II.

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Karina nem ao menos tentou segui-la. Afinal de contas, já possuía o contato de Eve pelo qual marcara a entrevista de emprego e sabia que era tarde demais para fazê-la mudar de ideia. Pôs-se de pé e guardou o dinheiro na bolsa, batendo as mãos no vestido. Ajeitou o short que usava por baixo e mirou ao redor, percebendo que não havia visto a direção em que a mais velha partiu. Pensativa, decidiu passear pela praça e observar as pessoas que transitavam por ela. Poderia uma desconhecida ter tanta confiança nela? Talvez fosse...

— Boa tarde, mãe. – falou ao celular. – Como você está hoje?

— Estou cansada, a roça me deu um trabalho e tanto nesta manhã, sabe? – soltou uma risada fraca. – Mas estou bem, não se preocupe comigo. E você?

— Vou bem, fico feliz que a senhora esteja forte. – suspirou.

— Filha, está chateada comigo?

— Não, por que?

— Nunca me chama de senhora, a não ser que...

Ela estava certa, como sempre.

— Aconteceu algo comigo hoje, você tem parte nisso?

— O que aconteceu? – seu tom de voz alterou, soando preocupada. – Você está bem mesmo?

Julgou pela reação alheia que ela não sabia mesmo.

— Eu estava numa entrevista de emprego e acabei sendo contratada por livre espontânea pressão. A mulher me entregou a primeira parcela e foi embora.

— Calma, sei que não entendo direito a sua profissão dos sonhos até hoje, só que... Duas coisas. – fez uma pausa, aparentemente, para beber água. – Primeiro, não é você quem contrata? Segundo, é possível receber uma bufunfa tão fácil assim? Cuidado, viu. Seu tio-avô aceitou uma quantia de um amigo e só descobriu depois que ele tava transferindo uma dívida com agiota.

— É, eu conheço muito bem essa história... – escutou barulhos vindo do fundo do áudio do telefone. – Pode deixar que ficarei bem atenta.

— Acredita que sua avó foi alimentar as galinhas agora, sendo que não faz 15 minutos que dei ração? – havia uma algazarra atrapalhando a mais nova a ouvir. – Fica bem, minha Katarina! Até mais tarde.

— Até, mãe, cuida bem da vovó também! – desligou e dirigiu-se de volta a sua casa. 

Enquanto isso, a mais nova chefe apresentava um breve relatório falado para seu superior. Havia anotado, usando caneta azul, algumas palavras-chave na palma da mão, apesar de não parecer necessário, dado que a única coisa que ele gostaria de saber era se a moça desconfiara da identidade da encarregada. Assim que ela foi elogiada pelo desempenho e dispensada, correu até a cabine de seu amigo, extremamente curiosa. A aparência dele a assustou, pois o mais jovem estava com olheiras enormes, cabelo bagunçado e bastante pálido, como alguém que nunca viu a luz do sol. Além disso, seu buço estava sujo de leite com café.

— Resolveu o problema, Joaquim? – parou ao lado da mesa.

— Qual dos? – bocejou, com preguiça até de falar que aquele não era seu nome. – O humano de Suzy está preso num triângulo amoroso novamente. Algum engraçadinho impulsionou duas pessoas na vida dele. De novo.

— Quem será que gosta tanto de sabotar o trabalho dela? – respirou fundo, apoiando o cotovelo na divisória dos cubículos, que eram as cabines. – Não é muito incomum dar algum pane no programa, mas duas vezes com a mesma pessoa... Suspeito.

— Eu não faço ideia, e ai de quem for. – teclava com certa força, expondo sua insatisfação. – Se não for despedido, farei me compensar por meu tempo gasto aqui. Você não imagina o quão trabalhoso é reprogramar o sistema e fazer com que tudo volte ao curso esperado.

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