Muralhas

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Na Zona Shihonka, o mundo era um lugar desenvolvido. As cidades eram repletas de prédios altos e carros elétricos. As pessoas em sua grande maioria optavam por trabalhar nas multinacionais que haviam crescendo cada vez mais na região. Cada dia é mais comum ver pessoas cada vez mais novas usufruindo de celulares ou aparelhos eletrônicos no geral, seja na rua enquanto dá a mão para um adulto ou em um restaurante onde para evitar que seu filho comece a afrontar os próprios pais, os mesmos lhe dão o celular para que possa distraí-lo.

Estamos afundando no entretenimento; lotados de conversas inúteis e vazias, com quantidades malucas de palavras e imagens. Não estou querendo trazer a tona o pensamento que as opiniões alheias são estúpidas, mas sim de proporcionar pequenos espaços de solidão e silêncio nos quais podem eventualmente encontrar algo útil a se dizer.

O desenvolvimento de Shihonka traz a utopia de um mundo melhor, onde podemos estar mais próximos um dos outros graças ao advento do meio técnico-científico-informacional. Mas na verdade isso só está nos afastando de podermos nos desenvolver por nos mesmos. As pessoas atualmente não conseguem gerar e construir uma opinião sem consultar a internet antes, sequer conseguem mantê-la ao entrar em um debate pois nem a conhecem direito.

Caso tente abrir um debate, tenha em mão as seguintes informações: Independentemente de suas fontes, caso você não confirme elas, aposte em alguma ideia melhor. Nada que esteja ao seu alcance poderá ser defendido por você. 

O sistema educacional já desistiu disso, mas, na verdade, estamos nos direcionando exatamente onde todo o sistema operacional quer. Seja de carro, avião, eVTOL, trem, moto ou com os próprios pés; caminhando. Lentamente a manipulação da palavra "desenvolvimento" caiu na boca do povo. 

Porém; ninguém nunca se perguntou o que tanto o sistema esconde através dos muros?

Qual seria o verdadeiro custo de viver em uma sociedade urbana, com atendimentos médicos rápidos, taxas de mortalidade cada vez mais baixas e maior controle da natalidade? 

Nessa zona, o sistema governamental parlamentarista atua em nome da Agência Magnatas, onde todos os habitantes devem utilizar pulseiras tais como um smartwatch, chamadas MEG3. O controle da casa, localização de IP e chamadas de emergência eram disponíveis por ela. 

As escolas visam ampliar o conhecimento dos alunos além do que se é ensinado, recomendando-os a participarem de olimpíadas para manterem o nome da escola cujo estudam em vigor e para garanti-los a uma faculdade em que possam depositar seu potencial.

Haruki Nakamura é um estudante top 1 das premiações da cidade de Shizumachi, cidade dentro da Zona Shihonka. Seus cabelos loiros dão contraste à seus olhos castanhos que dão visão à uma reflexão de uma alma pura, mas curiosa; à um alguém justo que tem sonhos e esperanças.

— Da próxima vez que nos virmos, quero que você me peça em casamento.

Já Hiromi Takahashi é a menina com qual Haruki cresceu, sua amiga de infância.

— Hiromi, você sabe que os interesses de nossos pais não nos fazem como eles, né? Ambos nossos pais trabalham nocentro de comando da Agência Magnatas, nossas mães se conheceram antes mesmo de nascermos, mas eu realmente acho que você deve seguir para Seiran, você escutou o que a coordenadora disse, você tem tudo pra entrar nessa faculdade!

— Haru, você sabe muito bem que você também tem! Na verdade, você é quem foi recomendado, só me embarcaram junto pois sabem que somos próximos. 

Hiromi deu um passo adiante; era um dia calmo de outono na região de Shihonka, mas caso a conversa entre os dois amigos não fosse de certa forma monitorada, estariam em uma discussão, a qual já veio a se repetir diversas vezes. Os dois amigos haviam crescido juntos, afinal, os trabalhadores da Agência Magnatas têm seus próprios alojamentos e raramente passam mais de um final de semana longe do trabalho, fazendo com que Haruki e Hiromi tivessem pais ausentes em suas criações; porém as mães de ambos eram melhores amigas, a Senhora Nakamura trabalhava como dona de um bazar na região, o qual fundou com sua amiga, mãe de Hiromi. No entanto, a Senhora Takahashi teve complicações durante o parto, e, ao dar a luz à Hiromi, acabou vindo a falecer. 

A ideia de casamento foi proposta pelo pai de Hiromi à família Nakamura, que era grato à mãe de Haruki por ser sua mãe de leite até que a garota atingisse idade, cuidando dela como filha desde então. 

— Hiromi-san, já lhe disse diversas vezes que isso não é verdade e que não é necessário uma cerimônia para materializar seu agradecimento à minha mãe.

Haruki tentava deixar a voz em um tom baixo, seus cabelos já estavam bagunçados em seu rosto com o vento repentino.

— Vamos terminar a escola juntos, amanhã será a cerimônia de volta às aulas e iremos começar o ensino médio; então, por favor Hiromi, reconsidere seu foco e reconheça seu potencial. 

A ideia da faculdade de Seiran era atraente para qualquer um que desejasse garantir um futuro na Agência Magnatas, era onde 80% dos olhos futurísticos do sistema estavam. De lá saíam os maiores médicos, consultores de finanças, doutores e muito mais. Para cursá-la, a recomendação por uma escola regional é obrigatória e é onde todos os alunos que não se dedicaram anteriormente começam a se preocupar. Aqueles de outras regiões da Zona Shihonka vêm para Shizumachi para cursar o ensino médio em escolas especializadas.

Mas Haruki não se via ali. Sempre teve interesse político, principalmente com o aspecto de comunicação, cogitando até mesmo cursar isso; mas não conseguia se imaginar em um cargo alto, quase como se não merecesse isso. Após dispensar Hiromi até a casa da menina, mesmo que contra a vontade da mesma, Haruki se encontrava na varanda de seu quarto, que dava a vista de uma pequena parte do muro que dividia a Zona Shihonka da de Shakai, observando o pôr do Sol de um Domingo.

— Se você abrir a porra da boca tenha certeza que nunca mais verá o Sol novamente.

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