Ato 5 ~ Prólogo

36 3 430
                                    


Eu tive de permanecer neste bar luxuoso para dar 'poder' ao lampião.
Como um novo confraterno útil e destemido para contra a escuridão por diante entre os ninhos, eu deveria ter feito isso há tempos.
Imbuir de magia não é difícil, mas é perigoso. Ainda mais nesse horário.

Era um quarto - de hotel -, após as escadas escondidas do segundo andar. Por uma cota de outras portas, fiz do costume de sempre permanecer no último deles. Sentado em uma cadeira, com dois outros lampiões iluminando - e protegendo - todo quarto, coloquei meu receptáculo - mais como um pináculo protetor - em uma mesinha - aonde também jaziam as outras velas - a minha frente.

A operação é o sangue - sempre o sangue -, e as palavras de imbuição com que sempre odiei.
4 frases que viram 20 por cada erro. Não mais que isso, o cheiro do sangue mágico era o melhor chafariz para elas - as aranhas.

Retirei a luva de couro negra do armamento e analisei minha mão murcha, úmida de tanta chuva, e calos milhares que moldavam até mesmo a cor dos dedos.
A adaga que jaz em meu cinto, geralmente inutilizado, pontou uma curta dor sobre meu dedo indicador.
E o sangue que caía, pingou sobre a corda da vela, e fez sua cera tingir de carmesim.
Sussurros cansados vieram de mim, contos inteiros das palavras turvas e contusas, e o sangue que parecia engolir toda a cera composta, fez mesmo as outras velas ao meu redor tremer de medo.

Foi no término das palavras, que decidi testa-la.
Coloquei minha mão dentro da lamparina desligada e proferi um estalo. Dele - do ato -, faíscas acenderam a vela em um novo brilho avermelhado, e a lâmpada havia se tornado mágica, enfim.
O estalo. Todos nós tinhamos de saber por cima, coisas assim, coisas mágicas.
Não é seguro levar coisas incendiárias nos bolsos, então tudo é levado em conta.
Faísca e a chama anã permanecida no dedo são a única coisa que eu - incapaz - sei fazer com isso.

Fechei a portinhola da lamparina e fitei a chama vermelha cor - e cheiro - de sangue.
Sua vantagem é clara - certamente -, e não se apagará por vento, nem mesmo chuva, muito menos por um ato terceiro. É conveniente, mesmo com seu revés do sútil cheiro de sangue que certamente chamará elas - e outros monstros - aonde quer que ela vá, acessa ou não.

Retornei a luva à mão, e fitei a chama alta provinda da vela.
Eu deveria ter feito isso antes. De garantir boa - e perigosa - proteção contra elas. Sempre bom poder ver o que se pisa, também.
E mesmo assim, agora pouco mais tranquilo - talvez pelo efeito da tríade de chama alinhada em meio à escrivaninha, tive de ponderar sobre meu próximo destino.

Castelo Cerivalle. Nos limites do oeste com o norte, lá era aonde eu caçava bestas em tempos de expurgo, no limiar da hastábula - floresta de gelo - infinita que subia logo após para as montanhas inteiras de neve - e morte.
E agora nesta época maldosa, o norte é aonde começou o pandemônio - Sak'otar.

Jazido na cadeira, olhei pelas largas portas de vidro que davam acesso a sacada.
Noite longe, e chuva incessante.
A época de chuva é horrível mesmo para mim. Um Errante que não pode mais ficar tanto tempo em um lugar.
Mesmo que elas tenham medo da chuva, eu sei que as vezes fazem exceções, e não temem de tomar poucos pingos na carapaça.

Me esparramei sobre a cadeira. Minhas pernas - esticadas e cruzadas - se escondiam entre a escrivaninha, e de meus braços cruzados e a touca - sempre escondendo meu rosto -, me escondi em mim mesmo afim de esperar o dia.
Enquanto isso, em olhos cerrados, continuei ponderando sobre o som da forte chuva que caía.

Ato 5 ~ Os Apara-Luz


Nas voltas do Castelo Cerivalle sempre nevava - como o Templo -, eu havia concluído isso à minha terceira visita do ano pelos meados limites do lugar.
E como regra do próprio Templo, eu havia de argumentar tal fato com outros dois colegas.
O Ambíguo era igual eu, um armadura de couro negro, com aspecto puramente pálido e bochechas sempre rosadas contra o frio. Em seu rosto sempre se havia a barba ruiva e o cabelo desnorteado para todos os lados.
Já o Garatuja era um esqueleto em forma de homem. Armadura de seda, tinha o capacete de caveira em olhos fundos. Seus olhos eram negros quando retirava de sua segunda cara ossuda, e o cabelo inexistente era apenas o que o fazia um vivo morto-vivo.
Àquela época, quando começamos a frequentar os bosques daquela hastábula, tínhamos já os elmos - este que eu perdi em Sak'otar -, e todos escondiamos nossos rostos por meio daqueles capacetes estilizados - nenhum era igual, e todos se diferenciavam pelo aspecto único de seu conceito.

The Knightin'Gale Onde histórias criam vida. Descubra agora