01. My Mockingjay

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- Celina Bellerose!

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- Celina Bellerose!

Meu corpo congela no lugar. Mesmo desesperada, minha feição se mantém neutra. Talvez meu corpo estivesse preocupado demais em não me deixar colapsar que tenha esquecido de como se sinalizar emoções. Sinto quando começo a suar frio e me mantenho estática em meu lugar, mas tudo que se passa na minha mente naquele instante é que preciso sorrir. A Capital ama quanto suas apostas parecem feliz.

Então, mesmo em aflição, abro um pequeno sorriso teatral enquanto ando em meio às fileiras em direção aos Pacificadores que me guiam em direção ao palco. Vejo cada um dos rostos de terror na plateia, cada um daqueles que me conheceram se despedindo com um olhar. Assim que subo, sou recebida pelo apresentador que sorri para mim e volta a olhar para o público na intenção que possa apresentar o tributo masculino.

Meu subconsciente parece ser desligado naquele momento. Tudo que é falado desse instante em diante se torna um mero ruído no fundo de meus pensamentos. Tudo que consigo pensar é como um sorteio pode ser tão manipulado. Eu estou aqui. Minha mãe esteve aqui. E minha avó também esteve. Três gerações consecutivas parecem um bom entretenimento, provam a todos que nunca devemos idealizar o sonhado descanso. Pois não somos dignos. Não somos como aqueles que nos assistem.

Volto a realidade quando sinto um toque leve em meu ombro. Rapidamente viro meu olhar e encontro o apresentador me guiando em direção ao tributo masculino, que em momento algum foi notado por mim. Assim que nos aproximamos, trocamos um leve aperto de mão e nos viramos em direção a câmera. Me esforço para sorrir da maneira mais natural possível, porém, pela visão periférica consigo ver a aflição na face do menino ao meu lado. Assim que a câmera é desligada, alguns pacificadores nos separam e me colocam em uma sala vazia.

Enquanto estou sozinha, foco no pequeno pássaro parado na janela, e por um momento, desejo ser ele. Sem preocupações, sem os jogos, sem o sentimento sufocante de saber que será um peso para seu distrito, e principalmente, livre. Uma pessoa tão nova participar dos jogos é como entregá-lo diretamente para a morte. Não haverá como se salvar. Me permito sentir tudo isso quando sinto uma lágrima solitária em meu rosto, e quando me permitiria chorar, escuto a porta sendo aberta e rapidamente limpo a pequena gota em minha face. Vejo as três mulheres entrando apressadamente junto com Noah. Antes que possa raciocinar, sinto um abraço de minha mãe enquanto escuto palavras breves de despedida. Eu sinto suas lágrimas molharem meu vestido e mesmo querendo desabar em seus braços, meu corpo não permite, apenas consigo permanecer olhando para minha mãe enquanto pensava em uma maneira de fugir.

Assim que minha mãe se desvencilha de mim, sinto outro abraço familiar. O de minha avó. Assim como minha mãe, diversas palavras de despedida são desferidas a mim. Sabendo da possibilidade de essa ser a última vez que sentiria cada um deles, me entrego ao abraço tentando anotar ao máximo os detalhes e as peculiaridades de cada um. Enquanto o de minha mãe é apertado e forte, o de minha avó, é delicado e afetuoso, combinando perfeitamente com o nome dela, Angeline. A mulher que ganhou seu jogo aos 16 anos, foi largada grávida pelo homem que prometeu amá-la e ainda sim, continuou firme. Sinto seu selar em minha testa quando ela se afasta e vejo minha bisavó se aproximando.

Quando ela me abraça e eu rapidamente escondo meu rosto em seu pescoço, memorizando seu cheiro uma última vez. O cheiro de flores que eu tanto amo, na qual ela faz questão de lembrar que não são de rosas. Ela puxa meu rosto para que possa olhá-la nos olhos e quando estou prestes a chorar ela sussurra.

- Não é a última vez que eu vou te ver, isso não é um adeus. -Ela tira um pequeno colar de seu bolso e coloca em mim. Louise segura minha mão e a coloca sobre o colar. - Mostra para eles quem comanda, meu tordo.

Eu fecho meus olhos segurando as lágrimas e concordo, mesmo me sentindo incapaz de ganhar de qualquer maneira. Assim que Louise solta meu rosto, sinto dois toques em minha perna e vejo Noah me olhando confuso.

- Lyna, por que a mamãe tá chorando? - Ele sussurra para mim, variando o olhar entre mim e minha mãe. - E a vovó também.

Adotamos o Noah quando eu tinha 7 anos, e desde que ele chegou na família, eu e minha mãe prometemos que não contaríamos o que são os Jogos Vorazes. Penso na maneira mais leve de se explicar e me ajoelho ficando em sua altura.

- Noah, a mamãe e a vovó estão tristes porque eu vou passar um tempo longe, e não vou poder ver vocês. - Eu digo segurando suas pequenas mãozinhas. Me forço a mostrar o melhor sorriso possível para ele. - Mas eu sei que você vai deixá-la feliz todo o tempo que eu estiver fora, não é?

Ele sorri enquanto concordava apressadamente. Eu o puxo para um abraço e deixo um pequeno selar em sua testa. Escuto sua risada baixinha enquanto ele me olha carinhosamente e eu o abraço uma última vez antes de me levantar, ainda segurando sua mão. Escutamos a porta abrir e alguns pacificadores entram na sala retirando minha família. Eu e Noah corremos em direção a minha mãe e assim que entrego ele a ela, eu sussurro.

- Não deixe ele saber mais nada sobre isso e muito menos o deixe ver meu jogo, okay? - Eu pergunto a olhando nos olhos. Ela concorda silenciosamente antes de também ser tirada da sala e eu me vejo sozinha de novo. Volto a colocar a mão sobre o colar que foi entregue a mim minutos atrás e olho para o pingente. O tordo. O símbolo favorito da minha bisavó. Desde pequena, recebi esse apelido dela. Sempre achei que você uma metáfora pelo tamanho do pássaro com minha altura, mas hoje percebo que não. Esse era o pássaro cujo canto poderia ser reconhecido por toda a Panem, e eu serei ele.

O tordo vai cantar. E quando cantar, não terá quem consiga ignorá-lo.

 E quando cantar, não terá quem consiga ignorá-lo

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