0

334 55 66
                                    


Aviso de gatilho: Morte de personagem principal, descrição de feridas, luto, menção de abuso infantil, ideação suicida.

Desde que as palavras surgiram em seu pulso, Andrew sentiu um misto de curiosidade mórbida e receio em iguais medidas sempre que as via.

Foi bom que ele sempre as mantivesse cobertas, assim poderiam sair de sua vista e ele poderia se dar o luxo de manter a informação afastada o suficiente em seu cérebro para parecer que ele a havia esquecido.

Ele nunca tinha, mesmo que quisesse, Andrew também achava que não iria conseguir.

Ele havia aprendido quando jovem que quando se chega há uma certa idade, as últimas palavras que sua alma gêmea diria para você apareceriam em seu corpo, que quanto mais próximas de pontos vitais, mais forte seria o vínculo da alma. Andrew julgou aquilo como besteira desde o início, mas aos treze anos ele teve suas palavras escritas em letras delicadas e suaves sobre onde seu pulso batia mais forte, bem na parte central de sua artéria radial, onde a veia era um pouco inchada e elevada.

Diziam que você saberia no exato momento em que visse seu destinado, que a gravidade repentinamente te puxaria em sua direção. Andrew encontrou acalento na ideia por um tempo, bem no princípio, quando tudo não era tão difícil.

Ele ainda vivia sob o teto de Cass quando a frase apareceu, ela ficou feliz por ele, embora tivesse um sorriso triste em seu rosto.

Drake ficou absolutamente encantado.

Foi quando passou a gostar de ignorar a ideia de que existia alguém lá fora feito sob medida para ele. Não importava o quanto ele desejasse alguém que ouvisse, que entendesse — nada bom surgiria de deixar alguém passar por seus muros. Certamente nada bom surgiria para quem quer que fosse ao ter sua vida entrelaçada à de Andrew.

Luther solidificou sua apatia em relação a qualquer vínculo do destino que o unia a alguém, ele não queria fazer parte da besteira que o pai de Nicky pregava em seus sermões aos domingos, a maneira que ele falava sobre como almas gêmeas pertenciam uma a outra, tratando o vínculo mais como um certificado de compra do que como uma escolha.

Andrew não gostou de pensar em algo como aquilo.

E como ele era a definição de um verdadeiro azarão — ou apenas porque a vida gostava de fazer piada com a própria existência de Andrew — não foi até estar sob toneladas de drogas, sentindo-se dormente e chapado pra caralho, Andrew sentiu aquele puxão que todos diziam que ele experimentaria.

Um vestiário escuro, uma raquete roubada, um fugitivo e Andrew se perdeu, caiu na toca do coelho.

Ele não reconheceu, claro. Seria muito fácil e ele preferia se torturar assim, negando a si mesmo coisas que ele sabia que poderiam ser dele. Então Andrew fez o que sabia fazer de melhor, tentou derrubar a ponte que o ligava a algo que ele poderia amar.

Funcionou como uma maravilha a princípio, Neil o odiando tanto que era fácil sentir a aversão no ar — e Andrew sorriria para isso com orgulho, sabendo que estava seguro de qualquer sentimento que pudesse se enterrar em seu peito e morrer lá. Ele se deleitava em seu sucesso ao obter fracassos consecutivos em cada âmbito de sua vida que pudesse machucá-lo.

Mas a coragem de Neil era equivalente a sua incapacidade de ter qualquer senso de autopreservação. Ele tinha que proteger Kevin quando Andrew não pôde, tinha que se importar o bastante para se colocar entre Riko e Kevin.

Andrew não viu outra opção além de colocá-lo sob sua asa e tentar protegê-lo de seu passado — ele sabia que provavelmente não conseguiria, mas não era como se Andrew se importasse se sua vida seria perdida no fogo cruzado, ele tinha uma promessa a manter e o faria enquanto estivesse vivo, fosse ou não à custo de si mesmo.

You were in loveWhere stories live. Discover now