Havia vários garotos pelos corredores então Michèle supôs que já deveria estar na hora do intervalo. Procurou então por Simone, vagueando pelo pátio para ver se a encontrava.
— Michèle. — Seu irmão Jean-Pierre surgiu por trás agarrando o braço dela e a guiando até um muro de pedras, onde ninguém pudesse vê-los.
A Magnan mais nova ficou surpresa com tamanha ousadia do irmão, já que até poucas horas atras eles não eram mais parentes.
— O que aconteceu aquela hora? — Jean-Pierre encostou-se na parede de modo a bloquear a visão de qualquer um. — Te vi no corredor no meio da aula. Você não foi suspensa no primeiro dia, né? — perguntou num tom acusatório.
Michèle balançou a cabeça em descrença. Estava farta daquele dia. Estava farta de todos.
— Por que tá falando comigo? Eu nem te conheço. — A Magnan passou direto por ele.
— Se cuida, Michèle. — Jean-Pierre agarrou o braço dela mais uma vez. Ele torceu o nariz ao analisá-la de cima a baixo. — E ponha uma roupa decente. — Reclamou finalmente a soltando.
Michèle foi embora sem nem olhar para trás. Estava cansada de Jean-Pierre também. Tudo o que ela queria era um bom primeiro dia de aula, mas tudo parecia conspirar contra si.
Avistou Simone que descia os degraus de uma das varias escadas que havia no pátio.
— Tudo bem? — Simone perguntou assim que se aproximou. — O seu tio não deu muita bronca, né?
— Não. — Michèle respondeu. — Mas nem os professores gostam da gente aqui.
— Os professores talvez, mas os garotos não sei não. — Simone deu um sorriso travesso. — De ver o jeito que eles olham pra gente eu acho que eles estão bem contentes.
Michèle soltou uma risadinha.
— Você acha? — Michèle cochichou.
Simone concordou com um leve aceno de cabeça.
Mas por algum motivo, Michèle pensou em Descamps e em Laubrac e em tudo que havia acontecido ate o momento.
— Não os da nossa turma. — Ela concluiu.
— Os da nossa sala ainda são imaturos. Eu to falando do segundo e terceiro ano. — Simone parecia ter certeza do que falava. — É para eles que a gente tem que olhar.
Michèle cogitou essa possibilidade. Talvez Simone estivesse certa e ela deveria deixar os meninos de sua classe de lado.
— Espera ai, eu to apertada. — Simone correu para o banheiro mais próximo, porém saiu logo em seguida dando risadas — É o banheiro dos meninos, eu dei de cara...
— Ei! Qual é o seu problema? — Um menino surgiu gritando do banheiro.
Michèle e Simone saíram correndo dali, ás gargalhadas. Talvez o colégio Voltaire não fosse tão ruim assim.
Logo estavam no refeitório e sentaram-se junto as outras garotas. Curiosamente Annick também estava lá. Michèle se serviu com um pouco de purê de batatas e linguiça defumada.
— O professor de latim deixam vocês falarem quando levantam a mão? — Uma das garotas perguntou atraindo a atenção de todas.
— Não. Ele finge que a gente nem existe. — Simone respondeu enquanto comia seu purê.
— Você é sobrinha do coordenador? — Annick se dirigiu a Michèle. Aquela era a primeira vez que a loira falava com ela.
Michèle bufou um tanto cansada. Não queria ser associada ao seu tio.
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Mon Doux-Amer | Meu Doce-Amargo• Mixte1963
RomanceMichèle Magnan x Joseph Descamps Na França de 1963, o Colégio Voltaire, antes exclusivamente masculino, enfrenta transformações ao admitir alunas pela primeira vez. Michele Magnan, a filha caçula dos Magnan, busca encontrar sua identidade além da so...