como fragmentos de vidros quebrados.

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aquele aglomerado de pessoas se movimentando na estação de trem está a demonstrar uma tranquilidade surpreendente.

ou eu apenas permaneço aprisionado em meus pensamentos para pensar que o local está tranquilo.

não ouvia sequer o barulho da respiração daquelas pessoas apressadas para chegarem em seus lares após um dia cansativo. eu gostaria de ouvi-los, assim estaria ocupado em focar na vida alheia e não na minha.

que exaustão, estes meus pensamentos me conduzam a loucura. eu apenas gostaria de voltar para aquela noite de outubro em que o perdi. pois enfim, essa mesma noite de outubro que enterrou o que inesperadamente foi o nosso fim, soou como cacos de vidros estraçalhando meu ouvido com aquele barulho demasiadamente irritável.

a propósito, esse som rodou por toda aquela noite. acho que nunca tive tantos cortes na mão. olhar para as cicatrizes me causam dores desagradáveis e relembrar de tudo é cruel, e isso é a porra de uma situação difícil para superar. porque afinal, eu simplesmente não consigo, já que a única opção seria ter em minha mãos o poder de deixá-lo ir.

queria esquecer de ti, soobin.

mas eu simplesmente não consigo, apenas me permito aprofundar mais esta dor, como visitar todos os lugares que amávamos frequentar, e ouvir sua risada por eles machuca sem ter uma única cura.

amávamos andar de trem, eu não entendia bem o porquê, mas continuava a amar, pois ele estava lá. este mesmo trem que pegamos tantas vezes durante a noite com nossas mãos sempre entrelaçadas, desaba em minha frente, sem poder ajudá-lo, o que é engraçado 'pra caralho, eu já desabei por completo.

eu quero tanto superar, assim como soobin superou, pois o mesmo já tem uma nova pessoa a amar, ele já seguiu em frente.

é normal relacionamentos romperem, beomgyu, e ganharem seus pontos finais sem ter o sonhado felizes para sempre. eu tento colocar isso em minha mente e seguir em frente.

mas eu continuo a lembrar de tudo.

eu lembro bem do olhar dele quando proferiu as últimas palavras que levou a este atual momento. o olhar dele já não continha as estrelas que costumava admirar, elas eram pontinhos tão lustrosos, reluziam em qualquer um. aliás, eu tive a oportunidade para saber que as mesmas flutuavam desde o início sobre minhas mãos sem ter a chance de tocá-las, já que nunca me pertenceram, eu jamais consegui conquistar verdadeiramente o dono delas.

oh, mas como eu gostaria de tê-las ponderando em meu olhar novamente.

eu lembro do quão as noites de outubro eram amáveis, elas eram tão doces. eu lembro exatamente do momento em que busquei pelos dias de outubro, a fim de esquecer neles o que tanto amava, os mesmos não resultaram em nada.

eu lembro das palavras dele, que ficaram gravadas em todo o meu ser. jurei por tudo que há, eu jamais pensei que era insuficiente naquela relação que estava desgastada, ou que havia me perdido em todo o meu potencial para fazê-lo feliz, como o mesmo disse. o pior de tudo, é que ele sempre esteve certo em suas palavras, eu sou a merda de uma confusão desequilibrada, eu sempre criei uma curva em nosso caminho, ele se encheu delas, e eu nunca as notei. mas, eu também só queria que ele soubesse o quanto eu tentei mantê-lo por perto, para reconstruir o nosso amor, que tanto acreditei estar adormecido, eu realmente tentei.

eu lembro da situação toda. soobin mal olhou meu rosto que estava molhado pelas lágrimas, ele apenas saiu pela porta do lugar em que um dia compartilhamos os nossos dias juntos, após jogar em mim toda a culpa de não termos dado certo, depois de quase cinco anos de namoro, e ele nunca quis estar nele, ficou preso por todos esses anos sem nunca desejar efetivamente por mim. e ele explodiu naquela noite, soltou tudo que guardou, eu apenas pude chorar e quebrar o primeiro espelho que apareceu em meu campo de visão.

e eu lembro o quão dolorosa foi aquela noite, e todas as outras recorrentes que tive. eu lembro do quão cansado meus olhos ficaram, a ardência que sentia em minhas mãos enquanto o pequeno rastro de sangue percorria no chão, dos sons abafados do choro que tentava fazer parar. eu jamais conseguirei superar aquela dor que senti em todas aquelas noites de outubro.

essa mesma dor nunca se esvaziou.

e eu ainda sinto falta dele.

as pessoas que agora abrigam esse trem, felizmente, estão bastante ocupadas com sua vida, seria uma ruína total ter a atenção delas em mim, pois veja só, um jovem qualquer chorando por ter tido um fim em um relacionamento que jurou ser perfeito.

certamente eles notariam caso eu gritasse para me livrar de toda essa dor estúpida que me causa tontura, eles soariam por todo o trem. entretanto, eu apenas deixei escapar soluços baixos, quase como sussurros, que por fim, ninguém nesse trem conseguiu os captar.

e as lembranças das noites de outubro continuam a me machucar.

lembranças de uma noite de outubro.Onde histórias criam vida. Descubra agora