Mon Doux-Amer | Meu Doce-Amargo• Mixte1963

Mon Doux-Amer | Capitúlo 01 parte um

O verão francês estava quase acabando e Michèle Magnan sentia sua ansiedade aumentar a cada minuto. Ela tentava desembaraçar os nós dos cabelos louros em frente ao espelho de seu quarto, mas sua mente vagueava por outros lugares. Dentro de alguns dias seria oficialmente o fim das férias e o retorno do período escolar.

Entretanto, não era mais uma aluna da Saint Jude, uma pequena escola católica que ficava nas extremidades da cidade e que era composta apenas por garotas. Agora, Michèle estava devidamente matriculada no Lyncée Voltaire. Uma escola só para garotos.

Assim como todos, no início, Michèle também estranhou a ideia, que foi considerada absurda para o ano de mil novecentos e sessenta e três de misturar garotos e garotas em uma única escola. Era simplesmente algo novo, um tanto esquisito e que ela tinha a certeza de que não queria participar, mas depois de perceber que era sua única chance de ter alguma educação, agarrou essa oportunidade com todas suas forças.

Michèle vinha de uma família simples. Moravam numa cidadezinha rural no Sul da França que se chamava St Jean d'Angely e que ficava próximo a La Rochelle. Seus pais possuíam um açougue na parte debaixo da casa e os clientes regulares eram geralmente os próprios moradores do bairro e região. Não chegava a ser um negócio grande, mas pagava as contas do mês e garantia comida na mesa. O estabelecimento era tudo o que os Magnan possuíam e também tudo o que importava para eles.

Inclusive, colocavam o açougue acima das necessidades da própria filha. Antes do anúncio feito no início do verão pelo Senhor Jacquet, o diretor do colégio Voltaire, de que a instituição que um dia foi exclusivamente feita só para garotos estaria agora admitindo garotas, os pais de Michèle queriam retirá-la da antiga escola, já que segundo eles, a Saint Jude era muito longe e a Magnan mais nova chegava tarde demais para ajudá-los.

Então essa nova mudança caiu como uma luva, e se tornou a única chance de Michèle concluir os estudos e conseguir um diploma. Ela precisava estudar no colégio Voltaire, ou não estudaria em lugar algum.

Apesar de seus pais serem extremamente conservadores e a ideia de uma escola mista soar liberal demais, eles concordaram em matriculá-la, somente porque tanto Jean-Pierre quanto o tio de ambos e coordenador da escola, Paul Bellanger, estariam lá para tomar conta dela.

Gérard Magnan, seu pai, estava na casa dos cinquenta e já era possível ver as falhas de seu cabelo que um dia foi volumoso e de um tom vívido de castanho escuro.  Ele estava um pouco acima do peso por conta de bons longos anos sem praticar algum exercício físico. Poderia ser definido com um homem de poucas palavras e de poucos sorrisos, o que não se aplicava apenas é claro, quando os negócios iam bem ou quando o irmão de Michèle, Jean-Pierre tirava notas boas.

Sua mãe, Germaine Magnan, era uma mulher de estatura baixa e cabelos louros iguais ao de Michèle. À primeira vista poderia parecer bastante amigável, especialmente com os clientes e com o filho mais velho. Mas na realidade era um tanto fria, bastante rígida e podia-se dizer que era ela quem ditava as regras da casa. E obviamente, só tinha olhos para seu querido filho Jean-Pierre, seu maior orgulho.

Michèle muitas vezes se sentia de fora naquela família, como se ela não fosse uma Magnan de verdade, como se não existisse para eles. Talvez fosse adotada, ou talvez ela apenas não era boa o suficiente. Não como seu irmão.

Jean-Pierre era o irmão mais velho de Michèle e eram totalmente opostos. O irmão era alto, atlético, estava sempre muito arrumado, usando ternos bem passados, com os cabelos castanhos penteados e os olhos verdes vibrantes. Ele parecia um ator de cinema. E como se não bastassem tantas qualidades, ainda tinha ótimas notas. Todos diziam que ele teria um diploma e seria alguém na vida.