Natália desce do carro e atravessa a rua, sua pequena equipe de quatro pessoas a acompanhando a alguns passos de distância.Ela vê o irmão ali parado, bem na porta da Igreja. Ele vestia um terno azul escuro – que ela mesma escolheu pra ele – e seu cabelo cacheado estava repleto de gel. Ele sorri e a abraça quando ela se aproxima.
— Como você tá se sentindo? — ela pergunta, enquanto ajeita sua gravata.
— Nervoso. — Bruno responde com uma risada.
Natália coloca as duas mãos em seus ombros e o encara por um momento antes de dizer:
— Você tem certeza que quer mesmo fazer isso?
Bruno ri novamente.
— O quê, tá com ciúmes agora é? — pergunta e, com o rosto um pouco mais sério, continua:
— É claro que eu tenho certeza. — Ele coloca as mãos nos braços da irmã, os puxando de volta para baixo.
— Eu só queria saber — Natália diz. — Eu sei que você não é o tipo de homem que fica muito tempo com uma única mulher, mas casamento é coisa séria.
— Logo você, uma solteirona convicta, vindo falar isso pra mim? — ele diz em um tom brincalhão. — Eu sou um novo homem agora. — Ele sorri e uma covinha surge na bochecha de Natália quando ela retribui o sorriso, embora não acreditasse totalmente em suas palavras.
Ela balança a cabeça e se vira de costas, acenando para que sua equipe a acompanhasse Igreja adentro para conferir os últimos detalhes antes do início da cerimônia.
Quando o equipamento de áudio já estava perfeitamente instalado, Natália pediu licença para ir ao banheiro. Não pôde evitar sorrir para si mesma, enquanto retocava o batom frente ao espelho. Não era todo dia que seu irmão gêmeo se casava, afinal.
Sua expressão ganhou um tom mais sério quando finalmente terminou o retoque. Um barulho estranho veio de uma das cabines e, pelo reflexo do espelho, Natália pôde ver um par de sapatos batendo levemente no chão.
O som repetitivo vinha acompanhado de um choro silencioso.Ela caminhou, cautelosa, até a porta da cabine:
— Tudo bem aí? — perguntou. Imediatamente os sapatos se moveram e Natália ouviu uma fungada rápida antes da porta ser aberta.
De lá saiu uma mulher, de mais ou menos uns 40 anos, talvez um pouco menos. Ela usava um vestido longo azul e seu cabelo preto estava cacheado. A maquiagem claramente não cumpria o papel em esconder seu rosto inchado de tanto chorar.
Natália olhou preocupada para a mulher, que ainda não sabia quem era. Talvez fosse uma das convidas de Helena, ela pensou.
A mulher não disse nada, apenas passou direto por ela e foi até a pia.
— Nossa, eu tô péssima — ela murmurou para si mesma ao ver seu reflexo no espelho. Tentou inutilmente limpar o rímel borrado com o dedo.
O reflexo de seus olhos verdes encararam os castanho-escuro de Natália por tempo suficiente para deixar a fotógrafa desconfortável e com uma sensação até então desconhecida na barriga mas, por algum motivo, ela ainda permaneceu ali, parada.
— Você veio pro casamento? — A mulher disse finalmente. Agora virada de frente para Natália, ela parecia um pouco menos abalada. Apoiava as mãos na pia e segurava a bolsa com uma força desnecessária. — Que pergunta idiota. — ela balançou a cabeça — é óbvio que sim.
Por um momento Natália quase se esqueceu de como falar.
— É, — disse — eu sou da equipe de filmagem e... — foi interrompida. A porta de uma outra cabine foi aberta e uma senhora passou por elas em silêncio, fechando a porta ao sair. Nenhuma delas percebeu sua presença até o momento.
Quando ficaram de fato sozinhas, as duas riram, mesmo que não houvesse graça alguma.
— Natália. — Ela estendeu a mão e logo descobriu que a mulher misteriosa se chamava Carol e que tinha o aperto de mão mais suave que ela já vira.
— Equipe de filmagem, hum? — Carol diz, com um sorriso no rosto mas seus olhos permaneciam tristes.
— Você é convidada da noiva? — Natália pergunta.
— Eu nem deveria tá aqui na verdade. — Carol olha para o chão, seus pensamentos viajando para um lugar distante dali.
— Penetra? Eu devo chamar os seguranças? — Natália brinca arrancando um leve sorriso da outra mulher.
— Não exatamente — ela diz. — Mas você não quer saber dessa história.
Natália olha para o relógio em seu pulso.
— Ainda falta muito pra cerimônia e... você tá com cara de quem precisa desabafar.
Ao ver a hesitação em seus olhos, continua:
— Eu sei que eu não te conheço, mas eu realmente gostaria de te ouvir. Se você quiser.
Carol suspira alto e depois de um tempo em silêncio, vai até a porta. Ela abre, olha do lado de fora e fecha, passando a chave.
Talvez Natália devesse sentir medo de estar presa sozinha no banheiro com uma desconhecida, mas o fato é que ela não sentia.
— O Bruno, — Carol começa — o noivo, você provavelmente conhece ele né?
Natália apenas balança a cabeça. Essa era a hora de ela dizer que ele era seu irmão mas, por algum motivo, as palavras resolveram lhe abandonar.
— A gente... — Carol faz uma pausa. — A gente tinha um relacionamento.
Ela continua quando Natália não diz nada, as palavras saindo em meio a um mar de lágrimas.
— Ele dizia que me amava, sabe? Que ia largar a namorada pra se casar comigo. De repente ele termina tudo e ainda tem a coragem de me enviar um convite pro casamento.
Natália quase não conseguia controlar o ódio que sentia por seu irmão naquele momento. Ela queria dizer algo mas simplesmente não conseguia. As palavras pareciam estar presas em sua garganta. Ela se aproxima de Carol e coloca uma mão em seu ombro.
— Eu sei o que você deve tá pensando — Carol diz. — Que tipo de mulher se presta a esse papel, não é?
Natália balança a cabeça negativamente, ela própria quase não conseguindo segurar as lágrimas e, com as costas da mão, limpa uma gotícula na bochecha de Carol. — O tipo de mulher que foi enganada por um idiota. Você não tem culpa de nada, ok?
Natália oferece seu ombro e Carol desaba. As duas ficam ali, por sabe-se lá quanto tempo.
— Eu deveria ir embora. — Carol diz, já mais calma. — E você tem um casamento pra filmar.
— Eu já não tenho tanta certeza disso.
— Não, que isso — Carol diz, séria, enquanto enxugava o rosto com as mãos — É o seu trabalho, você não pode abandonar isso por causa de um desabafo de alguém que você nem conhece.
Natália queria que fosse simples assim.
— Olha — ela diz, tirando um cartão de dentro de sua bolsa. — Pode me ligar, se precisar conversar. De verdade.
— Obrigada. — Carol sorri. Ela passa pela porta, deixando Natália sozinha com mil pensamentos em sua cabeça.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Enchanted | au narol
FanfictionNatália, uma solteirona convicta, comanda uma equipe de filmagens de casamentos. Enquanto se prepara para cobrir o casamento de seu irmão Bruno, ela conhece Carol, a ex amante do noivo.