Capítulo 33

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— Dulce, eu preciso primeiramente que você entenda que muitas mulheres sofrem abortamentos espontâneos em primeiras gestações, infelizmente é altamente comum. — A doutora Diana explicou com toda a paciência que conseguia ter, aproximando-se mais e desligando o aparelho de ultrassonografia. Ela notou que, embora Dulce estivesse em completo silêncio, lágrimas marcavam o seu rosto pálido. — Dulce, infelizmente, não foi possível reverter. Já tinha terminado antes mesmo que você chegasse aqui. Não existia nada que pudéssemos ter feito. Eu sinto muito.

— Por favor, não fale mais. — Dulce pediu, virando o rosto para encarar a parede branca. Sentia um amargor que parecia revirar o seu estômago, um eco em sua barriga e aquele sentimento de inutilidade. Aquela gravidez tinha sido tudo que havia sentido e vivido nas últimas semanas; não a quisera no começo, mas, céus, seu bebê havia se tornado tão desejado por ela. Tinha começado a pegar mania de acariciar o ventre e antes de dormir conversava com a barriga. Agora, o oco que sentia em sua barriga era tudo o que conseguia sentir. — Eu fui irresponsável, e eu o perdi. Está morto. Eu entendi. — Assentiu, olhando para frente. Mesmo em seu silêncio resignado, Dulce não conseguia conter as lágrimas que continuavam a rolar silenciosamente por seu rosto.

— Dulce, eu, como mulher, entendo bem que tudo que você mais deseja nesse momento é ficar um momento sozinha para que possa vivenciar seu luto. — A Dra. Diana falou, atraindo um olhar de Dulce. — Mas eu ainda preciso que você entenda alguns aspectos do seu quadro clínico, pois demandam certa urgência. Você teve o que nós chamamos de aborto retido. Com a queda, você teve um deslocamento da placenta severo, com um sangramento externo mínimo, no entanto com uma hemorragia interna ainda em andamento. — Explicou com os termos mais simples que encontrou.

— Eu vou precisar operar? — Dulce questionou, parecendo meio perdida na conversa.

— Dulce, com o seu quadro clínico atual, existem duas opções para que possamos resolver isso. A primeira seria com o uso de fármacos para que possamos causar a expulsão natural do feto. Esses medicamentos induzem a contração uterina, fazendo com que seu útero chegue ao modo expulsivo semelhante ao que ocorre em um parto normal induzido. A recuperação do corpo é mais rápida, assim como no parto normal, entretanto, esses medicamentos causam um tempo que eu não posso estimar de sangramento, além de poder haver efeitos colaterais como enjoos, vômitos e diarreias. — A médica explicou pacientemente. — Em contrapartida, nós podemos optar pela curetagem de maneira cirúrgica, que, apesar de ser uma cirurgia, não há cortes e nem incisões. É muito mais rápido e bem menos doloroso, no entanto, é um procedimento invasivo, que necessita de anestesia raquidiana e consequentemente da autorização dos seus responsáveis legais, por você ser menor de idade. A recuperação nesse caso demanda mais tempo de repouso.

— Meus pais nem sequer sabiam sobre a minha gravidez. — Dulce confessou com uma caretinha em seu rosto, não tinha como despejar uma bomba daquelas no colo de sua mãe como se não fosse absolutamente nada. — E os dois estão em uma viagem para fora do país, a trabalho, eu não tenho como contar a eles e pedir uma autorização. — Mentiu, tentando dar o máximo de firmeza à voz. — E eu realmente não queria sentir dor novamente. — Falou, sentindo sua voz tremulando ao fim, uma outra lágrima escorrendo por seu rosto.

— Eu precisarei conversar com o diretor do hospital sobre o seu caso, mas tentarei com o meu melhor conseguir uma autorização para fazermos a curetagem. — A Dra. prometeu em um sorriso confiante. — Sua amiga está lá fora preocupada, eu posso mandá-la entrar?

— Não, ela não pode entrar. — Dulce balançou o rosto enquanto se encolhia entre os lençóis, o choro preso em sua garganta. — Por favor, eu realmente preciso ficar sozinha agora.

Em nome da paixão - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora