A.LIVE

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Eu acho que posso dizer que nunca me senti tão vivo. O Rio de Janeiro é vibrante e quente, sinto o meu corpo inteiro queimar, quero imensamente chorar, e então sou puro lágrimas, meus joelhos doem e as panturrilhas ardem com a memória muscular de meus diversos pulos e saltos essa noite.

Não consigo ver mais nada, tudo é água. A multidão de stays, as luzes dos lighsticks e da estrutura do palco, os meninos ainda vibrando tentando ao máximo prolongar o último verso de "haven" enquanto se aproximavam do elevador do palco. Tudo é um grande borrão úmido enquanto eu ainda conseguia, mesmo que por apenas mais uns minutos sentir a energia dos stays cariocas.

Eu estou extremamente emocionado, é assustadoramente incrível pensar que a música que sai de mim tem o poder de ultrapassar a barreira da linguagem e mexer com corações que batem a menos doze horas do lugar onde eu nasci.

Eu não conseguia parar de soluçar. E tudo apenas piorou quando após apertar as pálpebras, minha visão se torna nítida e então eu o vejo. Minho aterrisa Jeongin no chão no momento que sua atenção se direciona a mim. A última lágrima escorre pela minha bochecha, é quando sua expressão se derrete junto com toda a postura, ele só se desarma desse jeito pra mim, conheço seus trejeitos, seus gestos e sua mente. Sei que sua vontade agora é de secar as lágrimas do meu rosto e logo deixar alguns beijos no mesmo.

Não posso evitar sorrir como um bobo. É tudo que sou, por ele não passo disso, um bobo. E ele me devolve o sorriso mais sincero que já vi. Minho está feliz, tão feliz quanto eu. Isso me deixa feliz demais, os meninos estão felizes e os stays também.

O show terminou.

Nunca me senti tão vivo.

[...]

No backstage tudo não passa de uma bagunça generalizada, os staffs correm para amparem o cansaço dos meninos que apesar da exaustão nítida não conseguem parar quietos, há muitas vozes juntas, risadas e correria, não poderia me sentir mais confortável, esse ritmo vai bem com a velocidade em que minhas mãos tremulam e o bater do meu coração.

Os meninos estão eufóricos, um comentário por cima do outro, há dezenas de pelúcias, bandeiras, cartas e outros presentes pela grande mesa junto ao sofá de couro. Há também um bolo decorado com um capricho ao qual meus companheiros de grupo nunca iriam saber valorizar, mesmo que essa não fosse a intenção, Felix tem sua expressão surpresa para o doce interrompida assim que Changbin o surpreende passando um pouco do glacê verde na ponta de seu nariz.

Pobre bolo, parecia estar saboroso, eu gostaria de comê-lo mas agora carrega as impressões digitais de cinco caras suados após três horas de show. Qual é galera, brincar com comida não é legal. Na ponta esquerda da mesa, mais um detalhe ao qual não prestei muita atenção, seus coturnos pesados e de cano longo, a ponta dos pés cruzados balançavam pra frente e pra trás, provocando um movimento involuntário nas pernas torneadas, fala serio! As pernas desse cara só podem ser um surto da minha cabeça, longas e malhadas no ponto certo, nada de mais ou de menos, as panturrilhas esculpidas por anos e anos de dança, fazendo jus as coxas grossas e boas de apertar e dar uns bons tapas, principalmente quando estou ajoelhado na sua frente-

— Jisung-ah! — Chan hyung estava me chamando. Chan hyung estava me chamando? Porra! Eu nem se quer ouvi.

— O que... que foi? — engoli uma quantidade significativa de saliva. Eu estava mesmo salivando?

Christopher fez um sinal para que eu me virasse, mas é claro, câmeras! O documentário, a passagem do Stray Kids pelo Brazil seria documentada. E porra, é óbvio que teriam imagens de backstage. Abri meu melhor sorriso amarelo e arrisquei as duas frases em português que eu decorei para vir ao Brasil, fora "eu te amo". Eu achei que tinha passado despercebido, ninguém tinha reparado o fato de eu ter perdido alguns míseros segundos babando no meu namorado. A não ser o próprio, Minho havia levantado a aba do boné o suficiente para que pudesse me encarar assim que eu me virasse de volta, seu olhar não dizia nada.

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