Branco... Era tudo que podia ver. Uma luz branca e uma silhueta negra, que parecia com algo familiar, simples. Sua mente, se é que ele tinha uma, era agora detentora de tudo. Ele sabia, ele sentia e ele vivia, ao menos, era a sensação que lhe passava.
— Vá, meu caro. — Dizia a voz agonizante, amedrontadora e ao mesmo tempo agradável do vulto. — Esta tarefa que lhe está em mente deve ser cumprida, o mais rápido que puder. Encontre seus iguais, e então poderá trazer este mundo de volta à uma antiga era, uma era que todos poderiam testemunhar a alegria e gratificação. Boa sorte, lhe vejo quando seu coração parar de bater e sua missão estiver cumprida.
E tudo mudou. A luz clara e incomodativa aos olhos humanos foi levemente se dissipando. Em um momento ele sabia de tudo, no outro, não sabia de nada. Não conseguia mais lembrar de muita coisa. Tudo que vinha à sua mente, eram flashes de suas antigas memórias e a sensação de tormento da eternidade. "Quanto tempo fiquei lá?" ele se perguntava. E quanto mais pensava, mais improváveis eram suas respostas.Agonia passou a tomar sua alma, que levemente perdia o brilho que obtivera por muito tempo. E assim, somada à agonia, a dor o preencheu. Tudo doía, era pesado, era ruim. Ele mal conseguia saber o porquê de tanta dor e cansaço. Seus olhos pareciam estar fritando e sua mente parecia pesar mais que tudo e finalmente, a verdade lhe veio à cabeça: "Estou no meu corpo, estou de volta, como aguentava isso e sentia conforto?" Um calor inimaginável o preencheu enquanto suas costas pareciam ser perfuradas por milhares de adagas e seus ouvidos eram multilados. A visão clara desapareceu e agora ele poderia ver o céu mais uma vez. Eu voltei, eu voltei mesmo.Ele olhou, e sua visão se recuperou. Mesmo inquieto, ele mal conseguia se mexer, o costume era quase inexistente. Lutou e se esforçou para levantar. Parecia em vão, mas conforme sua mente se acostumava com a desgraça, seus músculos começaram a se mover.
— Mas que pouca vergonha é essa!? — Ouviu uma voz velha e irritada de um homem, parecia tão alta para ele que sentia que seus ouvidos iam estourar. — O que está fazendo pelado no meu feno? A noite foi boa, hã? — Mas ele não respondia. — Saia logo daí!!
O homem expulsou-o às palmadas, e assim que seus pés tocaram o chão sem apoio, seu corpo caiu. O rosto tocou o chão sujo e cheio de pó, que o fez tossir e espirrar. Ele se levantou exitando muito. A cada passo que dava, sentia que iria cair ao caminhar de um jeito tão desajeitado. Mas ali estava ele, caminhando pelas ruas daquela cidade que ele conhecia muito bem, mesmo que ela estivesse diferente de suas memórias. Mas uma coisa não mudara, o cheiro terrível de carniça e coisas podres.Todos o olhavam enquanto ele andava. Sua figura chamava muita atenção, um homem alto de cabelos escuros, nu e cheio de marcas de ferimentos por todo o corpo chamava muita atenção. Mas ele ignorava todos os olhares e julgamentos, seu curso era um, e apenas um, o castelo.A cada passo que dava, sentia mais dor em seus pés, parecia que quanto mais seus pés doíam, mais sua mente regredia. A consciência que tinha ao começo de seu trajeto era diferente da consciência que tinha quando o finalizou. Ele parecia mais limitado. Mas mesmo assim, continuou. E ao chegar, pode observar a construção de pedra. Era muito bem cuidada e guardada, seus tijolos esbanjavam da melhor qualidade. Logo na entrada, foi barrado por dois soldados armados.
— Dê meia volta, desnudo. Aqui não é lugar para gente como você. — Disse o soldado mais velho.
O homem olhou para seu impedimento, e como se fosse um gesto natural, seus lábios se moveram e começaram a barganhar.
— A virtude de um bom guerreiro não está na tormenta de sua espada, mas em sua capacidade de observar, de sentir e de agir. Está em sua lealdade e prosperidade, a mesma que usa para servir à seu reino, o acompanhará no campo de batalha. — Os soldados arregalaram seus olhos. — Os senhores podem me levar ao rei?
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Canções Lúgubres: Sombras do Crepúsculo
FantasyEm um reino distante e esquecido, onde a magia é real. Um morto desperta no reino de Iörmonfour, com um objetivo em mente: Atender o pedido de Deus para descobrir e eliminar um mal que ameaça o mundo. Sabendo que este mal se encontraria em outro co...