Ao atravessar a porta, Rayane estava com doze anos. Ela vestia uma roupa rosa de ballet e seus cabelos estavam presos numa redinha.
— Ray, você é a próxima — anunciou sua professora.
A garota foi praticamente empurrada para um extenso palco de madeira lisa. Seus olhos passearam assustados pela enorme plateia que a encarava.
Percebendo estar num teatro, Ray avistou sua professora, fazendo um gesto para ela ficar calma e relaxar.
Rayane inspirou fundo e começou a dançar com graciosidade. Seus movimentos eram perfeitos, totalmente alinhados, como numa carta de amor.
Aproximando-se do final do recital, Ray executou um salto, atirando suas pernas com energia, elegantemente esticadas, pousou com primor, e sorriu, com lágrimas de júbilo, à plateia que a admirava.
Contudo, seu sorriso desvaneceu.
— Não foi isso que aconteceu.
De súbito, o teatro envolta de Rayane transformou-se no salão do estúdio de dança que ela costumava praticar.
Na sala não havia música, nem mesmo o som do bater de asas de uma mosca era ouvido. Ray estava sozinha diante do grande espelho, imobilizada, mirando seu próprio reflexo.
Entendendo que Rayane não se moveria, seu reflexo sorriu e começou a executara dança que realizara minutos antes no falso recital. Ela levou as mãos à boca e gritou, apavorada.
Sua mente inquietava-se, mas em seu coração brilhava um sentimento de contentamento. O reflexo fazia com perfeição os movimentos que ela nunca conseguira – ou achava nunca ter conseguido –, saltando com o máximo esplendor.
Mas ao aterrissar, o reflexo desorientou-se e caiu de mal jeito, fazendo Ray soltar um grito estridente e desmoronar no chão.
Ao contrário do seu reflexo, seu tornozelo direito enrubesceu e inchou como a perna de um elefante. Estava quebrado, de novo.
Ela teria conseguido mancar à saída, mas o reflexo, já erguido, entortou forçadamente o próprio pé esquerdo, quebrando o outro tornozelo de Rayane, que emitiu um novo brado de dor.
Em seu sofrimento e tortura, ela arrastou-se com as unhas até chegar a porta, conseguindo escapar de seu carrasco.
Cruzando a porta, Rayane encontrou-se num corredor de madeira e, no fim do cômodo, havia o retrato de uma idosa de cabelos muito brancos.
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A Dama Branca
HorrorDurante o período de feriado, quatro amigos se reúnem em um chalé remoto para curtirem longe dos pais. Porém, as coisas ficam estranhas quando eles começam a escutar uma cantiga infantil ecoando pelos ventos: "Se essa rua, se essa rua fosse minha...