꧁Em alguma motivação꧂

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Você nunca se considerou uma pessoa particularmente grosseira, na verdade, em boa parte de sua vida se julgou boa-talvez "boba" fosse melhor—por ter dificuldades em dizer não e quase sempre ser quem acabar cedendo em uma discussão, Mas naquele momento Elspeth te encarava como de você tivesse acabado de dar três facadas no peito dela.

— Onde você está indo?— ela perguntou, com o típico sorriso de pose e um tom falsamente gentil.

Você encarou o corredor vazio do andar, a cena parecia bem autoexplicativa e obvia.

Quando saiu para o corredor para ir embora, não esperava escutar o som dos saltos do scarpin dela.

—Casa, senhora Catton.—já havia notado que ela não gostava de ser referida como "senhora", durante aquele quase um dia em que você permaneceu no local, te corrigiu todas as vezes.

Mas Elspeth estava tão indignada por sua atitude que pareceu nem notar, ela soltou um suspiro contido, como se tivesse falando com uma criança.

—Querida, você provavelmente deve ter algumas dificuldades no nosso idioma, ainda.— Você quis rir irônica, mas apenas passou a língua pelo lábio. Ela parecia preferir acreditar genuinamente que você não sabia inglês tão bem do que estava a contrariando.—o médico disse que a sua presença é importante para que a recuperação do Felix.—quase nem acreditou em como ela disse a frase devagar, como se isso te ajudasse a compreender.

—Eu sei, entendi quando ele disse.—Você exclamou e agora o sorriso dela pareceu diminuir.—Eu desejo toda melhora para ele e sinto muito pela situação, mas não posso ficar aqui no hospital para sempre.—Deus, por que ela tratava isso como se fosse uma ideia absurda? Vocês nem eram parentes.— espero que entenda meu lado.

De repente a expressão dela mudou e você notou uma leve risada.

—Oh, querida. Você entendeu tudo errado.—colocou uma mão em seu ombro.—Nós não vamos ficar no hospital, Felix obteve alta para receber cuidados residenciais.—ela nem esperou pela sua reação, antes de te guiar para o elevador.—Acredite, eu mesma não aguentaria mais um segundo aqui.—

Você a encarou, arqueando a sobrancelha.

—Senhora Ca—

—Elspeth.—agora a voz era mais séria, como se a paciência dela tivesse se esgotado, você foi apertar o botão do elevador, mas ela notou Oliver saindo da sala e o chamou.—Eu e ela estamos voltando para Saltburn, você pode acompanhar Felix até o médico liberar? Um dos motoristas ficará aguardando.—Você nem se surpreendeu com os acenos exagerados de Oliver.—Você é tão doce, querido. Nós vemos em breve.—a porta do elevador se fechou e você decidiu que era a hora de colocar os pontos nos "I"s.

—Eu não vou para Saltburn.—nem esperou pela reação dela, pois já imaginava qual seria.—Eu entendo a situação delicada do seu filho e eu nao me importaria em visitar se isso ajudar. Mas tenho uma casa.—uma vida.—não posso deixar minhas coisas assim.—fora o mais óbvio, era um absurdo! Você nem os conhecia, ela era uma desconhecida sugerindo que você ficasse na casa da família por tempo indeterminado para que o filho dela, do qual você também não conhecia, se curar de uma amnésia.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos e você quase suspirou aliviada pela reação mais branda do que o aguardado.

—Querida, imagino que você não seja mãe, é?—negou com a cabeça, confusa com o que aquilo tinha relação ao assunto.— Eu realmente não gostaria de fazer algo que pudesse trazer algum dano a você, mas as vezes, é necessário atitudes pela segurança de um filho.—Você sentiu o coração acelerar e prendeu o ar, tentando conter um arregalar de olhos, ela dizia em um tanta classe que soava mais como uma gentileza do que uma ameaça.— Hoje cedo um dos médicos comentou que foi encontrado algo...suspeito, eu achei que seria melhor não reportar a polícia, por enquanto.—ela te encarou e você não conteve uma expressão de choque, estava realmente insinuando aquilo?

— Por que...o que quer dizer com isso? Não fiz nada.— seu sangue parecia ferver diante do absurdo.- por que diabos eu ligaria para uma ambulância? Sequer faz sentido.— em contrapartida ela sorria curto.

Era obvio—pelo menos imaginava que fosse.—ela não achava que você fez algo, se fosse esse o caso jamais te chamaria para a casa. Mas parecia não se importar com as próprias opiniões pessoais, se fosse conveniente.

—Por que esta tão alterada?- perguntou te encarando como se você tivesse totalmente descontrolada e a assustando.—Eu não estou te acusando.—Você odiou o tom de voz desentendido.—Todos nós somos gratos pelo que fez por Felix, inclusive iremos te receber como a verdadeira heroína que você foi.—o elevador abriu e ela saiu na frente mas parou.—Até porquê, cá entre nós, eu odeio o som de sirenes desde criança.— você estava sem palavras, estagnada como se tivesse cola no chão.—Mas é claro, se você quiser pode ir para casa, jamais te forçaria a algo, seria imoral.—Você mordeu o lábio inferior e piscou algumas vezes, se perguntando o que havia de moral em uma ameaça.

Ela permaneceu imovel, e você suspirou, sentindo-se impotente. Queria gritar, fazer alguma coisa, mas sabia que isso não adiantaria. Precisava manter a calma e pensar racionalmente.

Não havia opções. Os Catton eram poderosos e não se importavam com você se deixasse de ser conveniente, Mesmo tendo salvado a vida do filho deles, eles não hesitaram em te prejudicar. Você sabia que se tentasse lutar contra eles, seria derrotada.

Suspirou, sem acreditar que teria que fazer aquilo.

— Fico feliz com tanta gratidão.—você sorriu forçado, quase rangendo os dentes e o sorriso dela se alargou, como se finalmente tivessem falando o mesmo idioma.—Tudo bem.

—Você é tão doce.

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Notas da autora:

Estão gostando da história?

O comentário e o favorito de vocês tem sido minha principal motivação, obrigada pelo apoio e continuem❤

𝐓𝐈𝐌𝐄 𝐓𝐎 𝐒𝐀𝐕𝐄.-𝕾𝖆𝖑𝖙𝖇𝖚𝖗𝖓Onde histórias criam vida. Descubra agora