O gato falante

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02/09/1941 RECIFE, Brasil
Maria desembarcava no aeroporto de Recife logo avista marta que a esperava com um sorriso no rosto. - marta querida, tenho tantas novidades para te contar. Antes que terminasse de falar marta já havia caído nos braços de Maria.
- Que saudade que eu estava de você maria. O sorriso com os olhos foi tudo que marta pode demonstrar naquele momento, mas o que ela desejava fazer era beijar maria, ali mesmo em meio a todos no aeroporto como se fosse a primeira vez, mas infelizmente o aeroporto estava cheio, e duas moças se beijando seria algo horrível de se ver na concepção quase geral de todos que estavam ali, marta e maria apenas trocam olhares que já diziam bem mais do que suas bocas podiam dizer. - Maria é melhor irmos para casa eu vim de carro - Ah, então presumo que o pessoal do jornal tá te pagando bem - Que nada tu sabe maria, eles só me pagam uma mixaria e olha que o jornal de pernambuco é um dos mais lidos por aqui. Mas não foi com o dinheiro do trabalho que eu comprei. Sabe, meu pai faleceu mês passado, eu escrevi para ti sobre, não lembra? Maria fica meio envergonhada mas consegue contornar a situação. - Ah! sim, é verdade, eu sinto muito, por um momento me fugiu da mente - Enfim é melhor irmos. Marta e Maria saem do aeroporto e entram no carro, marta dirigia enquanto maria admirava a paisagem e no rádio tocava O mar, de Dorival caymmi, a música fazia marta lembrar de seu pai, ele era um homem problemático era quase que genético ser problemático na família de marta. Maria desliga o rádio antes que pudessem ouvir o final da música. - Ei por quê você desligou? perguntou marta indignada.
- Essa música é entediante.
- Mas eu gosto dela maria. Marta olhou rapidamente meio impaciente para maria.
- Esse carro é bem bonito marta, você não terminou de contar como conseguiu. - Era do meu pai, como eu havia dito. Ele faleceu mês passado, me deixou o carro e o sobrado pequeno perto da praça Conde Dˋeu, mamãe ficou puta afinal a filha sapatão deveria ser deserdada da família. Marta dizia enquanto sorria de canto.
- Ah! o quarto sobrado velho da esquerda para a direita? Perguntou maria.
- Sim, esse mesmo e ele não é tão velho assim viu! tá que quando chove aparecem goteiras e a ventilação é péssima, mas nada que uma reforma não resolva.
- É talvez, mas onde você tá morando então? se lá na sua casa ainda não é habitavél.
- Eu aluguei um quarto por hora, até conseguir resolver toda essa situação da reforma e também algumas questões judiciais com minha mãe, ela não pretende abrir mão do sobrado caindo aos pedaços.
- Mas sua mãe já tem a casa que vocês moravam e as outras coisas, por quê ela brigaria por uma migalha tão insignificante como um sobrado que molha quando chove?
- Minha mãe está fazendo isso por pura birra ela quer me atingir, acredito que ela prefere me ver morta do que herdando alguma coisa da nossa família.
- E seu irmão? Carlos não é? ele se posicionou em relação a isso?
- Carlos é um piloto militar, ele não dá a mínima para as picuinhas entre eu e a mamãe, mas meu advogado disse que não vai adiantar muito recorrimento da minha mãe, então tanto faz.
- E o carro? qual é o modelo dele?
- É um cadillac fleetwoo 1940, é uma das únicas coisas boas que o meu pai me deixou. Desde que fui expulsa de casa de casa tenho passado por momentos difíceis, mas eu estou conseguindo me virar. Quem sabe eu arrumo um emprego em um jornal melhor ou sei lá, talvez um aumento. marta dá um sorriso.
- É um carro muito bonito, seu pai tinha bom gosto.

26/06/1944 RIO DE JANEIRO, Brasil Marta acorda na cama com uma dor de cabeça horrível, no canto haviam três garrafas de vinho, a noite não tinha sido nada fácil não que fosse uma surpresa até porque vinho e saudade é uma combinação desastrosa. Marta faz um café depois de ter tomado um bom banho. Sentada na mesa da cozinha marta olha a pilha de folhas algumas eram de seu trabalho no jornal, outras eram de um trabalho pessoal que ela estava escrevendo. Marta olhou pela janela até que era uma manhã bem bonita, mas infelizmente seu momento de apreciação foi interrompido pelo ronco de seu estomago. Marta levanta e procura alguma coisa para comer. - Bem nada surge do nada. Dizia marta ao olhar para todos os armários da casa vazios. - O jeito é ir comprar né, bem que podia existir um serviço de entregas. com motocicletas talvez. Marta sai de casa andando, pois, havia um mercado próximo de onde morava. No caminho bem perto da subida de uma ladeira marta avistava uma coisinha que lhe chamou muito a atenção, era um pequeno gatinho de pelo curto malhado que chorrava em meio ao capim alto da beira da rua, parecia ter sido abandonado, marta olha para o gatinho com um olhar de pena porém segue seu caminho porque a fome falava mais alto que a compaixão.
Já no mercado Marta não demora muito para comprar o que precisava, apenas pega tudo e paga no caixa, na visão de marta era preferível ser torturada por um demônio do que socializar e lidar com pessoas. (por quê as pessoas se tornam cada vez mais estranhas? Meu deus toda vez que eu saio de casa vejo mais gente estranha, claro marta se pararmos para pensar os humanos são uma doença que cada vez mais se espalha pelo mundo.) Na rua perto do mercado havia um senhor vendendo salgado, pensando com a barriga marta se aproxima e compra um salgado para aliviar a fome. Após comprar tudo que precisava e conseguir calar a ferra que estava em sua barriga, marta tomou seu caminho de volta. Dessa vez descendo marta viu o pequeno gato que continuava no mesmo lugar chorando, marta se aproxima cuidadosamente e pega o pequeno gato que pareceu se acalmar. Ao chegar em casa antes de entrar marta pega a correspondência, logo de cara ela vê uma carta que não lhe agrada nem um pouco, era uma carta oficial da FAB e uma caixa pequena, Marta olhou para a carta com tanto medo que seus olhos começaram a lacrimejar, ela entra em casa num estado de choque seja lá o que for receber cartas militares em época de guerra nunca pode ser um bom sinal. Ela pega o gatinho e o coloca numa cesta onde ficavam as frutas, em seguida se senta na mesa da cozinha. Sua máquina de escrever e os papeis que trabalhara no dia passado deixavam aparente a desorganização. Marta olha para a carta, seus pés debaixo da mesa se movimentavam rapidamente enquanto a ansiedade tomava conta do seu corpo, marta rompe o selo e abre a carta.

As Cartas De Marta MarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora