Dou uma tilápia para uma doida narcisista

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Estava tomando um café bem forte, quente, sem açúcar e com um cheiro divino, que logo em seguida estava esparramado em meu chão anteriormente limpo.

—Que porra! — Me virei para trás, pronta para xingar quem quer que tenha aberto minha porta com tanta violência, e me deparei com uma figura azul  claro de um metro e vinte me encarando com seus grandes olhos pretos. — Bagre, você me assustou.

—Desculpe-me Sabrina, realmente não era minha intenção. Eu vim lhe informar que chegou uma encomenda para você e acidentalmente apliquei uma pressão desnecessária ao abrir a porta. 

Respirei fundo. Bem, acho que eu devo algumas explicações antes.

 Meu nome é Sabrina Lima e eu faço robôs de inteligência artificial. Eu trabalho em uma empresa brasileira chamada Kahart, onde sou responsável por programar as IA 's de sites duvidosos. Não é uma grande empresa, nosso trabalho de maior sucesso é um site para conversar com personagens de inteligência artificial e nosso público alvo são garotas  carentes de treze anos que sonham em se casar com o Hyunjin do Stray Kids. Vê como sou uma trabalhadora dedicada? Eu até decorei o nome do chat mais popular!

Mas essa não é uma história sobre minha carreira frustrada de programadora e sim sobre minhas duas maiores criações: Bagre e Tilápia. Tá bom, eu sei que é difícil levá-los a sério com esses nomes, mas é que eu realmente gosto de peixes e para mim, fazia sentido homenagear os meus favoritos em meus robôs favoritos.

Bagre era um robô adorável e educado, além de muito prestativo e isso somado à sua aparência fofa, tornava absurdamente impossível ficar brava com ele. 

— Obrigado por me avisar, você pode limpar o café para mim enquanto eu vou conferir o que é?

—Claro, Sab!

Ele saiu para pegar os materiais na despensa enquanto eu ia para sala. Não demorou para eu ver um pequeno pacote preto em cima de uma caixa. No pacote, estava escrito o nome morto de meu filho, Lukas, então eu apenas o coloquei em cima do sofá e me concentrei naquela caixa que eu sabia exatamente o que tinha dentro, a abri com empolgação e tirei uma peça de metal, quase saltitando de alegria.

— O que é mãe? — Me virei  e vi meu filho me olhando curioso.

—É uma caixa de som nova para Tilápia, a delu enferrujou.

—Ah, faz sentido, por isso que elu estava com aquela voz esquisita. —Lukas se sentou ao meu lado e me olhou animado. — Quer ver o que eu comprei?

Assenti com a cabeça e ele levantou a mão para me mostrar uma boneca de cabelos longos e vermelhos e um grande óculos de aviador.

— É uma Meygana básica e está  completa, isso não é incrível?  — Dei uma risada e sorri largo para ele, eu não entendo nada de coleções de bonecas, mas imaginei pelo nível de entusiasmo que essa fosse particularmente difícil de achar.

—É realmente incrível, querido. Foi muito cara?

—Bem, do ponto de vista leigo, onde boneca é perda de dinheiro, sim, porém, do ponto de vista colecionador emocionado, foi baratinho.

Dei uma risada e bati de leve em seu ombro. Ele saiu correndo para o próprio quarto, imagino que para restaurar a boneca, seja lá o que isso seja, já que do meu ponto de vista, ela estava impecável, mas ele provavelmente me ressaltaria todas as micro falhas no penteado dela e um minúsculo amarelado no interior da coxa esquerda. Com o tempo, aprendemos a não questionar colecionadores.

Eu voltei para minha sala de trabalho e olhei para Tilápia desligade em cima da mesa. Sim, desligade, em determinado momento de sua existência, Tilápia chegou até mim e falou que queria ser chamade por pronomes neutros, eu não entendi nada porque, primeiramente, IA não tem gênero e segundamente,eu nem sabia o que era pronome neutro. De qualquer forma, minhe robô usa elu/delu e ai de quem vier na minha casa e errar os pronomes da minha criação.

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⏰ Última atualização: Dec 12, 2023 ⏰

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