Medicado.

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🏴‍☠️ Há muito tempo tenho evitado falar como eu me sinto. Na verdade, só trabalho nessa lojinha porque realmente preciso do dinheiro - e quase nunca esse dinheiro é suficiente. Moro sozinho desde os 16 porque estava cansado de ouvir minha mãe dizendo "bom dia" - geralmente, ele nunca era bom. Tudo é chato!

Sempre esqueço de dizer que há tempos também tenho tentado lidar com uma doença, quase um vício, chamada introversão. Ela me puxa para dentro de um abismo e, sinceramente, sequer pretendo tentar escapar. Os remédios que eu tomo foram prescritos quando eu tinha 14 anos e eu não me lembro quando foi que comecei a tomá-los. Apenas me viciei e não consegui mais deixá-los. Uma vez eu até tentei, mas uma sensação de trevas tão grande se apoderou de mim que eu quase cometi uma loucura.

As pessoas costumam julgar meu afastamento e tentam me forçar a situações extremamente desgastantes, que me esgotam e me deixam ainda pior. No fundo, todo mundo se importa com seu próprio bem-estar e isso me desmotiva ainda mais.

Enquanto corria pelos prédios, saltando escadas e pontes, pensava que o mundo é uma droga e tudo dá na mesma. Sigo existindo dia após dia. Tudo é mesmo muito chato!

Desde que a Colette chegou para trabalhar na loja, não sei mais o que é silêncio, por causa de suas constantes perguntas, entrevistas, tentativas de deixar meu visual "um pouco mais animadinho" e intromissões que me fizeram dobrar a dose de um remédio que eu nem sei se eu deveria estar tomando. Também não sei por que continuam me vendendo.

Meu estilo de roupa, tudo foi alterado por essa garota. Bangue-bangue, Asa Preta, Orochi e o ridículo Tata, todos desenhados por ela, então, para me defender desse ataque de histeria, criei uma máscara: eu era o dono do nosso universo e ela precisava me obedecer. Não sei se por loucura ou conveniência, essa menina apenas seguiu o jogo e, basicamente, criou uma dependência quase insana em relação a mim. Seu mundo era Spike, Piper e eu.

Após almoçar, naquele mesmo dia, e pensar na real possibilidade de abandonar aquele emprego, procurei o consultório do doutor Byron, um psicólogo que se dizia especialista em Psiquiatria e grande conhecedor e pesquisador da Medicina Alternativa. Seu consultório mais parecia um oráculo, cheio de cores e aromas que quase não me deixavam pensar no meu problema. Faltava espaço para mim naquele lugar. Eu já ia saindo quando ouvi sua voz me chamando. 🏴‍☠️

🩺 - Já estou acostumado aos pacientes que tentam fugir. Se aproxime.

Edgar e Byron se encaminham para uma sala. Há uma grande poltrona roxa reclinável. A sala é completamente branca. Sobre uma mesa com um computador diante de uma estante repleta de livros e outros materiais, Edgar se retrai. Logo, se deita na poltrona.

🏴‍☠️ - Não quero estar aqui.

🩺 - Ninguém quer. Ninguém quer estar doente, Edgar. Você está doente?

🏴‍☠️ - Não mais do que a Colette.

🩺 - Por que diz isso?

🏴‍☠️ - Não acho que querer paz seja doença. E ela não me deixa em paz.

🩺 - O que aconteceu naquele dia, Edgar?

🏴‍☠️ - Ela já tinha me irritado o dia inteiro. Pedia silêncio e ela simplesmente me ignorava. Mostrava tudo o que já tinha roubado de mim... Meus fones, um fio do cabelo, meu esmalte preto, cada um dos meus comprimidos, um par de luvas... As páginas do diário são pretas com caveiras e, nele, ela me chama de Eddie. Desenhou minhas roupas... Ela... ela me pediu para "autografar" aquelas páginas e, na moral, eu até faria, quando percebi que ela tinha passado de todos os limites.

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