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LOS ANGELES, CA. August 20th, 2018.
Observava Lucy — a moça da cantina— colocando aquela gororoba na minha bandeja vermelha que havia alguns arranhões. A mais velha me encarava com desdém, sem tirar os olhos de mim, — o que me deixou com medo —.
A escola tinha virado um bafafá por causa de quem? Isso mesmo, Billie. Quando tinha chegado no colégio junto com Ava, observei o bolo de pessoas ao redor da garota. Era um barulho sem fim, várias vozes em vários tons diferentes no mesmo lugar.
Ava estava quase para se jogar nos meus braços — ela já se jogou —. Sério mesmo, essa garota a cada piscada que Billie dava era um surto diferente.
"Alex eu falei com ela!", Ava se aproxima de mim em prantos, prestes a me sacudir. "Alex ela sorriu pra mim!"
"Ava, eu já sei que você falou com ela e que ela sorriu pra você. Não precisa repetir", eu a encaro jogando a bandeja na mesa retangular relativamente grande.
Ava falava sem parar, mas eu só conseguia prestar atenção nela. Tá, sei que é exagero, mas porra. Ela estava realmente deslumbrante, mesmo que parecesse meio perdida. A voz dela era incrível.
Não cheguei a falar com ela, não sei que cara iria usar pra falar ela.
"Alex, Alex!", Ava passa a mão sobre os meus olhos. "Tá me ouvindo, garota?"
Eu assenti com a cabeça, tentando não prestar atenção no outro lado do corredor.
"Eu tô achando que você tá mais vidrada nela do que eu", Ava diz após virar a cabeça na direção que eu estava olhando, e logo me lança um olhar malicioso.
"Ai Ava para né? Eu só tô achando isso muito... sei lá, impossível", eu suspiro voltando o meu olhar para a comida incomestível na minha bandeja. Sério, que merda colocam nela pra ser tão ruim?
"Sei, certeza que já sonha com ela", a mesma ri ironicamente me encarando, esperando eu admitir algo. O que obviamente não vai acontecer.
"Você me dá preguiça", me levanto da mesa revirando os olhos pela milésima vez no dia. Nem me preocupei com alimento que acabei de estragar. Tá, sei que isso é meio cruel, mas nem os animaizinhos de rua comeriam esse lixo que a escola faz.
Caminhava lentamente pelo corredor alguns minutos antes do quarto horário começar, encarei o meu armário trancado tomando coragem para encarar a foto de Oliver colada na portinha que eu tive que olhar vinte e três vezes só hoje. Cada vez me aprofundava ainda mais nesse pensamento, nesse pensamento de Oliver morto. Eu ainda não aceitei que eu nunca mais vou ver ele, tipo, nunca.
Talvez eu possa burlar as minhas próprias leis e comprar um Ouija pelo mercado negro e falar com Oliver espiritualmente, mas não estou pronta para essa conversa.
Suspiro fechando os olhos por alguns segundos antes de destrancar o armário e tentar por tudo que é mais sagrado não olhar pra foto. Eu juro que eu tentei, eu juro, mas foi impossível. Encarei a foto por cinco segundos antes de sentir o choro vindo.
Merda.
Simplesmente não conseguia sair dessa cabine, não depois de ouvir gemidos extremamente altos e selvagens. Cara, que porra foi essa? Eu estava em prantos, chorando que nem uma cadela e eu começo a escutar gente transando no banheiro feminino? É brincadeira.
Estava com medo de sair da cabine e dar de cara com os dois indivíduos me encarando como se eu tivesse cometido um crime. Eu já estava achando aquilo um absurdo sem fim, até escutar uma voz feminina — bastante ofegante — gemer o nome de Billie.
Então Billie é gay... é, já esperava. Aquela carinha de sem vergonha que ela tem já tinha entregado tudo. Porra, ela mal chegou e já está comendo uma garota dentro da cabine. Ah não ser que seja outra Billie, mas acho que é impossível.
Tomei um susto após ouvir os gemidos ficando cara vez mais altos. Haviam xingamentos e frases do tipo: "Mais rápido!" e "Vai Billie!". Deus do céu. Espera... o que eu ainda estou fazendo aqui?!
Me levanto rapidamente do vaso sanitário tampado, enxugando as pouquíssimas lágrimas que ainda restavam enquanto abria a porta da cabine. Que pro meu azar, se abriu abruptamente, batendo com força contra a porta fechada da cabine das duas garotas, o que gerou um silêncio desconfortável na hora.
Saio dali o mais rápido que pude, eu tinha quase certeza de que aquela voz era de Greta Lewis, e aquela garota é o significado inteiro das palavras "cobra", "cínica" e "falsa" (com direito a bônus). Sabia que se ela descobrisse que eu estive lá dentro, iria querer me esfolar.
Excluindo esses acontecimentos traumatizantes que acabara de acontecer, ainda não conseguia parar de pensar em Oliver, e isso já estava me esgotando.
Não que isso já não me esgote desde do dia de sua morte, mas eu estou ficando seriamente exausta. Vai fazer quase três meses que ele se foi e eu continuo tendo aquele maldito sonho. O que tem de errado comigo? Não deve ser tão difícil superar a morte de alguém, não é? Não deveria ser.
Percebi que não conseguia mais assistir uma aula sequer sem pensar em Oliver, aquilo estava me consumindo.
E eu acho que a única coisa que me fazia esquecer dele por uma fração de segundos que seja, era o café do Urth Caffe. Simplesmente a melhor cafeteria de Los Angeles! Sério, toda vez que venho aqui parece que os meus problemas somem.
Ás vezes eu esquecia que eu tinha uma bicicleta. Porra, eu tenho uma bicicleta! Como eu pude esquecer desse fator incrível? Que decepção, me lembro de passar cinco meses tentando aprender a andar de bicicleta com Ava, e depois de muito esforço, finalmente tinha aprendido.
Trancava a minha bicicleta preta — super maneira— no bicicletário com uma corrente e um cadeado que achei em casa um pouco animada com a ideia de voltar a andar de bicicleta, não sei o porquê parei de usa-lá.
Me levanto após trancar a bicicleta e vou em direção à porta da cafeteria, sério, eu amo aquele lugar.
Mal escutei o sino acima da porta de entrada tocar após eu abri-lá, porque eu simplesmente avistei Billie sentada em uma das mesas da cafeteria, rabiscando bruscamente com uma caneta preta qualquer em um caderninho aparentemente sem pauta.
Eu olho para ela por alguns segundos, extremamente confusa. Como ela veio parar aqui tão rápido sendo que a poucos minutos ela estava fudendo Greta Lewis? Isso é cientificamente impossível.
