escrevo porque não vejo saída a não ser escrever.
escrevo porque tenho medo do que pode acontecer caso eu não transforme o que eu sinto em escrita.
escrevo para transformar a dor dos acontecimentos em algo além de dor.
quero escrever todos os dias, mesmo que isso me deixe amedrontada, envergonhada, humilhada, desencorajada.
isso porque eu sinto que escrever me ajuda a atravessar a dor e eu sei que quando atravessar, vai valer a pena, não há garantia, mas eu acredito nisso.
quero sair do lugar inerte e incômodo de ficar observando de fora o que a dor faz dentro de mim e quando escrevo ao menos sinto que não estou de fora, estou imersa e as palavras dão um contorno, constroem uma borda em que eu posso me apoiar e olhar pro abismo.
mergulhar no abismo parece assustador, mas o que existe lá? talvez ao ser engolida pelo abismo, eu possa encontrar um chão.
o chão que pode me partir em pedaços, me estilhaçar, mas também pode me impulsionar, se tornar fértil e se fazer solo para eu fincar raízes e fazer florir.