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Jin...

Ao contrário do que você pensa, essa não é nossa primeira vida, além disso, de alguma forma eu recebo todas as suas cartas, mas infelizmente você não recebe as minhas, então não faz sentido eu te mandar, já tentei várias vezes, mas assim que termino, a carta num instante se transforma em cinzas.

Fico triste só em pensar que você sofre com tudo isso, ah se eu pudesse te contar como foi nossa primeira vida, essa maldição cruel só te permite lembrar quando estiver no fim da sua alma.

Eu era chefe de guarda do príncipe Gung Ye na dinastia Goryeo em 936.

Estava escoltando o príncipe pois ele iria conhecer o genro, sua irmã iria se casar e todas as posses das famílias se juntariam.

Era ordem que o guarda real não levantasse a cabeça durante as transações de negócios.

Queria muito poder te olhar nos olhos naquele momento, se não tivessem marcado o encontro em um lago eu não poderia ver seu rosto refletindo na água.

Lembro-me da sensação, meu coração pulou uma batida ao te ver. Você estava lindo, sempre foi. Naquele momento o sol refletia na sua pele macia. Não tirei meu olhos um só momento da água.

Depois de conversar com o príncipe, você sorriu, fechando um pouco seus olhos. Senti inveja do príncipe porque queria que aquele sorriso fosse pra mim.

Assim que voltei ao Palácio recebi uma missão do rei, teria que viajar até o reino vizinho e entregar um presente de paz. Fiquei messes fora.

Quando voltei, estava indo até minha morada, uma pequena casa que ficava aos fundos do jardim no Palácio.
Passei por entre as flores e me deparei com você lendo de baixo da árvore que ficava ao lado.

Estava tão distraído que nem me viu chegar.

Perguntei se precisava de alguma coisa, seus olhos pousaram nos meus e você sorriu agradecendo.

Por um momento eu paralizei, você sempre teve esse poder em mim meu amor.

Fiz reverência e entrei em casa.

Com o passar dos dias eu sempre te encontrava no jardim. Acho curioso que você não podia me ver que me seguia pra qualquer canto que fosse, quando perguntei o porquê de fazer isso, você simplesmente respondeu "Não tenho nada mais pra fazer" isso me tirou uma risada genuina.

Começamos a nos encontrar pra conversar sempre no jantar, te contava minhas histórias de batalha e você me contava sobre todas as suas prometidas, e como elas imploravam pra trocar de pretendente quando ouviam sua risada verdadeira. Confesso que assustei na primeira vez que ouvi, mas achei fofa até.

Fomos juntos no festival da troca de lua, anotamos nossos nomes numa lanterna e a soltamos no céu. Nesse tempo eu já te amava, mas eu não podia te dizer pois já era prometido a princesa e naquela época se o rei descobrisse cortava nossas cabeças.

Estávamos na colina que ficava no ponto alto da floresta, a luz da lua iluminava nossos rostos. Eu estava observando as lanternas subirem no céu e você disse meu nome. Quando te olhei recebi um beijo de surpresa. Fiquei tão em choque que não conseguia dizer nada.

Você começou a tagarelar como sempre fez, disse que sabia que era errado e que seria muito perigoso, mas nunca havia sentido isso por ninguém. Sinceramente, eu também não.

Antes que continuasse a falar, eu roubei um beijo seu, nos beijamos por entre as lanternas flutuantes no céu. Foi mágico e bonito.

Não consegui mais parar de sorrir.

Combinamos de nos encontrarmos escondidos no jardim pra ficarmos juntos. Trocamos cartas, escondendo elas por entre as flores. Escreviamos com vinagre de maçã caso o rei achasse uma, assim tudo que ele veria seria um papel em branco perfumado.

Continuamos nosso relacionamento assim durante várias luas, até que estava chegando a festa do seu noivado.

A princesa sempre foi bondosa, com o coração puro e doce, ela acabou descobrindo tudo sobre nós, mas permitiu e ajudou a nos encontrarmos.

Caso você fosse na festa e em seguida fosse embora, os pretendentes da princesa especulariam o porque do noivo fugir, isso prejudicaria a única pessoa que nos apoiou aquela época.

Fugimos ao anoitecer um dia antes da festa, estava tudo perfeito. Pra não levantar suspeitas, você vestiu as roupa de uma das dançarinas. Confesso que isso me despertou algo, não via a hora de sairmos da cidade pra poder te beijar livremente. Assim planejamos ter uma nova vida.

Infelizmente o príncipe também havia se apaixonado por você, ele descobriu sobre nós e sobre a fuga.

Armou uma emboscada. Quando chegamos ao lago, centenas de soldados da guarda real estava por toda parte, até mesmo meus aprendizes, haviam me traído.

Como se isso não bastasse, quando entramos no lago tentando fugir pois ainda tínhamos esperanças, uma adaga nos atinge, tentei te salvar me colocando na sua frente, te abraçando, mas a força que ela veio foi tão grande que atravessou nossos corpos por inteiro. Naquele lago, com a luz da lua refletindo na água e iluminando seu rosto, uma lágrima desce enquanto demos nosso último beijo.

Nosso sangue se une na água azul e cristalina, pintando e colorindo nosso amor de vermelho.

Morremos assim, juntos e nos amando. Nos braços um do outro.

Os deuses Erudito Kungsan e a Noiva Ilwol sentiram por nós, ficaram comovidos com o nosso amor e nos abençoaram com a lembrança do nosso amor nas próximas vidas, assim, lembrariamos um do outro e finalmente ficaríamos juntos.

Infelizmente as anciãs dos céus que traçam o destino, não gostaram da mudança dos deuses e nos amaldiçoaram fazendo um fim trágico pra cada vida.

Quando cheguei aos céus e descobri sobre tudo, os covenci a retirar boa parte das memórias que você teria, seria doloroso demais lembrar de todas, eles aceitaram mas com a condição de ser só você e de que eu jamais demonstrasse a lembrança do seu ser, o que é quase impossível já que você é tão magnífico que um ser se quer conseguiria te esquecer.

Já vivemos mais do que você imagina, fico feliz por achar que essa última foi nossa primeira vida, pois foi a que eu mais fui feliz, foi nessa que tivemos uma família e ficamos juntos por um bom tempo apesar de todas as dificuldades.

Claro que lembro do nosso filho como eu iria esquecer, nosso amado Han está bem, contente e feliz, queria que me escutasse pelo menos uma vez.

Felizmente essa maldição não o afetou, nesse momento ele deve estar vivendo sua segunda vida com a pessoa que ele mais ama.

Meu bem, tirando o fato de eu me lembrar de todas as vidas que tivemos juntos, recebo todas as suas cartas, elas ficam na escrivaninha aqui do meu lado, quando morro eu fico nos céus te observando até que você também se vá.

Vejo todo o seu sofrimento e não consigo fazer nada pra te ajudar, vi todas as vezes que você se suicida e como sempre me escreve antes de partir.

Sei que está difícil pra você, não sinta vergonha por isso, te entendo e sempre vou te entender. Fico um pouco mais tranquilo ja que não pode me ver agora, pois já estou em prantos chorando e agonizando por te ver sofrer.

Tudo bem meu amor, ainda não sei como, mas vamos quebrar essa maldição cruel que nos rodeia.

Te amo e sempre vou te amar.

Do seu amor, Nam

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Todas As Cartas Que eu Recebi.Onde histórias criam vida. Descubra agora