Epílogo - Genevieve

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Ok! Eu meio que sabia que isso iria acontecer. Faz 30 segundos que Chris está ajoelhado em minha frente, segurando uma caixa de veludo vermelho em suas mãos, com um anel prata em seu interior. A pedra vermelha brilha para mim, como uma espécie de imã. Provavelmente, o rubi era de sua bisavó, ou sei lá o quê, coisas que Chris preza muito mais do que eu, isso não temos dúvida. É só quando uma mulher grisalha faz um mínimo ruído da garganta que percebo as 40 pessoas no meu quintal pequeno, esperando a minha resposta. Que aliás, eu deveria dar, já que os joelhos de Chris devem estar doendo.

"Sim..." – Um misero "sim", é o que consigo soltar. O que aparentemente, é o suficiente para a multidão se aglomerar em nossa volta, distribuindo tapinhas nas costas de Chris, enquanto, as solteironas pegam minha mão para ver melhor a pedrinha brilhante.

"A joia combina com você querida" – Minha mãe me dá um pequeno abraço, antes de afastar e ir conversa com Trisha (Minha futura sogra, Deus me defenda). Sinto que mesmo estando ao livre, meu pequeno peito consegue tirar todo o ar do lugar. Deus como isso é sufocante. Verifico novamente minha mão. Mesmo o rubi sendo mínimo, pesa toneladas no meu coração.

"Você será a noiva mais linda que o Mundo já viu" – Chris me beija na bochecha, e sorri. Seu sorriso está de orelha a orelha. Posso ver que ele se preparou muito para esse momento. Devia estar pensando nisso a dias. Ok, desesperador é pouco. Eu jamais, conseguiria imaginar um noivado. E por 3 segundos, vejo o futuro que a vida me reserva. E isso me dá enjoo.

"Podia ter me avisado, dos planos..." – Forço um sorriso, mas Chris não repara. Ele me abraça mais forte e beberica sua cerveja. – "Não teria graça, amor. Por isso, noivados são surpresas." – Ele tem um ponto, com certeza, e não tenho coragem de estragar com o clima, a festa está animada e as pessoas felizes. Aliás, eu deveria estar, não devia?

Parecia que eu estava no meio de um daqueles sonhos malucos, onde o chão está sempre mudando e eu sou a única que não pegou a coreografia. O Chris, todo sorridente, curtindo os parabéns e a animação, enquanto eu me afundava num mar de incertezas. Resolvi dar uma escapada, fugir do rolo compressor da festa no quintal. Achei um cantinho na varanda, onde a música estava mais suave e as risadas pareciam distantes, uma trilha sonora para minha confusão. Encostei na grade, encarando o céu estrelado, tentando botar ordem nos meus pensamentos.

"Tudo bem aí?" - A voz do Chris cortou o silêncio, e ele veio se juntar a mim na varanda.

Suspirei antes de responder, encarando os olhos que tinham causado esse rebuliço todo.

- "Chris, não é que eu não esteja feliz. Só que é tudo tão rápido, tão... sem aviso."

Ele suspirou, como se entendesse o que eu estava sentindo.  - "Eu sei, eu sei. Talvez eu devia ter te incluído nos planos, mas queria que fosse uma surpresa de verdade."

Me abracei, sentindo o frio na pele.  - "É uma surpresa, com certeza. Só não sei se estou pronta para isso. Para ser uma noiva, e tomar decisões tão enormes."

Chris enfiou as mãos nos bolsos, olhando para o horizonte. - "Entendo que seja difícil. Mas pensa nisso como o próximo passo na nossa história. A gente pode construir um futuro juntos."

Olhei para ele, pensando no que ele estava falando. - "Só queria ter tido um tempo para pensar, planejar, entender o que eu realmente quero. Parece que decidiram tudo por mim."

Chris concordou, finalmente sacando a real da situação. - "Não quero que se sinta forçada, amor. Se precisar de tempo, terá o tempo que quiser."

Agradeci mentalmente pela compreensão dele, mas mesmo assim, meu estômago estava todo enrolado.  - "Precisamos bater um papo sério sobre nossos planos, Chris. Sobre quem somos e quem queremos ser. Não quero perder minha essência nessa bagunça toda."

Ficamos em silêncio por um momento, só a brisa noturna sussurrando uns segredos por aí. Essa noite, que começou com uma surpresa, virou um ponto de virada nas nossas vidas. Enquanto a festa continuava lá fora, eu sabia que as paradas boas e os desafios de verdade estavam só começando.

Decido me afastar da varanda e subir as escadas para o meu quarto. Chegando lá, sou envolvida por memórias do início da minha vida adulta, quando conheci o verdadeiro amor da minha vida. Aquele cujo nome não é Chris, mas que deixou marcas profundas no meu coração. Me aproximo da cômoda e pego o aparelho celular guardado. Ligo o dispositivo e vejo o nome na tela. Aquelas mensagens antigas trazem à tona emoções que pensei ter enterrado, mas que agora ressurgem, desafiando minha certeza sobre o caminho que escolhi.

Ao segurar o celular, o nome dele na tela parecia uma ponte para um passado que eu tentei enterrar, mas que continuava a me assombrar. A luz do visor iluminou o quarto, revelando não apenas mensagens, mas lembranças de um tempo em que o amor era uma dança delicada, cheia de promessas sussurradas e sonhos compartilhados.

Enquanto percorria as mensagens antigas, a nostalgia se entrelaçava com a incerteza do meu presente. Não era Chris quem ocupava meus pensamentos mais profundos naquele momento, mas aquele cuja ausência havia deixado um vazio na minha vida. O passado sussurrava, e eu me encontrava dividida entre a lealdade ao presente e a nostalgia do que poderia ter sido.

Entre as linhas de texto, vislumbrei palavras de desculpas, como uma suave brisa que acaricia a memória. As mensagens eram um delicado enigma, falando sobre reconciliação e promessas que se perderam no tempo. Cada palavra era uma gota de chuva que regava a terra árida das minhas recordações. As palavras dele na tela ecoavam como um eco de um tempo que não poderia ser revivido. A noite que começara com um noivado inesperado agora se desdobrava em um labirinto de emoções complexas. Senti um aperto no peito, como se estivesse na encruzilhada entre duas vidas divergentes.

Com cuidado, meus dedos deslizaram sobre a tela do celular, revisitando as memórias que ainda queimavam vivas. Cada mensagem era uma linha que costurava o passado ao presente, e eu me via perdida nas entrelinhas da minha própria história. O quarto silencioso estava repleto de suspiros não ditos e perguntas sem resposta. A festa lá fora continuava, mas ali, naquele momento de introspecção, confrontei a dualidade do meu coração.

Com um suspiro profundo, encarei a tela do celular por mais alguns instantes, absorvendo a intensidade das emoções que transbordavam. Era hora de decidir, não apenas sobre um noivado repentino, mas sobre quem eu era e quem queria ser. A verdadeira surpresa estava dentro de mim, nas escolhas que precisava fazer para construir meu caminho, independente do passado que ainda me assombrava.

Guardando o celular, desci as escadas determinada a encarar o presente com clareza. A noite ainda estava viva lá fora, mas eu sabia que, dentro de mim, uma jornada de descoberta havia apenas começado. Minha escolha foi feita.

Entre Notas e TouchdownsWhere stories live. Discover now