II - Mês: Janeiro.

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Capítulo 2 — Mês: Janeiro

Durante toda a minha vida, eu sempre me esforcei muito para orgulhar meus pais, agradá-los. Era difícil, pois eles não se deixavam ficar felizes facilmente e não era qualquer coisa que eu fizesse que seria o suficiente. Eu precisava ser exemplar. Eu precisava ser perfeita. Por isso, a carreira de modelo me serviu bem desde os oito anos, como modelo Junior, e pela influência dos meus pais, logo minha fama cresceu e o tempo passou.

Eu cresci. Cresci bonita, não vou mentir ou tentar me diminuir para ser humilde. Mas não posso ser hipócrita em dizer que não entendo o que viram em mim para sempre destacarem minha beleza. Quer dizer, qualquer um que tenha dinheiro e se cuide pode ser bonito.

E eu não tenho nada de especial, então, por quê? Não tenho um bom papo. Gosto de modelar, gosto das luzes e das roupas, dos flashes das câmeras ao focarem em mim e me darem atenção. Mas não entendo o que há em mim que lhes faz me dar sua atenção, entre tantos do meu ramo.

Meus sonhos, os quais precisei guardar bem fundo no meu interior para não me perder, foram esmagados muito cedo, de forma bem cruel, simplesmente desesperançados por serem considerados “sem futuro”. E está tudo bem. Eu aprendi a lidar com isso. 

Tal fato reflete nos meus olhos, mas parece que ninguém vê. Eu não entendo.

Eles me olham, mas não me vêem de verdade, e agora estou aqui, mostrando o que sou e o que quero de uma vez, coisa que muitos chamariam de "ato de rebeldia". Não me importo, na verdade, pois eu sei meus motivos, eu sei o que estou fazendo, eu sei o que eu quero e eu não vou desistir. Esperei o momento certo e, agora, sinto como se estivesse mais perto ainda de realizar meus desejos.

E, talvez, mais perto da morte também.

— O que você estava pensando?! — minha mãe berrou. 

Ainda era cedo, o primeiro dia do ano e, mesmo assim, eu não estava surpresa com seu descontrole. Eles haviam até mesmo adiado o trabalho para “tratar” daquele assunto comigo. Meu anúncio feito à meia noite da virada de ano havia se espalhado rapidamente, as redes sociais estavam eufóricas e os sites de notícia não perdiam tempo, pois, naquele mesmo momento, a nota oficial sobre meu hiatus ainda estava sendo divulgada e com palavras bem diferentes das que usei.

Sentada na cadeira da mesa de jantar, sob o olhar de meus progenitores, me encolhi. Porém, nada disse.

— Porque fez aquilo? Para se vingar de nós? É algum tipo de moda, agora, os filhos serem rebeldes assim? — a senhora Akaashi tornou a perguntar, com seus olhos azuis frios exercendo bem seu papel sobre mim. Me pergunto como podem dizer que sou a sua cópia.

— Acalme-se, Nagayama. — meu pai pediu, sua voz grave adentrando meus ouvidos e reverberando em minha cabeça. Ele permanecia anormalmente calmo. Parecia que os papéis de marido e mulher haviam se invertido, já que eles não costumavam agir assim em situações como essa. 

— Estou calma, Tetsuo.

Ela respirou fundo e eu permaneci calada, alternando o olhar entre o chão e minhas mãos sobre minhas pernas, que se mexiam inquietas. Eu só falaria quando me pedissem.

— Keiji.

— Sim, pai?

— O que aconteceu? Converse conosco. — pediu, mas eu sabia que era uma ordem polida. Respirando fundo uma última vez e ainda sem erguer o olhar para encará-los, abri minha boca.

— Eu queria apenas saber como era a vida de... uma jovem normal. Sem problemas ou responsabilidades adultas. Sem trabalho, contratos, viagens de última hora e imprevistos. 

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⏰ Última atualização: Jan 02 ⏰

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