touch u, Softly

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Is it alright
To feel this way so early?

Era mais um daqueles dias. Aqueles dias que você não quer contatar e ser contatado por ninguém. Um dia que sua mente dá voltas e mais voltas, até se prender em um nó que você não consegue desfazer.
O coração batia forte, seu sangue pulsava avulsamente e talvez, só talvez, suas mãos tremessem. E lá estava ela, mais uma vez, tentando não lembrar do passado. Cathe era difícil, talvez tenha dado esse título para ela mesma por perceber que sua mente pregava peças nela, como por exemplo relembrar traumas e acontecimentos que com toda certeza ela não queria lembrar. As vezes era engraçado se não fosse trágico. Bom, ela tinha esse defeito e não podia mudar — ou podia, tudo dependia dela.

Ainda deitada na cama encarando o teto com alguns adesivos de estrelas já gastos por conta do tempo que estavam colados, Cathe bufava e se virava pelos lados da cama, buscando não pensar mais em nada idiota. Pensava de mais e agia de menos, então se levantou para poder ir em busca do que se ocupar nessa sua crise. Viu o skate jogado no canto do quarto agora menos iluminado por conta do sol que estava se pondo, e em um passo, estava ao lado do objeto, relutando em pegá-lo e fazer bom uso. Fazia um tempo que não andava de skate, porém desviou a atenção de talvez ter se enferrujado para vestir um moletom robusto, colocar toucas e máscaras para não poder ser vista andando de skate naquela pista — digamos que insalubre — perto de sua casa.

Com o moletom amarrotado, touca frouxa e uma máscara não tão confortável, a menina partiu por entre as ruas até chegar na sua tão amada pista de skate, que para sua sorte, estava cheia. Precisava de barulho para afastar quaisquer pensamentos, e uma voz de dentro da sua cabeça a aconselhou a chamar seus dois grandes e confidentes amigos, que eram os únicos que sabiam sobre essa segunda personalidade da menina, a Cathe skatista. Mas logo se desvencilhou desses pensamentos, aliás, queria ficar completamente sozinha hoje, sem ninguém. Agora com o skate seria mais fácil, mas ainda era um pouco difícil não desabafar com alguém sobre o que sentia.
Por que ela se sentia um caco. Um fardo por falar apenas sobre seus problemas. Unicamente sobre seus problemas, os quais ela tentava e estava tentando não dar importância.

A menina se alongou e revistou o shape do skate, que nada mais é do que sua base, aquela madeira. E não, não era o shape de academia. Cathe riu quando se lembrou dessa piada sem graça. Descobriu logo quando começou essa vida de skatista.
Bom, com o shape estava tudo bem, agora com ela...
Cathe então subiu no skate e andou até o início de uma pista imensa. Tinha uns caras que conheciam por conta da vivência ali e estavam indo de um lado para o outro, com muita excelência. Respirou, contou até 3 e se postou a pista. A vontade de sair da crise a impulsionando juntamente com a vontade de andar e executar aquelas manobras muito melhor que os caras que antes olhava. E desceu pista a baixo.

Cathe chegou em casa e se livrou das roupas pesadas, indo tomar um banho e dormir. Sua cabeça vez ou outra pregava as peças, mas já estava bem melhor. Olhou fixamente para o espelho do banheiro, respirando fundo para encarar a água gelada que iria cair pelo seu corpo, e conseguiu tomar banho e dormir.
Sua família achava que estava tudo bem com a garota, nem se deram conta que ela saiu por umas horas — isso apenas alguns dos irmãos já que os pais estavam a trabalho e sua governanta sabia de tudo.

Cathe era a segunda filha de um casal rico, um dos mais ricos da cidade, para falar a verdade. Ela nunca reclamou da popularidade dos seus pais e muito menos do dinheiro. Se sentia confortável por viver uma vida confortável, mas às vezes tudo o que queria era dissipar tudo aquilo, principalmente o fato dos seus pais serem conhecidos por aquelas bandas. E é justamente por isso que Cathe se escondia, muitas das vezes.

Tudo o que conseguiu fazer naquela noite foi dormir, como planejara. A brisa noturna entrava pelas janela e a única luz era a que persiana deixava passar. Tudo estava calmo, menos o subconsciente da menina, que parecia ter algum tipo de pesadelo. Cathe acordou assustada e com seu coração batendo como se estivesse prestes a sair do peito.

— Droga — Bufou, se levantando para tomar um copo de água.

Descia as escadas calmamente para não acordar ninguém da casa e finalmente chegou a cozinha, pegando um dos copos apoiados em uma das prateleiras e encher de água. Porém, logo viu um vulto preto passando por entre o corredor que dividia a grande porta de entrada e o térreo. E como se não pudesse piorar, aquela sombra, que antes estava longe, agora se aproximava. Bom... Cathe não poderia deixar de acreditar em fantasmas nesse momento, ou poderia?

— Catherine! O que você 'tá fazendo aqui? — A menina deu um pulo ao perceber que aquela tal sombra assustadora era apenas seu irmão chegando de uma noitada.
— Eu que te pergunto. O que você 'tá fazendo aqui? — Respondeu sarcasticamente — Você deveria estar dormindo e não acabando de chegar de uma festa — Olhou de cima a baixo para seu irmão.
— Você também! E outra, isso não é da sua conta — A menina deu de ombros e voltou a beber seu copo d'água — Amanhã é seu primeiro dia, né? — O garoto agora se apoiava na bancada no meio da cozinha, examinando sua irmã.
— Sim — Ela pigarreou — Primeiro dia... — Cathe agora estava pensativa. Aquela sensação que tanto lutou para que permanecesse enterrada voltou, deixando-a tonta. Seu irmão talvez tenha percebido, pelo menos ela queria que ele percebesse ao invés de ser um idiota.
— Boa sorte — Ele saiu da bancada com um sorriso. Talvez ele realmente tinha percebido que ela não queria que tocassem no assunto — Na minha época o último ano foi o melhor, espero que o seu seja também, maninha — Ele não saiu da cozinha sem antes bagunçar os cabelos da menina, que suspirava pesadamente. Amanhã prometia, e não era em um bom sentido. Ou era?

Subiu as escadas apressada pois não queria perder o sono mas tudo o que queria era chorar em cima da cama até dormir. Estava a poucas horas de chegar ao lugar que compartilhou de tantas coisas boas e... Ruins. Talvez nos últimos meses de ano letivo foram apenas borrões de felicidade e ardências de melancolia mas por sorte ela se permitiu chorar e conseguir dormir.

O alarme despertou exatamente às 05:00 da manhã e Cathe abriu os olhos ainda preguiçosa, não queria levantar da cama fofa e ir a escola. É, escola. Ela estava prestes a fingir uma doença ou suplicar a Tara, sua governanta, que a deixasse ficar em casa não só hoje, mas todos os dias de ano letivo. Porém a mais velha bateu na porta do quarto fazendo com que Cathe afastasse seus pensamentos.

— Srta. Catherine? — Ela adentrou o quarto e abriu a persiana e Cathe colocou a mão no rosto por conta da claridade — Levante-se.
— Sem formalidades logo cedo, Tara — A morena sorriu — Não queria que a escola começasse tão cedo, isso deveria ser considerado um crime, sei lá.
— Vamos, menina, ânimo! Você é jovem ainda, tenho certeza que pagará com a língua quando estiver lá — Talvez Tara não estivesse errada, mas ainda sim era difícil para ela. A mais velha logo se lembrou do que aconteceu e se sentiu culpada por exigir da menina. Prontamente ela se sentou na frente de Cathe e acariciou seus cabelos — Sei que deve está sendo difícil, é de imaginar que você pensou e está pensando nisso  nos últimos dias, mas siga em frente, tente não pensar muito e lembre que ainda tem amigos e uma etapa a ser concluída esse ano — Tara depositou um beijo na bochecha da menina.

O humor de Cathe mudou, ela agora sorria levemente e um pingo de otimismo atravessou seu peito. Sorriu para a mulher a sua frente.

— Como sabe que eu estive pensando nisso, Tara? — Brincou.
— Oras! Conheço você a 17 anos, seria impossível não ficar a parte da situação!
— Acho que sou previsível.

O dia estava se encaminhando para ser bom e Cathe torcia para que a atmosfera que ali estava, dentro do seu quarto, perpetuasse para todos os ambientes que ela precisasse colocar os pés.

Com o uniforme posto e passado, o cabelo perfeitamente arrumado, uma maquiagem leve e um aroma doce, Catherine entrou no carro a caminho da escola junto com seus irmãos. Mesmo que estivesse pensando de mais, ainda tinha uma reputação a zelar, aliás, ainda era Catherine.

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⏰ Última atualização: Jan 03 ⏰

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