Capítulo X: Ajustes compartilhados

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   Seus olhos querem lacrimejar, mas ele não permite. Mesmo estando amarrado como um animal no escuro profundo de uma casa assustadora.
   Algo afiado cutuca suas costas. O sofá é bastante desconfortável, mas nem se compara ao armário de agora pouco.
   Josh é uma criança forte, acima de tudo. Ele quer chorar, mas não vai.
   As cordas que fecham suas mãos estão apertadas, mas ele não vai chorar. O medo de morrer é bastante grande, mas ele ainda não vai chorar. O monstro que sumiu há alguns segundos
rodeia a casa, mas ele não vai chorar, e nem sentir medo. Nenhum medo.
   Josh se recorda deste homem, era o mesmo da rodoviária. Josh nunca esquece um rosto.
   Uma lágrima cai. Josh tenta não chorar. O homem entra na sala.
   O próprio trás uma bolsa com ele. A bolsa de uma alça só. Uma grande bolsa preta que leva no ombro. Ele a joga no chão.
   Cai com um baque pesado. Bum. Clanc. Contato de ferro com o chão.
   O homem está sem camiseta.
   Josh se mantém atento aos detalhes.   Quem sabe dali poderiam sair boas informações para a polícia.
   Ele é um tipo de homem magro musculoso. Tem um corpo enxuto, cheio de cicatrizes. Josh nota suas costas brancas, e vários riscos escuros.

   Ele abre a bolsa, e começa a tirar umas caixinhas com fiações

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   Ele abre a bolsa, e começa a tirar umas caixinhas com fiações. Alguns fios eram vermelhos, outros azuis. Não daria para dizer com o que parecia.   Josh ainda estava amarrado numa casa
escura, num sofá carcomido.
   O homem se vira para ele, de repente.    O rosto escondido pelas sombras negras. Elas o davam um mistério contido. Os fios de cabelo rastejavam pela sua testa. Fazia-se uma pequena franja.
   Josh sente a fita crepe colada em sua boca.
   O homem adverte.
   - sei que sua situação é
desconfortável, eu já passei por isso. Já fui preso desta mesma maneira, e eu era bem mais jovem que você.
   O homem senta numa cadeira de madeira, logo do outro lado. Abaixa-se. Começa a tocar os próprios pés. Ele deixa de lado seus sapatos velhos, e coloca botas. Grandes botas escuras.   Josh percebe que o homem esta se arrumando para algo.
   - você não tem defesa quando algo que nunca foi seu é tirado abruptamente de você - ele continua - algo que você se importa pela primeira vez, ou até algo que sempre se importou. Não existe choro, não existe força, não existe nada. É como um chão, um chão de pedra. E você está caindo do céu. Direto pro chão. Não tem nada que possa fazer.
   Josh percebe que o homem fala extremamente baixo, como um sílvio isolado, mas perceptível. Calmaria que o dava calafrios. Esse homem parece um animal da noite, como um bicho do mato, se move diferente, olha de maneira diferente, age diferente. E acaba de vestir uma camiseta de mangas compridas, extremamente preta. Depois que a veste, se perde na casa. Em seguida, vem a jaqueta e logo mais o capuz. A alguns armamentos ao redor da roupa, mas Josh
definitivamente não conseguia enxergar naquela escuridão. Mesmo assim, estava lá, o mesmo homem da rodoviária.
   - você me olha como se olhasse para um monumento. Não é medo. É outra coisa. O que é?
   O homem de preto se levanta.
Josh permanece em silêncio. Outra lágrima cai acidentalmente. Josh se lembra dos gritos que vieram
do porão na noite passada. Os gritos que eram silenciados um a um.
   - você não quer chorar, eu entendo. Mas é bom que chore, se prender esta dor, ela se prende a você. E não é bom o que vem depois disso.
   Josh esbugalha os olhos quando vê a arma em sua mão.
   O homem põe a arma na cintura.
   - estamos perto do fim, Josh. Acaba hoje. Mais tarde. Você encontrará sua família. Vai ficar tudo bem, eu juro. Eu sou um homem de palavra, sabia?Amigos não mentem um para o outro.
Eu nunca mentiria pra você, Josh. Somos melhores amigos agora, ta bom?
   Como se fosse um instinto primitivo, ele some na casa. Novamente. Que nem um vulto tímido.
   Outro baque surdo veio da outra sala. Passos calmos retornam.
   O homem reaparece. Desta vez como uma entidade. Devagar. Sombrio.
Josh sente-se aflito ao ver o corpo da escuridão encarnada. Ele usa uma máscara inteiramente preta agora. Medo é o que Josh sente. As lágrimas caem. Josh está chorando.
   O homem se aproxima ainda mais devagar.
   Ele diz como um vento isolado no deserto.
   - isso criança, chore... Por que a noite enviou um demônio tímido numa última missão. Suas lágrimas alegram minha noite mórbida. Um último anjo da morte numa última noite de trevas.
Uma noite um tanto... - ele levanta um pouco a cabeça, e respira fortemente, continua - ... Vulgar.
   Naquele momento, trovejou levemente. Foi ali que Josh tremeu.
"Isso é um homem de verdade, ou algo mais?" Josh se perguntou em sua mente aflita.

   (Silvios e devaneios no castelo da solidão - o silêncio)

   As gotas do vinho se dissolvem em sua língua. Um gosto adocicado e perplexo.
   Armin aprecia sua terceira taça de vinho italiano Château Margaux.   Envelhecido para dias especiais. Mas hoje não é um dia especial, é?
   Outro gole do Château Margaux.
   Ela não deveria ter feito tanta birra.
   Ela tinha que ter feito isso. Sempre foi a cara dela.
   Armin senta-se aconchegado, com seus cotovelos sobre a mesa de vidro.   Os dedos cruzados.
   Outra taça daqui a pouquinho.
   Sua casa luxuosa está num completo silêncio. Empregados e seguranças foram com o pôr do sol.
   Um dia se foi.
   10H44MINPM.
   Outra taça de vinho.
   Armin conseguiu convencer boa parte da casa com certa relutância. Mas Mindy estava bastante preocupada, e acima de tudo, com raiva. Bastante raiva.
   Charles, apesar de ser idiota e sem ação alguma, é um homem que consegue seguir ordens sem contestar. Quaisquer que sejam.
   Mindy não.
   Ela gritou e gritou e gritou. Armin simplesmente se estressou. Ele disse que os federais estavam resolvendo e que o lugar pra onde iriam seria bastante seguro. Mas ela continuou a
gritar e gritar. Não havia outro jeito.
Armin socou seu rosto. Com toda força.  
   Bam.
   Mindy caiu atordoada. Um lado do rosto dela começou a sangrar. Ela foi retirada aos prantos.
   Charles gritou e chorou também enquanto seguia sua mulher sendo levada nos braços pelos os outros seguranças.
   Armin viu seu mundo girar. Algumas vezes. Várias vezes. Sentou ao lado de sua mesa de vidro.
   E quando se deu conta, pouco restou.   Ele deu a ordem final.
   Em seguida, vieram os vinhos.
   Outra taça e outra taça e outra taça.
   Uma taça por vez.
   De repente, algo atrapalha seu vinho.
Algo soprou como o vento em algum lugar.
   Algo caiu no chão levemente. Como um sonho.
   "Será que alguém ficou na casa?"   Armin imagina.
   Era provável, já que tudo foi tão às pressas, que Armin se quer duvidaria.
Mas não. Agora Armin tem certeza que não.
   Tic-tac. 11h00minPM.
   Ele chegou.
   Armin Truman se prepara.
   Começou.

Noturno Vulgar (2023) - Edição DefinitivaOnde histórias criam vida. Descubra agora