Perla Samaras
Enquanto caminho posso sentir a água gelada do mar tocar os meus pés, pego me olhando para o por do sol, acabando assim com o último dia de verão, último dia antes de todo inferno começar novamente. De longe consigo ver alguns golfinhos pulando para fora da água, as vezes penso que consigo entender eles, mas isso seria loucura, certo?
Desde nova sempre tive a impressão de que conseguia entender o que eles diziam, contei para a minha tia uma vez e ela me disse que eu não deveria contar isso a ninguém, pois iriam achar que eu era louca e teria que me mandar embora, então eu fiquei com medo e nunca mais toquei no assunto até um dia, até o dia que eu resolvi contar para a minha antiga melhor amiga, Valentina, no outro dia eu era o assunto do colégio, e ninguém nunca mais queria falar comigo, inclusive Valentina, ela mesmo se deu o trabalho de criar um apelido para mim, aberração do mar, por um tempo eu chegava em casa aos prantos, mas depois de um tempo, depois de muita terapia, tipo muita mesmo, parei de me importar.
Faltam exatamente 1 mês, 9 dias, 8 horas e 32 segundos para o meu aniversário, minha tia sempre me falou que no momento que eu completasse 18 anos, tudo iria mudar, mas ela nunca disse se era para bom ou ruim e sinceramente não me importo, não pode ficar pior que já está.
Todos os dias que eu posso eu venho para cá, caminhar perto mar, me acalma, sempre senti uma conexão imensa com o mar, mas não só com o mar, com a natureza também, em especial cobras, amo, eu tenho duas de estimação, Jade e Rubi, duas irmãs, achei as duas uma vez quando fui andar na floresta perto do Hotel, estavam machucadas, então cuidei delas e depois disso nunca mais quiseram ir embora.
- Eii, aberração do mar, já vai para a sua casa? - Ouço uma voz junto a outras risadas atrás de mim, mas não faço questão de virar para olhar para trás, ao contrário disso continuo caminhando na tentativa de me que a pessoa me deixe em paz - Além de aberração é surda agora? - Mais uma vez ignoro, até sentir uma mão no meu ombro me fazendo virar e olhar quem é o dono da voz - Não respondeu a minha pergunta...- O garoto de cabelos escuros, olhos castanhos, corpo definido, lábio rosado, e não posso esquecer nariz empinado fala mais uma vez se referindo a mim mas continuo a não falar uma palavra.
- Deixa ela Tristan, deixe ela ter o último dia de paz, por que os que estão por vir vão ser os piores da vida dela - Falou a menina idêntica ao garoto que se referiu como Tristan.
- Sabe como estragar uma diversão querida irmã, aproveite o tempo que te resta aberração - Passa por mim batendo no meu ombro e a irmã com um olhar mortal para cima de mim.
Faz um tempo que desisti de ir contra eles, deixo eles falarem o que eles querem, deixo eles falarem tudo, e não digo uma palavra, li em um livro uma vez quando o seu inimigo tenta te intimidar com alegações e profanações e você não fala um a ele começa a ficar incomodado por si próprio, por não estar revidando, por não ter nenhum efeito, então bem, comecei a testar, e está dando certo até o momento, sinto o celular vibrar em meu bolso, olho a tela e é a a minha tia pedindo que eu vá para casa antes de escurecer, ultimamente minha tia anda muito protetora e controladora em relação aos horários, eu ainda não me acostumei pois ela nunca tinha sido assim antes mas agora, cada vez que chega mais perto de meu aniversário piora, já tentei a questionar uma vez mas ela sempre diz que o mundo está ficando cada vez mais perigoso.
Não julgo as suas regras, pois ela sempre deu tudo o que eu queria, sempre me protegeu, foi como uma mãe para mim, na verdade ela é minha mãe depois da minha, minha mãe morreu enquanto me dava a luz, me sinto culpada as vezes, se não fosse por minha culpa ela nunca teria partido, as vezes penso que tudo seria mais fácil se eu não existisse.
Vou para casa pelo caminho mais curto, tenho uma sensação de que eu estou sendo seguida mas não consigo saber pelo o que, cada minuto eu caminho cada vez mais rápido, até escutar o barulho de um galho quebrando bem atrás de mim, eu olho para o chão para ter certeza que não fui eu que quebrei mas sinto uma respiração pesada no meu pescoço, com isso todos os pelos do meu corpo se arrepiam, sinto um calafrio em minha barriga, eu quero virar para ver o que é mas não consigo, meu cérebro me diz para correr, meu coração me diz para virar mas meu corpo não obedecia nenhum e nem outro.
- Adivinha quem é? - Sinto as mãos sendo colocadas sobre os meus olhos e reconheço a voz de imediato, quando reconheço a voz, tiro suas mãos na mesma.
- VOCÊ ESTÁ LOUCO? QUERIA ME MATAR DE SUSTO? - Avanço furiosa dando socos no peitoral do garoto
- Calma Perla, era apenas uma brincadeira - Segura as minhas mãos rindo
- Uma brincadeira de muito mal gosto, imbecil - Solto as minhas mãos das suas e volto a andar a caminho de minha casa
- Sabe, gostei de ver o seu lado mais agressivo, me excita - fala passando o braço por meu pescoço, mas tiro na mesma hora
- Vai se fuder Atlas, eu tive um ataque do coração ali, idiota - Falo enquanto destranco a porta de minha casa
- Não precisa me ofender meu amor, você já me tem - fala me abraçando por trás
- Vem cá Atlas, você não deveria estar na sua casa não? Aqui ninguém abriga sem teto não
- Bem, eu pensei que poderia vir fazer uma surpresa para a minha linda namorada, mas já que está me expulsando vou embora - começa a fazer drama
- Se você passar por aquela porta eu mato você
- Está me pedindo para ficar então?
- Talvez - falo subindo as escadas em direção ao meu quarto
- Vou levar isso como um sim - Ouço sua voz me seguindo
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A Filha Proibida
Teen FictionDesde o princípio dos tempos, os deuses do Olimpo caminharam entre os humanos, mas alguns amores proibidos foram mantidos em segredo. No auge dessa história, Poseidon, o senhor dos mares, e Medusa, a mortal cujo olhar transforma tudo em pedra, tiver...