Arcádia - Tempos Atuais
Amélia era uma garota de sorte, não faltava absolutamente nada em sua vida. Tinha uma família unida, que também era a mais rica da cidade, estudava na melhor faculdade do continente e, a partir de hoje, iria trabalhar no que considerava ser o "emprego dos sonhos".
- Pelo amor de Deus, filha. Eu não quero ver você naquele lugar.
Bom, seu pai não achava esse emprego tão "dos sonhos" assim.
- Para pai! Você sabe que eu sempre fui apaixonada por lá. Sempre senti como se algo me chamasse lá pra dentro.
O local sobre o qual eles estavam comentando era a "Biblioteca do Tempo", um apelido carinhoso para a construção mais antiga da cidade de Arcádia.
Ninguém sabia ao certo quando ela havia sido construída. Existiam lendas que diziam que já estava lá quando os primeiros ciganos chegaram e fundaram a cidade. A biblioteca ainda podia ser encontrada no mesmo lugar, no centro da praça principal, mas sem o prestígio que tivera um dia.
- Aquele prédio está caindo aos pedaços e ninguém nunca entra nele - o pai de Amélia continuava a falar, na vã tentativa de convencer a filha a não ir.
- Melhor ainda. Eu cumpro meu estágio, ganho a bolsa da faculdade e não vou ter trabalho nenhum. O melhor dos mundos. Talvez até dê tempo de ler um pouco - comentou Amélia, decidida.
- Você é maluca. Dizem que o lugar é assombrado por espíritos e a Dona Rosa é a guardiã deles - o meio-irmão de Amélia, de apenas sete anos, aparentemente já estava contaminado com as lendas e preconceitos comuns aos outros habitantes da cidade.
- Para de falar bobagem, moleque, espíritos não existem - advertiu o pai. - Mas aquele lugar não é de Deus, ele só traz sofrimento para as pessoas.
- Bom, eu tenho que ir - Amélia se despediu, ignorando os comentários.Ela se levantou da mesa e caminhou em direção à porta. Não queria se atrasar logo no primeiro dia. Foi interrompida pela voz da esposa de seu pai.
- Querida, você esqueceu seu livro.Amélia se virou e pegou o pequeno volume amarelo em cima do sofá. O título dizia "Poemas Selecionados de Olivia Hawthorne".
- Ela e esse livro - resmungou o irmão mais novo. - Vive grudada nele. Quantas vezes já leu isso? Trezentas?
- Ela puxou à mãe dela, deixa a garota - a mãe do menino retrucou.
- Ah, eu não consigo ver graça nisso... - o meio-irmão de Amélia continuava a falar.
- Não? Olha só. - Amélia foleou as páginas do livro até encontrar um texto em específico.
Nas fendas do tempo, um sussurro ecoa,
Palavras escritas com ternura, em harmonia.
Uma alma anônima na poesia, um apelo remoto,
Aquele que entende irá captar este devaneio.
Nas estrofes delineadas com tinta celestial,
Encontro abrigo para minha peregrinação pessoal.
Nos raios solares que valsam nas estrelas vivas,
A presença discreta de alguém que espera, cativa.
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A Biblioteca do Tempo
Historia CortaNa mágica Biblioteca do Tempo, um refúgio encantado no coração da enigmática cidade de Arcádia, passado e presente se fundem em uma trama profetizada há séculos. Amelia, a mais recente estagiária da biblioteca, tem sua vida transformada por uma cart...