Encontro aos olhos azuis

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— Se você abrir a porra da boca tenha certeza que nunca mais verá o Sol novamente.

Ao tentar virar para trás para ver o que ou quem estava prensando Haruki na borda de sua varanda e cobrindo sua boca, ele sentiu uma sensação de espeto em seu pescoço, forçando-o à voltar a olhar para o pôr do Sol.

A voz havia se aproximado sem nenhum aviso, talvez seja por Haruki estar perplexo em seus pensamentos ou pela pessoa ser silenciosamente ágil. Pela grossura da voz e o jeito áspero como a frase foi dita, Haru apostaria suas fichas que aquele que está o segurando era um menino.

— Abra a porta com acesso ao quarto. — A voz ordenou, soltando uma das mãos de Haruki, a qual continha o MEG3.

O garoto aproximou-se mais de Haru para cautelosamente prestar atenção em cara movimento que o menino estava fazendo, verificando se iria cumprir sua ordem igual decretou.

Nesse momento, Haruki pode ver o cabelo preto de quem o prendia, e também percebeu que o estranho era cerca de cinco centímetros mais alto que ele, porém aparentava terem a mesma idade. Rapidamente, ele cumpriu o que o garoto disse, afinal, não se pôde dar o luxo de raciocinar com uma faca espetando seu pescoço cada vez mais próxima de perfurá-lo.

As portas de vidro se abriram, e o garoto empurrou Haruki para dentro de seu quarto.

— Tente algo e terá consequências.

A mão que impedia Haru de falar e, neste momento, até de respirar, foi abaixada. Dando o direito de o loiro recuperar seu fôlego e encarar o cara mais alto. 

Ele realmente tinha cabelos pretos, estava com um pedaço de pano que impedia Haruki de ter uma visão completa de seu rosto, a iluminação baseada em resquícios do Sol também não facilitou o processo de reconhecimento, mas percebeu que a "faca" não se passava de um galho pontiagudo, fazendo o garoto soltar um suspiro de alívio e frustração ao mesmo tempo.

— Hah, é com isso que eles te controlam?

O garoto ainda estava próximo a Haruki, e agora se aproximava da mão do loiro, que entendeu rapidamente que ele se referia ao seu MEG3.

— Quem é você e o que quer de mim? 

Haruki estava na defensiva, algum garoto simplesmente invadiu sua casa e comenta algo estranho sobre seu MEG3, o que o fez perceber que o delinquente não possuía um também.

— Querer saber de mim é tentar algo, não acha?

— Isso foi uma ameaça? 

— Não foi um elogio.

Antes que Haruki pudesse se defender, uma notificação chega ao seu MEG3, fazendo com que o estranho habilidosamente apontasse agora não o graveto, mas um garfo que estava a cima da mesa em que Haru comia anteriormente algumas frutas. Antes que qualquer um deles pudesse fazer algo, a pulseira decretou:

'Atenção, habitantes da cidade Shizumachi, alerta de uma tempestade de granito na noite de hoje. Por favor, é recomendado que permaneçam em suas devidas residências até o próximo aviso prévio. Obrigada.' 

Enquanto o aviso se repetia, Haruki percebeu que as mãos que anteriormente o prendiam estavam completamente ensanguentadas, o que fez com que ele mesmo ficasse sujo. Sem pensar duas vezes, Haru se dirigiu ao banheiro puxando o mais alto pelo braço.

— Que merda você pensa que tá fazendo?! — Disse o garoto se desprendendo da mão de Haruki.

— Suas mãos estão completamente sujas e machucadas. Não prefere lavá-las? 

Diante da situação que se encontrava, Haruki permanecia incrivelmente calmo, afinal, gostava de cuidar das pessoas e de entendê-las, e ter alguém de sua idade machucado na sua frente era a materialização disso. 

Enquanto o garoto de cabelo preto lavava as mãos desconfiado, Haruki procurava em seu armário uma caixinha branca onde deixava um pequeno kit médico.

— Você vai dormir aqui?

Depois de lavar as mãos, Haruki o direcionou para sentarem no chão, ligou uma luminária de mesa e a aproximou das mãos do desconhecido, que havia dito para não ligar as luzes do cômodo. 

— Talvez.

Dito isso, um barulho forte do lado de fora foi escutado. A chuva de granito havia começado e não aparentava querer parar tão cedo.

— Haru! Já fechou a porta da varanda?

A voz de um terceiro fez com que o garoto de cabelos pretos saltasse me direção ao Haruki, apontando o garfo que não havia deixado de lado em nenhum momento para o garoto.

— Já fechei sim mãe, pode ficar tranquila.

— Tá bom então, daqui uns 7 minutos o jantar fica pronto.

Os passos foram sumindo na medida que a voz foi se dissipando, e o garoto se levantou, deixando Haruki sozinho praticamente deitado no chão, se segurando apenas por seus cotovelos.

— O que você disse sobre controle? — Haru finalmente se levanta.

O menino se afasta, pegando um stand de decoração que estava sobre a mesa de Haruki.

— Todos vocês não passam de bonecos — Fala esticando o stand na direção de Haru. — Bonecos que se deixam levar por uma ditadura onde o verdadeiro conhecimento é afastado de vocês, e claro, vocês se deixam levar por isso. Essa pulseirinha é um dos controles que usam para deixarem vocês cada um dentro de seu quadrado, com informações curtas e rápidas, não tem o porque correr atrás de informações. Esse desenvolvimento todo não passa de um conto de fadas dos Magnatas para usufruir da estupidez de vocês.

Haruki rapidamente tapa a boca do garoto.

 — Estupidez? O único estúpido aqui é você! Eu não sei quem você é e nem da onde, mas dá para perceber que não sabe de muita coisa do que acontece aqui. Os MEG3 são supervisionados e é crime fazer o que você acabou de fazer, ou seja, debater sobre... Você sabe.

O garoto solta uma risada nasal e tira a mão de Haruki de seus lábios. 

— Hah, é disso que estou falando. Isso é controle, e você nem sequer percebe isso? Você tem a mínima noção do que está por trás de todo esse conto de fadas?

Haruki finalmente encontra aqueles olhos azuis, ficando cara a cara, sente uma onde de coragem e esperança percorrendo o seu corpo.

 — Você não é de Shihonka, é? — Ambos os garotos se encaram, olhares confusos contra olhos determinados.

— Pensei que não pudesse falar sobre isso. — Ao dar as costas, o menino sobe na cama de Haruki em frente a varanda em um pulo, deitando-se sobre ela.

— Você acha que nós também somos culpados? A manipulação se passa entre as vítimas? 

O garoto se senta.

— Vítimas o caralho! Todos aqui usufruem do bom e do melhor, mas logo serão banidos de livros, se conhecimento primitivo. Os "cabeções" logo os privaram da verdade. Vocês já estão caindo nessa; o único jeito de lidar com esse sistema corrompido seria acabando com ele. Shakai é a prova que esse mundinho onde você vive não veio de graça e não tem limites. Perdão não é uma opção dentro de uma opressão.

O MEG3 começa a apitar e um outro aviso é emitido.

'Hora de dormir, já se passam das 22 horas.' 

— Vítimas não se deixariam levar por ideias toscas. Para acordar a sociedade temos que abater quem está a fazendo dormir.

O garoto de cabelos pretos se deita novamente e se cobre com os cobertos que estavam na cama já arrumada, dando a impressão que já havia ido dormir.

— Mas e aqueles que nascem no frio? Será que realmente sabem como é o calor? — Haruki disse, quebrando o silêncio que havia se estarrecido. — Não fazer nada vale o mesmo que colaborar, mas e se os bonecos não soubessem que estão em um teatro? — Ele se senta na cama, pensando em voz alta:

— Pra que temer quem banirá os livros se não temer que não há razão para fazê-lo pois ninguém quer lê-lo...? Isso conta como participação de uma própria opressão?

As luzes automáticas se desligaram, e o menino de olhos azuis analisava delicadamente as palavras do loiro enquanto repassava seu objetivo em mente.

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⏰ Última atualização: Dec 17, 2023 ⏰

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