Ato 7 ~ Prólogo

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— Calder, podemos parar? Meus pés doem! — ela resmungou, já permanecida no meio da rota, ainda pouco depois de passarmos Noro queimada - ainda se podia ver a cidade daqui, plantados sobre a rota.

— Tolice não trazer pisantes. — retruquei, fitando o avante.

— Eu não tenho calçados! — ela gritou, e eu suspirei.

Se Garatuja estivesse aqui, a garota já estaria morta.

Como antes em meio aos pobres e parvos humanos necessitados - e agora abandonados e mortos por fim pela outra rota -, o Calder de verdade estava pouco ao lado da rota - desligado, servindo em si como o próprio acampamento em forma de ícone.

A prostituta, encolhida de frio pela chuva que retornou à força da madrugada, fitava os pés vermelhos de desgaste, carne viva e o sangue que pingava. Escondia as lágrimas pela chuva e balbuciava seu pranto.
Bom, isso não é importante. Não pra mim.
Eu, levantado e de braços cruzados analisando a estrada, iniciei daquela minha ponderação matuta.

Imaginei existir um tipo de aranha que não tem medo da luz, de poder ameaçar mesmo ao véu acinzentado que os dias propõem para o continente.
Mas aparar-luz? Que rouba e transforma em poder... e além disso, fala e ridiculariza em tal língua desconexa de tudo.
Não lembro de ter visto tal criatura. De sumir com nossas vantagens em meio às torres tontas de Sak'otar, nem de sua língua proposta como própria.

Os Apara-Luz. Criaturas de luz que estonteiam e sempre te sequestram para algum intuito. Deve ter uma lógica parecida, ambos. Uma nova casta de aranhas. É claro que haverá mais, sempre tem mais.
E certamente não é a única das novidades que Schilqz trás a frente de minha destinação.

Lorde 'Ghilair'. É lá um Lorde que ne persegue? Sem reino pra chamar de seu?
Sempre soube que tais criaturas nefastas tinham derivações próprias e um conjunto impetuoso de fortes servos de outras aranhas superiores. Tudo em homenagem ao grande Lorde Cruel das terras turvas.
Talvez algumas peças estejam se encaixando. Sim.

Espada Perdida não me é um apelido incomum, em constância. De Errante a um apelido oriundo de algo que não sei - como sempre -, e que me persegue como se eu fosse um raro animal. O que será que os Remanescentes estão fazendo, afinal? Isso é obra deles, certamente.
Dos 7, fui o quarto a ir embora, e nada sei por qual lado cada um foi. E espero que continua assim, váguo.

— Isso dói demais! — a criança grunhiu, fitando seu pé mastigado de maltrato — Isso dói muito! — latiu novamente sobre a voz chorosa.

Não tenho paciência pra esperar.

Peguei Calder e coloquei-o sobre a cintura - no cinto -, e voltei a estrada.

— Senhor Calder! — ela chamou, mas não vou me manter preso a ela. E ela sabe disso. Levantou-se com a famosa dor do desgaste e a carne, arrastando-se sobre a areia sórdida, aos berros mudos de qualquer coitadinho nos entremeados das terras aradas. Ainda em pranto, alinhou-se aos pulos comigo, em passos deviantes pelo meu lado — Me desculpa, senhor, não vai acontecer novamente — ela então choramingou, enlaçada nos próprios finos braços por frio.

Nada disse após, e nem eu. É bom andar em silêncio, e saber o que vaga a sua volta.

O cálculo humano foi feito para saber dar uma proporção de viagem. O plano mais prático seria eu voltar à Saxa, 6 horas de caminhada a partir de Noro.
Mas não. Não é ideal voltar para Saxa. Não mais.

Todos os ninhos do leste contém nomes. Pequenos e grandes, há sempre alguém pra teoricamente controlar-los.

Em quase 10 horas depois de Noro, há um projeto de ninho que, certamente, fui bem importante na sua composição.

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