3 - Tudo morre

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O dejavu subiu pela espinha de Lohan assim que abriu a porta da taverna. Julla bebia no balcão do bar, suas roupas estavam quase em farrapos, assim como a dele quando estava sobrevivendo na mata, porém estavam limpas, como se estivesse na aldeia dos Gemond há algum tempo. Ela ainda vestia o colete de couro vinho que os bandidos do bando usavam para destacá-los entre os bandos. Lohan focou sua atenção somente nela, pôde sentir algo intenso e negativo, como se ela estivesse depressiva, se envergonhou por adentrar os sentimentos dela em específico e buscou distrair sua mente. Os frequentadores da estalagem pararam de conversar e o observaram, sem mover um músculo desnecessariamente, ele caminhou em linha reta até o balcão onde estava Julla. Ela o encarou e o avaliou cuidadosamente, viu que Lohan se encontrava em um estado completamente pálido e com pouca expressão, seus olhos agora de cor violeta chamava a atenção com um brilho discreto porém forte em coloração.

- Então é verdade - disse Julla - Você se tornou um monstro igual a eles

- Não sou um carniceiro como eles, não sigo um deus loucamente. Sou um humano - As pessoas ao redor ainda encaravam discretamente os jovens. Lohan sentiu o medo e ódio exalando. Ainda continuou - Mesmo assim, eles me odeiam

- Nossa tripulação foi exterminada em meio a estes rituais. Parece que estamos em um conto de fadas - Julla balançou a cabeça negativamente com um sorriso frustrado, foi tomar mais um gole de sua bebida mas Lohan pegou o copo de sua mão.

- Pare de beber. Preciso de sua ajuda para sair daqui - disse ele - Sir Falco, seu pai, nos espera.

Julla respondeu com uma risada esnobe e tomou o copo de volta.

- Você ainda é um idiota, não sei o que houve com você nesses últimos dias, imagino que tenha sido duro, mas me surpreende que ainda tenha esperanças em algo - Julla bebeu do copo e prosseguiu: - Não me ouviu? Eles nos dilaceraram vivos, Kayn e Ilan sumiram com alguns outros, a este ponto estão todos mortos, só sobrou eu. Estou sendo racional em não sair daqui.

- Há quanto tempo está aqui? - Lohan perguntou

- Eu e alguns tripulantes encontramos o povo de Gemond logo no começo quando acordamos do naufrágio - Julla hesitou por um momento e continuou: - Fomos com eles nessas buscas que fazem para salvar aldeões capturados, enfrentamos esses demônios ao longo dos dias, perdemos aliados, até que um dia encontramos você e pelo menos uma dezena de corpos sacrificados, conseguimos salvar apenas você. Depois do que eu vi que fizeram com os outros, não pude parar de pensar em como nossos tripulantes estão ou estavam, não tenho mais motivos para me expor a este perigo.

Lohan percebeu que a depressão que sentira em Julla era na verdade luto e angústia, ela estava desolada após perder Ilan, seus aliados, e sua esperança.

- Eu voltarei para lhe buscar Julla, descanse. - Lohan tentou sorrir mas não conseguiu, a verdade é que ele se sentia igual, ou pior; Um grande vazio tomava conta de seus sentimentos, como se o instinto Sanguessuga o chamasse para cumprir seu dever, dever este que o suposto Deus da Dor lhe deu. "Eu sou melhor que isso, eu sou melhor que isso" , repetia incansavelmente em sua cabeça, buscando sempre deixá-la ocupada, nunca ociosa, ou então o que Gemond temia poderia acontecer: Lohan se tornar mais um "demônio" em Famm.

A lenha estalava com o fogo que queimava na lareira do chão da taverna, ao redor estavam alguns bêbados conversando, o bardo tocando um instrumento de cordas parecido com uma harpa, porém com um som mais estridente que reverberada o salão todo. Ele cantava uma música melancólica em Fammico, Lohan se sentou nos bancos e refletiu enquanto escutava a música. Embora incomodados com sua presença, ninguém se afastou ou o expulsou, confiavam no velho Gemond com sua vida,  se ele disse que Lohan não era perigoso agora, não deviam se preocupar.

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⏰ Última atualização: Oct 18 ⏰

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Violet LeecherOnde histórias criam vida. Descubra agora