Os dias seguintes foram de paz.
Eu continuei com minha rotina entre a faculdade e meu trabalho. As coisas estavam calmas, porque meu próximo compromisso fora da cidade era apenas daqui três semanas.
Compromissos distantes significavam o mínimo de tranquilidade, o que era muito bem-vindo para mim quase sempre.
Durante esse período, eu estabeleci um objetivo claro: achar outro lugar para morar que não fosse um quarto de hotel.
Poderia ser besteira, mas queria de fato decorar um lugar com a minha cara, ter o trabalho de pensar nas paletas de cores e tudo mais que jovens de 23 anos faziam quando conquistavam a independência financeira — coisa que eu já tinha há um tempo.
Me prendi a ideia de que ter uma moradia fixa seria o primeiro passo para a estabilidade.
Focada nesse objetivo, por volta das 19 horas de uma sexta-feira, quase uma semana depois do show, eu estava procurando imobiliárias no meu Instagram pessoal — que só tinha amigos, sendo que os famosos como o Castiel e outras modelos também usavam o Instagram privado — quando um perfil foi sugerido.
“Lynn_d2”
Automaticamente cliquei no perfil. Na biografia tinha uma música da Taylor Swift, uma cantora que eu conhecia duas ou três músicas no máximo. Desci o feed vendo muitas publicações; lynn era ativa no Instagram. Algumas com seus pais, outras dela sozinha ou com amigos, fotos de paisagens…
Em uma delas, Lynn estava no pátio de uma universidade que supus ser sua antiga, sorrindo ao lado de uma estátua. Vestia um vestido florido longo azul escuro. Parecia feliz e exalava carisma.
Desde aquele sábado a noite, eu pensava constantemente em como as coisas mudaram desde o ensino médio e em como Lynn havia sido incrível e gentil comigo. Não tirei da minha cabeça por um dia sequer seu olhar preocupado, nem sua compreensão diante do meu transtorno alimentar.
Ela não fez um discurso genérico, não insistiu no assunto... E só me ajudou.
Talvez ser tão tocada por algo tão simples mostrava que eu era acostumada com tratamentos ruins. O mínimo de respeito não era o mínimo, uma vez que quase ninguém se preocupa em ser sensível em situações assim.
A curiosidade fala mais alto. Assim como estava gritando (falando seria discreto demais) enquanto eu olhava o perfil dela.
Fui descendo mais a página que parecia infinita, olhando cada publicação com atenção e lendo todos comentários. Me sentia estranha por me divertir lendo suas respostas ou só admirando suas fotos, como uma stalker. Mas isso não me fez parar.
Numa das publicações, ela estava sorrindo abraçada com uma moça de traços asiáticos de cabelo castanho escuro e longo. A legenda era um simples coração vermelho.
Desci mais publicações e foi aí que as peças começaram a se juntar. A moça em questão, que aparentemente se chamava Mary, havia deixado pelo menos um comentário em cada publicação entre dezembro e junho do ano retrasado.
Seus comentários eram sempre parecidos:
“linda minha gatinha💞”
“tenho muito orgulho da minha garota”
“lynn, você é a mulher mais linda que já pisou nesse planeta ❤️🩹”
As respostas da Lynn sempre iam pelo mesmo caminho. Ergui as sobrancelhas, me levantando de uma vez da cama onde estava deitada. Mesmo que sutis, aqueles elogios pareciam diferentes de todos os outros.
Obedeci meu instinto e entrei no perfil da outra garota. Ela era bonita, tinha um estilo gótico e cursava cinema. Rolei o feed até junho, ignorando todas as outras postagens, quando uma foto me chamou atenção. Era ela e a Lynn, em um festival de música.
Mary usava a mesma jaqueta que Lynn me emprestou semana passada, que apesar de preta era reconhecível graças ao seu corte único. Vi pelo reflexo do espelho a peça de roupa que estava pendurada no meu cabide, esperando para ser devolvida.
Infelizmente, eu entendia de rolos sáficos que fracassavam. Eles sempre tinham a mesma configuração, porque romances sáficos às vezes se prendiam a esteriótipos, do mesmo jeito que héteros também.
Existe a trágica história das sáficas que se apaixonam perdidamente na adolescência, mas que terminam porque um dos pais descobrem e obrigam elas a se afastarem.
Existe o clichê do namoro de dois meses seguido de morar junto. Existe o relacionamento à distância.
Enfim, eu também sabia distinguir elogios de "bests" e de namoradas.
Pesquisei o user da Lynn nos seguidores da tal de Mary e…
Elas não se seguiam mais!
Bingo.
Será que a Lynn era bissexual? Ou pan? Ou até mesmo lésbica, quem sabe?
Nunca ouvi o Castiel comentar sobre nada do tipo e ele a conhecia bem. Mas não é impossível que ela tenha se descoberto, assim como eu. Nem sempre o processo de autoconhecimento ocorre de maneira linear.
Respirei fundo. Aquela busca estava indo longe demais e mesmo assim não conseguia controlar minha curiosidade, mesmo que eu não fosse alguém intrometida. Só sentia de um jeito exagerado que precisava de respostas.
Por que eu queria tanto saber da vida dela? O que Lynn ser ou não lgbt ia mudar na minha vida?
Saí do perfil da Mary e voltei para o da Lynn. Dessa vez, não voltei para o feed. Ao invés disso, cliquei no botão de seguir e deixei o celular de lado.
Nada que uma skincare não fosse capaz de tirar da minha cabeça. Fui até o banheiro da suite e me olhei. Comecei minha rotina focando em esfoliar a pele em círculos idênticos como sempre fazia. Depois de terminar, voltei para o quarto e fui até a penteadeira pegar um creme hidratante para usar.
Peguei o celular que brilhava com uma notificação na tela.
“Lynn_d2 pediu para seguir você”
Respirei fundo e aceitei a solicitação. Meu perfil privado agora não era mais privado para ela. Quase uma hora se passou desde que iniciaram-se minhas “buscas”.
Decidi pensar racionalmente pela primeira vez na noite e concordar que isso não era grande coisa, mas minha inquietude não me deixava mentir.
Lynn me deixava nervosa e me fazia agir como uma stalker obcecada. O que estava acontecendo?
💞
N/A: esse capítulo vai ser uma espécie de transição. Prometi que dias melhores virão e eles estão próximos!!! Finalmente elas terão mais interações fora de momentos caóticos, onde vão se conhecer melhor. Aguardem❤️
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show me how | Ambre Carello⚢
Fanfic"Ambre, antes conhecida por ser uma loirinha metida e imatura, mudou muito após a conclusão do ensino médio; entre as cicatrizes de uma família problemática e as suas próprias batalhas internas, ela enterrou seu antigo eu com êxito. Acontece que, no...
