Tudo bem não estar bem

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Oiê
Gente, eu ia escrever outra coisa (só pra variar), mas... Enfim, desculpa.

Eu ia escrever algo assim de qualquer forma nesse capítulo, mas não era pra ter essa intensidade toda.

Digamos que foi uma rota de fuga, uma válvula de escape desta autora.

Se você não estiver bem, não leia... Sério.

Conteúdo sensivel e com gatilhos desde a primeira frase.

Boa leitura.

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Quando abriu os olhos ele soube: esse seria um péssimo dia.

A noite fora maravilhosa, ainda tinha resquícios dessas lembranças pairando por sua mente. A vivência com seu amor transformava seus dias em pura alegria e leveza, era como flutuar sobre os caminhos que a vida o levava, mas lá no fundo ainda haviam alguns demônios, sempre prontos para brotar e atacar por qualquer brecha que surgisse para a superfície de sua consciência. Bastava um pequeno momento de fragilidade.

O peito apertou a ponto de não conseguir respirar direito. Fechou os olhos novamente e tentou se controlar. O coração disparou magoado, cada batida fazia com que seu corpo vibrasse na cadência acelerada e dolorida. Apertou as pálpebras, lutando contra a vontade que tinha de se encolher diante das memórias que o assolavam novamente, trazendo junto toda a dor que sempre o devastavam desde os malditos acontecimentos.

Bem como todo seu passado, suficiente para gerar pequenos traumas, talvez nem tão pequenos assim.

A vida é uma bruma, nunca sabemos o que nos espera. Sabemos apenas do nosso passado que, quando presente, não conseguimos dar o devido valor ou mesmo sentir com toda a intensidade que a saudade e pesar nos permite. Revisitar o passado nos faz perceber detalhes antes não vistos; perceber palavras e atitudes que nos machucaram, deixaram cicatrizes profundas e grosseiras, e que hoje nos coçam a consciência tolhendo nossa paz.

Quando as cicatrizes se sobrepõem, se acumulam, se amontoam em agonia, nos gera a sensação de desespero, de sentir-se encurralado, sem saber para onde correr.

E sem saber para onde correr, apenas permanecemos estáticos, a mercê da intrínseca existência abalada, frágil e sem defesa contra a própria mente.

As lágrimas começaram a correr em seu rosto e ele seguia lutando bravamente contra todos os seus sentidos, instintos e vontades. Estava tenso, tudo era dor. A garganta doía com o nó enorme que crescia a ponto de lhe trancar a respiração; o corpo latejava insistentemente na tentativa de acolher-se em si para ter o mínimo de conforto diante do desespero. Não queria que ninguém o visse daquele jeito, mas desta vez não tinha como se fechar no respectivo quarto e fingir que estava tudo bem.

Estava acompanhado.

Era rodeado amorosamente em um abraço possessivamente cuidadoso.

Cercado por um corpo que o cingia de amor.

Pensar nisso foi o estopim.

Finalmente liberou o grito gemido que estava preso em sua garganta, chorando todas suas dores, lamentando toda a existência de seu ser naquele instante, encolhendo-se para guardar-se em si, como se em posição fetal pudesse novamente ter a proteção do ventre que o criou.

O pranto veio como uma torrente, como a água que corre morro abaixo após uma chuva forte e passa a encher os lagos e córregos de forma assustadoramente rápida, sem dar tempo de retirar vidas e objetos do caminho.

Como o fenômeno chamado "cabeça d'água", o choro veio lhe arrancando tudo o que havia guardado no peito e transbordando por seus olhos, já inchados pelas lágrimas abundantes.

Conclui-se que... (Kelmiro)Onde histórias criam vida. Descubra agora