Amor Inabalável (ChengXi)

Parte 2/ final

Jiang Cheng ficou imóvel por alguns minutos, incrédulo. O único som que se ouvia era o vento balançando seus cabelos soltos.

— A-Cheng... — murmurou Lan Xichen, apreensivo com a reação de Jiang Cheng.

— Você... Isso... Não é possível... Estou ficando louco? Eu ouvi certo? — murmurou Jiang Cheng, mais para si do que para o outro.

— É verdade! Por favor, acredite em mim. Não estou mentindo! — exclamou Lan Xichen.

Jiang Cheng passou a mão pela testa, tentando processar. Um homem grávido... Como isso podia ser fácil de aceitar? Como lidar com aquilo? Como daria o apoio que Lan Xichen precisava?

— Você pode repetir o que disse? — pediu Jiang Cheng, ainda sem acreditar completamente. O líder Jiang estava à beira de enlouquecer com toda aquela situação. Esperava ouvir qualquer coisa naquela noite: que Lan Xichen não o amava, que estava doente ou que queria ir embora com outra pessoa. Mas nunca imaginou que Lan Xichen poderia estar esperando um filho seu.

— Eu... Eu estou grávido — repetiu Lan Xichen, desviando o olhar para o lago, encarando a lua. Não conseguia encarar Jiang Cheng, com medo da reação que ele pudesse ter.

Lan Xichen estava com medo. Medo de não ser aceito, de ter sido imprudente, de ser responsabilizado por aquela situação inesperada. E ainda havia o fato de ter mantido aquilo em segredo por tanto tempo.

O Lan foi tirado de seus devaneios ao sentir uma mão trêmula tocar sua barriga. Os olhos de Jiang Cheng estavam cheios de lágrimas. Era a primeira vez que Lan Xichen o via chorar, e também a primeira vez que não conseguia ler suas emoções.

— Eu sinto... Eu realmente sinto — disse Jiang Cheng, sorrindo entre lágrimas que teimaram em cair. Ter Lan Xichen ao seu lado já era algo maravilhoso, mas agora teria uma parte dele em outro ser. Isso só podia ser um presente dos céus. Em nenhum momento, Jiang Cheng duvidou das palavras de Lan Xichen. Ele era um Lan, e um Lan nunca mentiria sobre algo tão importante.

— A-Cheng... — sussurrou Lan Xichen, enquanto suas mãos se uniam às de Jiang Cheng.

Era a primeira vez que Jiang Cheng sentia o núcleo de vida que crescia dentro de seu amado. Era algo mágico, encantador, para ambos.

Os olhos de Sandu Shengshou se fixaram nos de Lan Xichen. Aqueles olhos claros estavam mais hipnotizantes do que nunca naquela noite, e o sorriso que Lan Xichen deu era de uma beleza indescritível. Zewu-jun era incrivelmente atraente, e Jiang Cheng se sentia afortunado por tê-lo em sua vida.

Sem se conter, Jiang Cheng aproximou-se e selou os lábios de Lan Xichen em um beijo suave e profundo.

Mesmo no meio daquele momento agradável, Jiang Cheng não conseguia conter as lágrimas. Suas mãos ainda tremiam, assim como seu corpo. Uma notícia dessas era totalmente inesperada. Desde que se casaram, nunca imaginaram ter filhos. Primeiro, porque Jiang Cheng acreditava que homens não podiam engravidar. Segundo, porque sempre achou que não seria um bom pai. Depois de criar Jin Ling, havia decidido que essa responsabilidade estava além de suas capacidades, por ser rígido, grosseiro e impaciente. Mas agora, ao descobrir que o homem que amava estava esperando um filho seu, Jiang Cheng não conseguia parar de pensar que talvez pudesse se tornar alguém melhor.

Depois de algum tempo, os dois ficaram com as testas encostadas, os olhos fechados, sentindo apenas a respiração um do outro.

Ninguém sabia quanto tempo haviam passado assim.

— Você está triste comigo? — perguntou Lan Xichen, rompendo o silêncio, ainda aflito por não terem conversado mais sobre o assunto.

— Triste? Por que eu estaria triste, Xichen? Ter uma parte de você perto de mim só pode ser um sonho. Não vou mentir, fiquei surpreso, mas isso não significa que não tenha gostado — respondeu Jiang Cheng, sorrindo de uma maneira que fez Lan Xichen corar levemente. Foram poucas as vezes que Lan Xichen viu Jiang Cheng sorrir de forma tão genuína e bela.

Lan Xichen sorriu com ternura. Jiang Cheng era tão adorável que ele desejava que o bebê nascesse exatamente igual.

— Estava tão preocupado... Tive tanto medo de que você não nos aceitasse...

— Eu te amo. Como poderia não te aceitar? Como poderia não aceitar o nosso filho?

As palavras de Jiang Cheng fizeram os olhos de Lan Xichen se encherem de lágrimas. Talvez fossem os hormônios da gravidez, afinal, alguns sintomas já estavam aparecendo. Ou talvez fosse apenas o amor avassalador que sentia, capaz de fazer com que qualquer palavra de Jiang o emocionasse.

Jiang Cheng levou a mão ao rosto de Lan Xichen e, com carinho, limpou a lágrima que havia caído. Com um tom mais firme, disse: — Não chore, não gosto de te ver chorar.

— São lágrimas de alegria, A-Cheng... Tive tanto medo de perder nossa família. Como não chorar ao saber que você nos aceita?

Jiang Cheng apenas assentiu e se afastou um pouco, deitando a cabeça no colo de Lan Xichen. Fechou os olhos e sentiu o perfume de seu amado. Aquele era o segundo melhor momento de sua vida; o primeiro foi quando finalmente se casaram.

Lan Xichen olhou para o céu, fechou os olhos e sorriu, agradecendo silenciosamente por tudo o que tinha até ali.

— Isso foi inesperado, mas não é algo ruim. Eu só queria que eles soubessem disso agora — comentou Jiang Cheng, pensando em seus pais. Como Madame Yu reagiria? Provavelmente ficaria enlouquecida e perguntaria porque Lan Xichen não contou antes, enquanto Jiang Fengmian tentaria acalmar a situação. Já Jiang Yanli abraçaria ambos, desejando o melhor para o bebê...

Lan Xichen pensou na reação de seus próprios pais. Sua mãe provavelmente riria de tudo antes de lhe dar um abraço apertado, prometendo estar ao seu lado. Quanto ao seu pai, ele ficaria em silêncio, tentando assimilar tudo, mas não o culparia por ter sido imprudente.

— Onde quer que estejam, eles sabem. Nossos pais vão proteger nosso filho, eu acredito nisso — disse Lan Xichen, com uma emoção agridoce e reconfortante.

Jiang Cheng olhava para Lan Xichen com amor estampado em sua face. Não importava o que viesse pela frente, ele estava disposto a enfrentar. Não importava o que dissessem ou tentassem fazer, ele protegeria seu marido e seu filho.

— Sei o que está pensando — disse Lan Xichen, desviando do tom melancólico. Conhecendo bem seu parceiro, tocou a ponta do nariz dele e brincou: — Você sempre vai nos proteger, A-Cheng, mas pare de se referir ao bebê como " filho”. Pode ser uma menina.

— Seja o que for, menino ou menina, será amado da mesma forma.

Lan Xichen sorriu amplamente e concordou: — Hum, A-Cheng está certo.

— Vou preparar um banquete. Convide todos que você achar importante. Daremos a notícia ao mundo da cultivação. YunmengJiang terá um herdeiro!

Lan Xichen franziu a testa, ligeiramente incomodado: — Apenas YunmengJiang? Ele será herdeiro do clã Lan também.

— Bom, se o velho Lan não tiver um desvio de Qi ao descobrir... Não sabemos se ele aceitará.

— Ele vai aceitar. Mas eu realmente não tinha pensado nisso... Como vamos contar ao meu tio? E ao Wangji... Eles vão achar que enlouqueci por não ter me cuidado.

— Não pense nisso agora — Jiang Cheng se levantou e estendeu a mão para Lan Xichen, que se ergueu cuidadosamente.

Em pouco tempo, Lan Xichen sentiu-se como se estivesse flutuando. Jiang Cheng o pegou nos braços e caminhou em direção à habitação dos dois, enquanto Lan Xichen tocava sua Xiao, uma melodia suave que parecia ecoar a felicidade que sentiam.

Ele preferiu nem imaginar como seria o caos quando Lan Qiren descobrisse...

Mas, de uma coisa Lan Xichen tinha certeza: seu filho estaria sempre seguro.

Tendo os mais poderosos líderes de clãs como pais, e tios tão formidáveis como Lan Wangji e Wei Wuxian, aquele bebê estaria cercado por uma fortaleza de proteção. Além disso, outras figuras importantes também zelariam por ele: Jin Ling, com sua lealdade feroz, Wen Ning, o Fantasma Gentil, sempre à espreita, pronto para agir, e até mesmo Lan Qiren, cuja sabedoria e senso de dever não permitiriam que nada ameaçasse seu sobrinho-neto.

A vida, por vezes, surpreende com reviravoltas inesperadas, mas nem todas as surpresas são amargas. Algumas, como essa, florescem com a promessa de algo grandioso e belo.

O amor, quando verdadeiro e inabalável, é capaz de superar qualquer adversidade.