Communication is key and fear is valid

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Primeiras vezes que marcam sem ambiguidade que se está crescendo têm um impacto inevitável, mesmo que o fato em si seja óbvio na parte consciente. Pelo menos, era como Felix enxergava, do momento que desceu do trem ("Maria-Faísca", como chamavam lá, a irmã de distância média da "Maria-Fumaça" de longas; apelidos para objetos são uma coisinha curiosa) no local marcado no mapa.

Havia crescido, e chegado ao extremo lógico de "sair de casa". O lugar em si não era tão surpreendente àquela altura, não depois de ter passado pela rua e observado pilares que erguiam cabos no ar, de construção em construção. Não, a maior surpresa foi pensar em como ainda precisavam de gente para o lugar funcionar. Devia ter alguma logística que Felix não conhecia e não era de seu interesse.
A pessoa responsável devia estar esperando, e reconheceu rapidamente - nenhuma surpresa, a maioria lá era morena ou loira, e mesmo os últimos tinham um mínimo de tom. Felix era ruivo, com toda a palidez e sardas que aquilo dava direito, além dos olhos verde limão cuja impossibilidade de poder comparar a uma joia era uma das decepções da vida.

A pessoa - um homem de meia idade com um bigode estiloso - o acompanhando parecia ser um tipo paciente, por como suportava a corrente de perguntas. Não perguntas idiotas, lógico que não, até parece que ia entrar lá sem saber que ia fazer numa usina de capital, era só para evitar acabar fazendo besteira.

O lugar era gigante, maior até do que o local em que estudou, e gente andando de um lado a outro, às vezes até para cima e baixo, em passarelas erguidas no ar. Definitivamente não era baixa a possibilidade que ia acabar se perdendo, mas paciência. Pensando bem, fazia menos sentido ter chegado sozinho em vez de em um grupo, como tantos outros. Sim, a necessidade de ferraria era bem menor do que outras, mas ainda era manutenção, não era? Uma pessoa entrar é suficiente para um lugar tão grande?

-- Você não vai ficar zanzando, é claro. -- seu veterano falou, abrindo outra porta -- Aqui é o seu canto, onde outros podem te encontrar se precisarem de você. Não se preocupe com tédio, você não vai ficar parado muito tempo.

-- Isso não parece muito confiante. Eu ser necessário com muita frequência não é uma bandeira vermelha?

O homem mais velho sacudiu a cabeça, e deu a Felix uma expressão que parecia estar se divertindo com saber algo e não contar.

-- Você vai entender logo, moçoilo.

-- Não sou nenhum moçoilo, já tenho vinte e dois.

-- Claro, claro. Outra coisa pra você entender, quando passar dos quarenta. 

Os quarenta ainda estavam bastante distantes, mas em questão de dias entendeu o primeiro aviso: manutenção ia além do sentido usual de arrumar coisas quebradas ou funcionando mal, e aberturas fáceis são comprometedoras, então, pé no chão, fundidor. Até em lugar que nem imaginava antes que precisaria de um fundidor, como onde ficavam o pessoal de gelo. Aquelas presenças sim, pegaram Felix completamente desprevenido.

Não eram muitos, não era necessário haver muitos, então não trombava com eles com frequência. Talvez meia dúzia, se não tivesse misturado um com outro por causa da velocidade com que lhe davam as costas quando não era de interesse interagir consigo. O que esperar de alguém vindo de um lugar em que portas constantemente são bloqueadas por vários centímetros de neve?

Definitivamente não provocações, mas recebeu mesmo assim depois de algumas semanas. Não algo generalizado, a maioria dos congeladores era civil o suficiente. Não, era em particular que pareceu ter cismado consigo e o recebia com passivo agressividades, indiretas o bastante para não prontificar um superior se envolver. 

-- Não leve isso pessoalmente. -- um outro gelado indicou depois de o chamar para cuidar de uma fundição (o coitado estava em roupa tão fina que podia ver a cor da pele e ainda suando como tampa de chaleira, devia ser difícil) -- Simon não desgosta de você, honesto. Só gostava do outro cara e tá putinho que foi chutado.

Frost and flameOnde histórias criam vida. Descubra agora