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Haviam tantos fios soltos naquele amontoado de cabelo, que quando o vento soprava, metade do seu couro cabeludo ia junto.

O sol demoraria a ir embora para a outra parte do mundo, mas você estava ali, estática e sem graça, olhando para o horizonte. O vestido de estampa escura não cobria quase nada das suas costas, mas isso era tão irrelevante quanto os grãos de areia entrado nos seus olhos vermelhos.

A beleza ficou inanimada à minha percepção, então, fiquei te vendo de longe, como em um clipe, que nunca existiu, da sua música preferida.

Por alguns instantes, eu quis voltar a ser o antiquado escritor que costumava fumar alguns cigarros na varanda com piso de madeira, beber a água fresca que caia das goteiras no telhado, ignorar o jantar e ligar o rádio até cair no sono, silencioso e cheio de pesadelos.

Sempre aceitei estilhaços de felicidade, mesmo sabendo que aquilo não era, sequer, um pedaço minúsculo da barra inteira. Você, não tão diferente, vivia com menos migalhas que eu. Como poderíamos nos ajudar? Pensei.

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