendi.

— Vai porfavor veiguinha — Ele sussurra no meu ouvido, ainda encarando a menina que agora está dançando —, tu com la morena y yo con la rubia

— Vai lá sozinho, não tô afim de ficar com ninguém, não — Disse, também, sussurrando em seu ouvido

— até parece — Revira os olhos — no achou es bonita?

— Não é isso… é que não tenho interesse.

— Quieres a la rubia, ¿verdad? — Me olha com a sobrancelha erguida — ¿Qué tienes con las rubias?

— Pelo amor de Deus, eu tô tentando me livrar das loiras — O repreendo indignado — E olha lá, parece que ela tem namorado.

Ela está conversando com um homem, mas nem olha para ele, mas eu quero de todas as formas sair dessa situação.

— No se parece a su enamorado, ni siquiera lo mira. — Falou estalando a língua — ela te está mirando

— Tá bom, Joaco, Vamos — Respondi e ele ficou todo felizinho, que tratante.

Descemos e fomos para até onde estava, em um bar, mas ela já não está mais. Agora está dançando com a sua amiga. Piquerez foi para mais perto e me deixou aqui, sozinho

Tô quase desistindo e indo embora, mas a moça está se aproximando, toda suada e provavelmente vai pedir algo. Essa é a hora.

Mas, o que eu digo?

Sei lá Raphael, fala qualquer coisa

— Você não cansa não? — Poderia ser qualquer coisa, mas esse início de conversa foi terrível. Parabéns Raphael.

INTENÇÃO - RAPHAEL VEIGA Onde histórias criam vida. Descubra agora