The Only Thing Missing

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Dezembro sempre foi o melhor mês de todos os anos.

Desde que me entendo por gente, dezembro é aquele mês em que as ruas ganham vida com cores e enfeites, não importa onde você esteja no mundo, seja Coréia do Sul ou Porto Rico, Inglaterra e México, você vai ver um boneco com vestes vermelhas, e uma barba branca como algodão. As luzinhas piscantes transformam as cidades, as árvores viram obras de arte decoradas, e os bonecos de neve parecem mais felizes do que as crianças ganhando presente na véspera de Natal. Essa ironia sempre me arranca risadas. Lembro de uma vez em que minha sogra contou sobre passar o Natal no Brasil com a família, e meu namorado com doze anos de idade soltou: "Como esses bonecos de neve aguentam esse calor? Eu tô derretendo aqui!"

Para muitos, o Natal carrega um significado religioso, simbolizando o nascimento da figura em quem depositam sua fé. Para essas pessoas, a temporada é mais do que apenas presentes e festividades; é um momento de conexão espiritual e a busca por bênçãos associadas a essa fé. No meu caso, natal é a época que conseguimos ser felizes "apesar dos apesares''. Criamos tradições e as compartilhamos (assim como neve no calor), sem nos preocuparmos com o dinheiro gasto em amigos secretos, troca de presentes, decorações, biscoitos para o Papai Noel, e mais. Até depositamos uma certa crença em um velhinho de roupa vermelha. Consumimos músicas e filmes natalinos, vestimos roupas temáticas, porque de alguma forma, isso nos proporciona conforto e confiança de que tudo ficará bem, afinal, tudo dá certo no Natal.

Pelo menos foi assim que comecei a pensar depois que conheci Jake.

Fui criado pela minha tia, irmã da minha mãe, e para ela, o natal nunca existiu. Era mais fácil pensar desse jeito para economizar, ainda mais quando você tem três filhos e mais um sobrinho para cuidar. Você não precisa gastar com mais comida, presentes e muito menos na decoração da casa, até porque, quem paga horrores de dinheiro para enfeitar uma árvore artificial? Pelo menos, era assim que eu pensava até conhecer meu namorado, Jake.

Eu odiava saídas de campo. Eu não sei porque os professores cismam de colocar passeios no final do segundo semestre, ninguém funciona no final de semestre, ainda mais perto das festas de fim de ano! O que essa velha quer? Que comentamos sobre a história sul coreana com o papai noel do nosso lado? Odiava também porque eu estava completamente sozinho. Fazer pedagogia era péssimo por duas coisas: 1. se você fosse homem, você provavelmente será o único nas aulas, ou talvez um dos únicos 2. todos que faziam licenciatura cairiam a qualquer momento no curso, e isso era um saco pra mim porque eu tinha que lidar com o pessoal de física, se achando superior a qualquer um, porque entende os filmes da Marvel.

No caso de hoje, era uma mistura dos dois.

A professora de Educação Museal decidiu de última hora uma saída de campo, para finalizarmos a aula do semestre com uma grande comemoração: ir no museu mais famoso de Seoul, talvez, da Coreia do Sul. Podíamos dizer não? Não! Valia praticamente toda a nossa avaliação do semestre.

— Meninas, - a professora me encara — E Lee Heeseung, - solta uma risada nasal — Vamos esperar até a outra turma chegar, e assim entrego os bilhetes da entrada.

O murmúrio das minhas colegas de classe fez com que a professora, sra. Hwang, percebesse o incômodo que estava causando. Esperar a turma da disciplina universal que ela também leciona era tortura.

— O irmão da Yoon é da outra turma, - Seolya se aproxima — A Sieun me contou.

— Ah. - tentei não mostrar interesse, prestes a me afastar.

— Eles moraram no exterior né, lá eles são mais liberais - ela continua — Ele deve gostar da mesma coisa que você.

Se ser o único menino na maioria das turmas de pedagogia já era difícil, imagina você também ser gay assumido.

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