As cartas

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''Até hoje não entendi muito bem o motivo de estarmos aqui, de existir,  de lutar para viver, mas isso não é um problema para as pessoas ao menos é o que parece já que todos vivem absortos em seu próprio mundo sem se importar com dilemas existenciais.''

  Marta se levanta da cadeira onde estava sentada e tira a folha já escrita de sua máquina de escrever, coloca a folha sobre uma pilha de outras folhas e vai até á bancada da cozinha tomar um pouco de chá, a cozinha tinha uma janela que dava para ver a rua da frente onde tinha uma caixa de correio, marta viu o carteiro deixar uma carta na caixa, assim que viu, marta deixou o copo sobre a bancada e saiu até a lá para pegar. A carta era destinada à marta, que voltou para dentro e sentou para ler a carta.

15/06/1944 -TORONTO, Canadá 
destinatário: Marta Marinho Prezeles
remetente: Maria Paixão
Olá marta eu espero que você esteja bem! As coisas aqui estão complicadas sabe, o pessoal tá com medo da guerra e tudo mais, principalmente agora com esse problema de recrutamento no exercito, eu e Helena estamos até pensando em voltar para o Brasil, mas é só uma ideia. O trabalho anda meio complicado eles são bem exigentes e meu inglês ainda não é tão bom, mas a Helena é fluente então estamos conseguido nos virar, ela é radialista em um radiojornal sobre a guerra na CBC Toronto. Sei que faz mais de dois anos desde que nos mudamos, mas eu sou meio ruim de aprender novos idiomas, ah! E outra coisa, Helena e eu estamos pensando em adotar.... isso não é incrível? infelizmente eu creio que esta carta vai demorar a chegar até você, o mundo anda uma bagunça, Helena não sabe que eu estou escrevendo para você, tu sabes como ela é né, mas enfim eu espero que você esteja bem.
Atenciosamente, Maria

Marta deixa a carta sobre a mesa e suspira - ah, maria... marta fica olhando fixamente para o nada por alguns minutos, depois pega uma folha em branco e coloca na máquina.
''Sabe a sensaçâo de que todos estão progredindo em suas vidas e você continua parada no mesmo lugar onde te deixaram? Na minha opinião uma das piores sensações do mundo. Por quê todos conseguem seguir em frente e eu continuo presa no passado? Nada de novo acontece... nada muda, é sempre a mesma coisa de novo e de novo e de novo, perdemos amores, amigos e nos afastamos de todos até de nós mesmos a vida é confusa ás vezes, e eu também sou confusa.''  
Marta retira novamente a folha da máquina e coloca sobre a pilha de folhas, olhando novamente para a carta de maria que estava sobre a mesa, marta coloca uma folha nova na máquina e começa a escrever.

25/06/1944 RIO DE JANAEIRO, Brasil
remetente: Marta Marinho
destinátario: Maria Paixão
Querida maria, eu estou bem, ando com problemas, mas apesar de tudo estou bem. Faz tempo que não recebo uma carta sua, acredito que seja por conta dos ciúmes de Helena a uns dois meses atrás eu tinha escrito para ela parabenizando  a promoção no emprego que ela recebeu, a Rachel me contou, não recebi resposta de Helena, bem vamos fingir que a carta se perdeu nos correios, acredito firmemente que helena me odeia... mas tudo bem eu realmente fico muito feliz por vocês duas, mas não entendo esse desejo nacionalista de querer sair do país, claro o Brasil não é um dos melhores lugares para se viver mas também não é tão ruim assim, tipo hoje cedo eu fui na feira e não vi ninguém apanhando na rua, sabe maria eu sinto falta de você da nossa amizade, sinto falta do Carlos, da melissa, da Rachel, da Castello sinto falta de todos. Desde que me mudei para o Rio tenho passado por uma fase meio estranha, o trabalho tá
complicado... nada que eu escrevo tá bom o suficiente eu tenho tido insônia, últimamenete eu tô bebendo sabe... não deixe de escrever para mim, me escreva sobre como anda sua vida o que você faz durante o dia, não me esqueça maria, ainda prezo pela sua amizade.
com carinho Marta.

Marta se levanta e anda pela cozinha, puxa uma cadeira que estava próxima da mesa e arrasta ela até a geladeira, marta sobe na cadeira e pega uma caixa que estava em cima da geladeira, uma caixa de aparência antiga, marta pega a caixa e coloca sobre a mesa abre e pega um envelope e selos que estavam lá dentro, pega a carta que acabara de escrever dobra e coloca no envelope e em seguida cola o selo, marta olha novamente  na caixa e vê outras cartas lá, marta pega uma carta que junto do envelope tinha um cartão postal com alguma coisa escrita atrás, marta deixa a carta na mesa e pega o cartão postal.
No cartão tinha uma paisagem de salvador e um texto atrás 'escrito:

''Querida marta, estou morrendo de saudades de você mal posso esperar para chegar em recife e te abraçar, assim que eu terminar a reportagem vou pegar o primeiro avião que for para recife, vamos nos encontrar na beira da praia... como no nosso primeiro encontro.
Com amor maria paixão.''

Marta guarda o cartão e a carta na caixa novamente fecha e coloca a caixa em cima da geladeira novamente, com um olhar melancólico marta pega a carta que acabara de escrever coloca seu ocúlos escuro passa na sala pega as chaves do carro e saí até os correios para entregar a carta.
Ás cinco da tarde marta chega em casa com uma garrafa de vinho se senta diante da máquina de escrever e começa a trabalhar, a cada frase escrita marta bebia um gole de vinho que a essa altura para ela não existia mais taça.
''Vocês querem um conselho de uma jornalista e romancista amargurada que vive uma vida de merda, que mesmo estando alcançando  seu grande sonho se afundou na própria melancolia? O amor pode machucar... machucar muito a ponto de colocar em risco seu trabalho por falar asneiras, mas mesmo assim é bonito, mas não é porque é bonito que vale a pena ser sentido porque caralho, ás vezes é foda. Vivemos uma vida miserável e poucas coisas podem mudar isso, na verdade eu acredito que nada pode mudar isso se não a morte, o ponto final de tudo... o amor é só mais um dos problemas que se enfrenta quando se existe, existem tormentos muito piores, como temer a solidão.... poucos e sortudos são aqueles que conseguem amar a solitude, pois quanto antes começar a amar tua própria companhia menos medo vais sentir quando se ver só no mundo.''
Marta para de escrever e fica olhando fixamente para a parede bege da sua cozinha enquanto toma outro gole de vinho.

As Cartas De Marta MarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora