II

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San não havia decifrado suas emoções,mas sentiu o vazio trincar seus olhos vitrais. O misterioso animal desapareceu e deixou consigo o enigma da presença anelada.

A confusão apertou em seu peito e afundou o corpo sob a água,levando o mesmo a despertar novamente com o perigo. Ao abrir os olhos,encarou as construções de mármore refinado e uma comunidade que o aguardava com carinho.

O garoto forçou os braços sobre o mármore e sentou na estrutura limpa,suas roupas continuavam secas e a lua começava a desaparecer,deixando o céu em um tom azulado e o vento gélido da manhã. Algumas casas se encontravam ao redor do que chamavam de altar,exatamente onde San tomava a total consciência.

O local tinha um chão polido,pilastras decoradas de folhagens e tinha um formato oval ao redor das escadas que o mantinham suspenso. Por cima do ombro,o cisne encarou um casarão que brilhava de forma cintilante,as roseiras deixavam o ambiente encantador.

Uma escada longa levava até sua porta de entrada relativamente grande,uma fonte decorava ao centro e carregava o musgo consigo. As águas cristalinas acompanhavam a luz quente que emanava das janelas,era perceptível os lustres dos corredores. O telhado desenhava alguns seres no mármore,mas San não saberia decifrar,apenas afirmava que seria belo.

Uma senhora se aproximava com passos lentos,chamando a atenção dos moradores que se despertavam e levavam a curiosidade para o garoto. Os sorrisos o saudavam,mas nenhum deles era interessante aos olhos do mais novo.

— O que houve,querido? — A voz mais velha ressoou educadamente,acariciando o ombro do rapaz. — Este olhar perdido não o pertence.

San não respondeu,continuaria inquieto pelas longas horas que passaria ali. Buscava com atenção pelo tal garoto de olhos de sangue,mas ninguém saberia dizer.

A mulher de cabelos grisalhos guiou o mais novo por toda Albireo,ou apenas a parte que achavam segura. Poucas palavras eram trocadas,o suficiente para se comunicar e alertar que seu quarto o estaria esperando dentro do casarão.

O cômodo era pequeno e foi brevemente apresentado pela senhora de escamas no pescoço. As velas aromatizadas deixavam o ambiente aconchegante e em breve,tudo seria levado consigo.

— Por que todos possuem olhos de vidro? — San questionou confuso,abaixando o olhar para encontrar a mulher. — Quem são as íris negras que vagam pela floresta?

— Está falando da fauna? Ela é mesmo intrigante,ninguém sabe dizer. — A mais velha gargalhou.

— Não era um animal. Tinha feições humanas e olhos escuros,escleras avermelhadas e desapareceu sem aviso prévio.

— Oh! Deve se referir aos descendentes de Deneb! Não soube de sua chegada... — O garoto a acompanhou em suas caretas que tentavam se lembrar de algo impossível,deixando um clima sem graça. — Não se apegue a criatura estranha,é impossível a acompanhia de outro ser em seu local de nascença.

— E quem são os descendentes de Deneb?

— Ficamos felizes que tenha a curiosidade de conhecê-los,são nossos vizinhos! Agora descanse,pequeno.

A mulher que aparentava ser a conselheira do local desapareceu atrás da porta,arrancando as palavras do garoto. San poderia sentir a distância das respostas,mas não poderia conter a curiosidade dentro de si.

O dia passou lentamente,poderia ser somente impressão de passar o dia encarando a confusão da mente vazia. Sua única lembrança era o garoto da noite passada,que não possuía nome e nem a presença confirmada.

San desperdiçou o tempo pelo casarão,tagarelando palavras que logo formavam uma canção. Ao fim de tarde,enterrou o rosto nos livros que fingia ler para ouvir conversas alheias.

Soube que durante o evento de nascença,são três dias que se passam mais lentos e aproveitam a oportunidade para que festejam pela noite alongada. São oportunidades que pode levar anos a ser concebida novamente.

Albireo era uma terra de beleza extraordinária,mas pouco se fazia naquele espaço. Seu destino era descansar,permanecer na tranquilidade conforme o astro oferece e tudo acabava sendo sem graça aos olhos solitários.

As almas não sentiam fome,apenas desfrutavam do paladar doce dos frutos em colheita pela sensação de pertencimento. O sono também era dispensado,desnecessário quando se perde nos pensamentos que circulam sem controle.

San se sentia inquieto,como uma criança que acaba de receber o mundo nos braços. Os olhos de vidraça percorrem por todo o território,esperando encontrar o único motivo que te tornou vivo por alguns segundos.

Pelo céu era de se notar o astro vizinho opaco,Deneb encarava o dia e a noite ocorrendo ao mesmo tempo. As casas feitas de cristais refletiam os feixes e Wooyoung encarava os efeitos colaterais da volta de Albireo.

As roupas suadas grudavam em seu corpo e faziam o garoto encarar a estrela ao longe com determinação. Seu depoimento foi levado ao conselheiro que lhe entregou um pêndulo de proteção,torcendo aos céus que não fosse punido.

A saída da caverna levava ao pico da montanha,onde Wooyoung descansou os pés pela altura intimidante,balançando os membros enquanto encarava o colar de jaspe vermelha em seu peito.

Ele descumpriu as regras e continuaria assim,ele tinha consciência disso e além de tudo,sabia que pagaria de qualquer forma.

O cisne negro recolheu a pena esbranquiçada de seu bolso,voltando a sentir tudo novamente e uma idéia se expandiu em sua mentalidade bagunçada. Mais uma vez,ignorando as preces de um sistema de limitação.

Era assim que Wooyoung encarava o fim da vida: limites sem sentidos,acorrentados por mentiras fajutas e uma ilusão momentânea que intitulam de felicidade.

Preso perante o passado,o ascendente do cisne levaria consigo toda a dor,que um dia trincou os olhos vazios de seu encanto excitante.

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