Capítulo I

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Supergigantes azuis e anãs vermelhas

Para Cellbit, se pessoas fossem estrelas ele seria uma anã vermelha, essas são as estrelas mais comuns do universo, possuem um brilho fraco

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Para Cellbit, se pessoas fossem estrelas ele seria uma anã vermelha, essas são as estrelas mais comuns do universo, possuem um brilho fraco. Ele se sentia assim na maior parte do tempo, não havia nada de novo em si, não havia muita luz em meio a suas trevas.

Já Roier seria como uma supergigante azul, elas são raras, quentes e brilhantes. Para ele, essa definição se encaixava perfeitamente com o androide. Mesmo que existissem muitos de seu modelo, algo nele o fazia ser único, Cellbit não sabia dizer exatamente o que, talvez o jeito espontâneo, a personalidade, que, em sua opinião, era encantadora, a animação que aquecia e iluminava qualquer um ao seu redor.

Cellbit, no começo, não era o maior fã de androides, para ele máquinas não só fazendo o trabalho humano, como imitando suas reações e emoções era, no mínimo, bizarro. Mesmo depois da revolução, ele não estava convencido de que eles realmente tinham uma consciência, emoções e sentimentos, para ele era apenas uma programação bem feita.

Então, é de se imaginar seu desgosto quando foi posto para trabalhar com um. Tudo ainda era muito novo, foi realocado para um setor específico para crimes cometidos por ou contra androides. Para ele, Roier era no mínimo irritante, animado, falante e empolgado demais, contrastando com sua personalidade fechada e focada. Quem havia programado aquele androide tão irritante? Era a pergunta que se fazia todos os dias durante o início de sua parceria. Era estranho ter que conviver com algo que parecia humano, falava como humano, agia como humano, mas que não passava de alguns códigos de programação, mesmo que às vezes parecesse genuíno demais.

Foi apenas meses depois, quando Roier o confrontou, indagando o motivo do tenente parecer o detestar, que sua opinião pareceu fraquejar. Cellbit não se orgulhava das coisas que havia dito, comparando o outro com uma máquina, questionando se deveria começar a tratar o celular dele como um ser vivo também. O olhar do outro foi dolorido, triste e real demais, nunca havia visto um androide chorar, nem sabia que eles podiam o fazer.

Quando contou a Forever, seu melhor amigo há anos, o mesmo quase lhe agredira, o loiro sempre foi contra aquilo tudo, sempre pareceu ver humanidade no que os outros consideravam máquinas, Cellbit não sabia, mas na época ele estava começando um relacionamento com um androide que conhecera durante a revolução, Quackity, que ele viria a conhecer posteriormente.

Depois do dia que fizera Roier chorar, sua opinião sobre tudo aquilo começou a mudar, durante os dia que se seguiram, o androide passou a ignorá-lo tanto quanto podia, parecia abatido e genuinamente triste. Juntou coragem para quebrar seu orgulho e se desculpar por dias. E ele o perdoou tão fácil, e demonstrou certa felicidade genuína com o pedido de desculpas, que Cellbit se sentiu ainda pior, e aquele também foi quando ele começou a entender e perceber o quão precioso seu parceiro de trabalho era. Desde então, eles começaram a cultivar uma amizade crescente.

Roier sempre lhe cumprimentava com um sorriso assim que chegava no departamento de polícia, e Cellbit, com o tempo passou a não só suportar seu jeito genuíno e empolgado, como a admirá-lo. Eles frequentemente iam aos happy hours com o resto da equipe, mesmo que o androide não comesse ou bebesse, de fato, ele constantemente se via encarregado de cuidar do tenente quando acabava passando da cota. De alguma forma ele se tornara amigo do namorado de Forever, então acabavam se encontrando mesmo fora do horário de trabalho. Ele sequer percebeu quando se apegou tanto ao outro.

O que nos leva a atual situação do detetive e tenente de polícia. Roier estava o ignorando, de uma forma tão óbvia, desesperada e repentina, que ele se pegou repetindo em sua mente as próprias ações dos últimos dias, não parecia haver nada de diferente na rotina deles. E não era como da última vez que que fora ignorado, em que o outro tinha um brilho triste no olhar, e uma expressão abatida. Dessa vez, ele parecia aéreo na maior parte do tempo, perdido nos próprios pensamentos, sempre nervoso quando era obrigado a interagir com Cellbit por conta do trabalho, evitando olhar em seus olhos como se isso fosse custar sua vida.

E ele também não sabia quando passou a se importar tanto com o outro que isso era o suficiente para doer em seu peito como se seu coração fosse esmagado e arrancado do peito.

No atual momento ele estava em seu apartamento, a cidade de Detroit era chuvosa e fria naquela época do ano, logo a primeira neve do ano cairia, e com ela viriam as festas de fim de ano. E Cellbit se sentia incrivelmente solitário. Não fazia sentido, estava tão acostumado a ter apenas a presença de Richarlyson, seu cachorro – agora deitado ao seu lado no sofá da sala – e sempre lhe pareceu o suficiente. No entanto, seu pequeno apartamento parecia enorme, e incrivelmente vazio e melancólico. Sentia culpa por algo que nem sequer sabia se tinha feito. Considerava sua atitude de pegar o celular e ligar para o melhor amigo um ato de desespero.

— Eu não sei o que fiz, Forever – não se orgulhava do tom choroso com que dissera isso. — Ele só foge de mim como o Diabo foge da cruz.

— Já pensou em conversar com ele? – a voz do outro lado da linha fazia parecer que seu amigo tentava a todo custo segurar a risada.

— Como? – ele ignorou o tom risonho. — Ele simplesmente inventa qualquer desculpa pra se afastar quando eu me aproximo.

— Talvez ele esteja confuso ou assustado com alguma coisa, Cellbo – pode ouvir a risada de Quackity do outro lado da linha. —Tenta ser mais incisivo, mas sem deixar ele acuado, talvez vocês só precisam conversar pra entender o que tá acontecendo.

Be Human With Me || GuapoduoOnde histórias criam vida. Descubra agora