capítulo 3

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Cada estalo de galho ou farfalhar de folhas fazia Jinsoul parar. A lanterna que ela segurava na boca iluminava os arredores, então tudo que ela podia fazer era parar e ouvir, segurando suas ferramentas nas mãos como se fossem armas. O vazio escuro da floresta que a cercava e seu Zaku caído deixou Jinsoul nervosa. Ela não tinha medo do escuro - não quando voou através do vasto vazio do próprio espaço - mas ela estava tão perto de terminar os reparos que seria uma pena ser interrompida agora.

Depois de outro momento, quando ninguém emergiu da escuridão, Jinsoul voltou ao trabalho, se perguntando se havia animais nesta floresta. Jungeun disse que Libot foi montado como um experimento, mas os documentos que Jinsoul recebeu no início de sua missão indicavam que a colônia era mais como um experimento social do que puramente científico. Talvez isso não exclua a ideia de que certas espécies de animais eram consideradas necessárias para manter a estética prescrita da cidade.

Para se distrair da dor em seus dedos enquanto apertava os parafusos com a mão, Jinsoul se perguntou se havia esquilos ou pássaros observando-a do topo das árvores. Ou seriam os habitantes desta floresta estritamente invertebrados? Vermes para arejar e decompor o solo, moscas e abelhas para polinizar as plantas. Jinsoul não era ecologista, e quando um parafuso solto caiu por entre seus dedos e caiu em cascata ruidosamente pelo exterior de seu suit até o chão da floresta, ela foi tirada de suas reflexões.

– Merda... – ela praguejou, tirando a lanterna da boca. Ela balançou a lanterna em direção ao chão, balançando seu feixe de luz pela terra rasgada, e ouviu um suspiro agudo. Ela desligou a lanterna imediatamente e lentamente, enfiou a mão na cabine em busca da arma.

Através da escuridão ela ouviu alguém lhe chamar timidamente.

– J-Jinsoul...?

Havia apenas duas pessoas nessa colônia que poderia ser, mas Jinsoul ainda não gostou das probabilidades. A última coisa que ela precisava era que Jungeun descobrisse que ela era uma daquelas pilotas de Zeon que a deixou tão exaltada no jantar.

– Jinsoul, sou eu, Yerim! – um sussurro ansioso veio da escuridão.

Jinsoul suspirou e se endireitou, enfiando a pistola na parte de trás da calça. Acendendo a lanterna mais uma vez, ela percorreu a orla da floresta até encontrar a garota. Yerim seguiu o raio de luz até a unidade Zaku e protegeu os olhos enquanto olhava para a figura escura de Jinsoul.

– O que você está fazendo fora tão tarde? – Jinsoul perguntou, descontente.

– Eu te pergunto o mesmo! – Yerim respondeu em voz baixa, como se as casas a oitocentos metros de distância pudessem escutar.

– Estou trabalhando no meu Zaku! Você não tem aula amanhã? – Para ser sincera, Jinsoul não tinha certeza de que dia era. Seu cronograma funcionava em horas.

Yerim ignorou sua pergunta enquanto olhava para as mangas arregaçadas de Jinsoul, revelando antebraços manchados de graxa.

– Por que você não fica? – Ela sabia que era ingenuidade da parte dela perguntar, mas não conseguia evitar.  – É óbvio que a Jungie gosta de você. Pare de lutar, arrume um emprego e... não me deixe.

Jinsoul colocou a lanterna de volta na boca, sentindo o gosto da sujeira de segurá-la em suas mãos sujas e suadas enquanto descia pela lateral do Zaku. Talvez estava na hora de uma pequena pausa.

– Achei que você viria comigo, pirralha. – ela brincou enquanto pegava a lanterna novamente, ficando na frente da garota. – Ou você mudou de ideia porque a Jungeun voltou?

Yerim franziu a testa, determinada demais para refletir. Ela gritou quando Jinsoul a provocou piscando a luz da lanterna em seu rosto.

– Para com isso!

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