2 - Brisa de verão

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- Mais uma! -  a jovem moça pediu ao bater o copo de metal no balcão da taverna.

- Eu nunca a vi beber tanto assim, Julla - disse o taverneiro - As ruas podem ser perigosas até mesmo pra você se sair embriagada por aí 

Ele pegou o copo e o encheu na torneira do barril, a grossa cerveja preta descia enquanto a moça esperava, um pouco impaciente. Antes mesmo dele dar o copo, Julla o tomou de sua mão e tentou beber tudo em apenas um gole. Wyllem, o taverneiro, viu aquilo com certo orgulho, a garota sempre o surpreendia em suas bebedeiras.

Quando ela terminou seu copo, suas bochechas já estavam coradas, ela soltou um suspiro e apoiou sua testa no balcão. Ficou daquele jeito por alguns segundos, ouvindo a gritaria e festejo dos homens nas mesas ao fundo, eram também do Bando de Rayn, estavam cantando e berrando  desde o início da noite; um tocava o alaúde, o outro batia no tambor, os outros cantavam, dançavam, bebiam.

A canção estava era cantada com muito gosto, era uma homenagem ao líder dos mercenarios. A honrosa canção terminava e os bêbados puxavam mais uma em coro. Jull estava de olhos fechados, com sua bochechas apoiada no balcão. Claramente ela se sentia bêbada e sonolenta. Seus instintos perceberam que alguém se aproximava dela. Quando abriu os olhos levemente, viu um rapaz novo com uma feição de insegurança, era Lohan, o novato. Olhava mais para o lado do que de fato para Julla, parecia estar com medo dela e de qualquer um em sua volta.

- Que noite, não é? - Lohan disse ao se sentar do lado de Julla.

A voz de Lohan não a intimidava, era de tom jovial e indefeso, ela se perguntava como ele ainda estava vivo desde que entrou no bando. Ele era apenas um batedor de carteira, por sorte seu irmão era um guerreiro experiente e respeitado pelo Sir Falco Rayn. Havia pedido para que Rayn recrutasse Lohan em seu grupo mercenário, esperava que Lohan se tornasse um bom soldado, senão morreria em questão de meses.

- Não quero papo furado - Julla virou a cabeça para o outro lado

- Desculpe... - disse Lohan - Vi que estava sozinha e pensei que gostaria de se juntar a nós.

Julla respirou fundo. Quem ele pensa que é? Pensou. Ela não se sentia confortável com isso, percebeu que Lohan estava com pena dela, como se ela precisasse disso. Não era a primeira vez que Julla era rebaixada assim pelos mercenários, era algo complicado por ser a única mulher do bando, já não bastava no passado ela ter que provar para eles que não era alguém frágil, agora o novato veio tratar ela como uma dama perdida.

- Se juntar à vocês? Vocês são animais. - disse Julla - Bêbados sem nenhum objetivo de vida a não ser lamber as botas de meu pai.

- São boas pessoas, não deveria ficar aí isolada - Lohan colocou a mão no ombro de Julla.

A garota sentiu seu sangue ferver ao ser tocada por ele. Antes mesmo de perceber, Lohan estava com o rosto pressionado sobre o balcão e Julla estava torcendo seu braço direito, segurando sua nuca.

- Quem você pensa que é, novato? Só porque seu irmão era amigo do meu pai, pensa que somos amigos?

- Não.. - Lohan grunhiu - não é isso.

O rapaz conseguiu se soltar, puxou Julla para bem próximo, de frente com ele, e a empurrou longe. Julla caiu sem jeito em uma mesa atrás, garrafas caíram em cima dela e no chão. Os bêbados ao redor não deram a mínima, só naquela noite pelo menos três brigas já haviam acontecido. A garota se levantou, com uma certa dificuldade, mas com um grande odio em seu olhar, já o olhar de Lohan mostrava apenas culpa, não queria ter machucado ela.

- Desculpa, não foi minha... - Antes mesmo de finalizar seu pedido de desculpas, Lohan sentiu o punho fechado de Julla em seu queixo

Julla continuou atacando Lohan com facilidade, a música ainda tocava alto e os mercenarios cantavam com alegria, alguns até mesmo berravam algo em torcida por um dos dois jovens. Lohan não revidou os ataques, tentava apenas se defender, o que era impossível. Julla o arrastou pelos braços até a porta, e o lançou na rua, ele sentiu o chão de pedra bater violentamente em seu peito, em seguida bateu sua cabeça, um carroceiro quase passou por cima dele, gritou alguma ofensa sobre ele estar largado no meio da rua e seguiu conduzindo. Lohan continuou deitado ali, Julla não sabia se ele havia desmaiado ou apenas desistido, não importava, ela voltou para a taverna, se desculpou pela bagunça e deixou algumas moedas a mais para Wyll ajeitar tudo. Os mercenários comemoraram, gritavam o nome de Julla com orgulho e respeito, este que ela conquistou da mesma maneira que conquistou o de Lohan. Ter que mostrar para os outros que ela não era uma frágil dama a irritava.

Violet LeecherOnde histórias criam vida. Descubra agora