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III Elena Machado

No mínimo Elena se encontrava em uma situação conflituosa, após saber que Dante tinha virado um padre. Ele nunca tinha esboçado tal interesse a ela um dia. Não conseguia entender o motivo de sua escolha.
Mas algo que Elena também não conseguia entender era o por quê de estar conturbada com essa notícia que recebeu, ela não tinha a mínima ideia de sua realidade atual, mesmo sabendo que sua avó ainda mantinha um certo contato com Dante. Mas Elena se deu conta quando se lembrou de um pedido que fez a sua avó de não dizer nada relacionado a Dante para ela.

- Padre? Eu não consigo acreditar! - disse num sussurro para si.

- Bem eu não deveria nem ao menos me importar de saber seus motivos de ter uma vida em sacerdócio agora, o que a gente tinha já acabou há 7 anos.
Bem por hora a única certeza que ela tinha era que precisava por sua vida no eixo novamente naquela cidade e sabia que receber informações de Dante seria no mínimo inevitável, ainda mais por ser uma pequena cidade onde há a sensação que todos se conhecem.

Com isso Elena montou uma lista mental de coisas e afazeres que ela tinha mais necessidade no momento, sendo um deles, um trabalho novo. Elena era professora, tinha se formando em pedagogia e trabalhava na cidade grande em uma escola particular. Então ela tentaria seguir sua profissão na sua cidade natal, já tinha montado seu currículo e iria começar a distribuir no dia seguinte. Tinha em mente também que visitaria uma loja de móveis para mudar a mobília de seu quarto.
-Elena - sua avó a chamou.

- Sim vovó!

- Vou ao mercado comprar os ingredientes para fazer aquela torta que você tanto gosta!

- Vó a senhora sabe que não precisa ficar me mimando desse jeito né?

- Você está aqui comigo de volta, por que não faria algo que você gosta tanto?

- A senhora quer que eu acompanhe ao mercado?

- Não precisa vai ser rápido e vi também que está ocupada se organizando.

- Tem certeza?

- Claro, se alguém vier me ver diga que voltarei mais tarde por favor

- A senhora sempre com muitas visitas, mas se alguém vier, eu aviso. - Elena disse em tom de riso.

- Muito obrigada querida.

Passado alguns minutos desde a saída de sua avó a campainha tocou.

- Até parece que minha vó estava adivinhando que viria alguém - Elena sempre se maravilhou-se da capacidade de sua vó de fazer amizades e conhecer todos, ela amava fazer café da tarde para as vizinha e ficar de futrica, minha avó dizia que não era fofoqueira mas bem eu não iria discutir isso com ela.
A campainha toca novamente e Elena se deu conta que deixou-se levar por pensamentos e esqueceu de atender a porta. Assim que abriu o portão Elena deu de cara com o motivo do seu maior tormento em anos, sentiu seu corpo quente como o inferno e ficou tão desnorteada com a surpresa de ver Dante ali que não conseguia sequer pronunciar algo audível.

-Elena? - Padre Dante foi o primeiro que conseguiu se expressar, no seu rosto havia um misto de surpresa e ferocidade. Mesmo sabendo de sua volta não tinha raciocinado direto ao decidir fazer uma visita para a dona Iolanda.

-Dante, o que faz aqui? - finalmente Elena conseguiu proferir aquelas palavras, sua boa estava seca e no fundo sentiu-se uma imensa vontade de chorar, mas não, não faria isso na frente dele.

-Padre Dante, como você pode ver virei um padre - Elena sentiu quase um desprezo em sua voz e não entendia o porquê, já que ela que tinha sido traída por ele e não o contrário.

- Padre, quando decidiu que seria um? Juro que estou tão curiosa para saber - havia uma linha tênue entre tensão e ironia no ar, Elena não iria deixar ele falar com ela da maneira que acha que pode só porque é um padre agora.

- Não sabia que ainda mantinha um interesse na minha vida mesmo tendo me abandonado - Dante foi categórico ao proferir tais afirmações, ele realmente estava convicto que tinha sido deixado por ela.

- Você queria que eu tivesse agido como então? Padre Dante - ela fez questão de deixar seu nome ressaltado.

- Como queria que tivesse sido? Que eu aceitasse sua traição e feliz pra sempre? - Elena já estava com a voz embargada, tantos anos deixando esse sentimento adormecido e de repente ele explode em seu peito. Subitamente seu papel na história de mulher traída mudou-se para a mulher que o abandonou, qual parte da história ela não estava sabendo para que ele pudesse acusar ela de tal fato.

- Traído, Elena por favor não precisa mentir para mim eu sei que você foi embora e nem uma explicação plausível eu recebi, apenas uma carta com uma caligrafia mal feita de dizendo adeus. - Dante estava enfurecido, ele também tinha guardado sentimentos e pior achava que tais lastimas já não existiam mais desde que decidiu não deixar mais nenhuma mulher quebrar seu coração.

- Que carta? Você está me acusando de algo que você mesmo fez, eu li sua carta sobre a traição, fui até sua casa e sua mãe confirmou para mim que você tinha contado a ela sobre a traição, aposto que ela amou saber por você mesmo né? Já que ela ainda provavelmente me odeia.

- Minha mãe nunca faria isso, mesmo que ela não gostasse de você. - Dante estava transtornado com as acusações sobre sua mãe, ela jamais faria isso mesmo sendo contra Elena.

- Quer saber Padre Dante, não importa mais o que aconteceu há 7 anos atrás. Não me importa que você seja um padre e que muito menos me acuse de algo que não fiz, eu prometi que nunca mais voltaria para essa cidade pois eu sabia que ela iria trazer meu inferno particularmente de volta, voltei apenas para cuidar da minha avó e se por acaso você veio aqui para vê-la, saiba que ela não está. - Ao bater à porta na cara de Dante, Elena desabou em lágrimas que seriam capaz de apagar as chamas do inferno, ela chorou copiosamente e estava mais destruída ainda por ser acusada de algo que não fez, ela não era a vilã dessa história ela era a vítima, vítima de uma traição que roubou uma história que poderia ser tão linda agora como era antes.
Ela estava queimando no fogo do inferno sem antes ter seu próprio julgamento.