Ele

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- Droga, como assim vocês entregaram minha filha para um cara que se diz pai dela e vocês nem sabem se é verdade ou não?

- Desculpa senhora, mas ele disse que a senhora tinha autorizado-o a levar a menina para um passeio no parque.

- Como assim? Vocês são uns irresponsáveis. Onde é que ele disse que estava levando ela?

- Ele disse que estava indo com ela até o Central Park e ele dis...

Nem escutei o que ela estava falando apenas comecei a correr. Daqui até o central park era questão de uns quinze minutos.

Enquanto eu estava correndo eu só conseguia me perguntar se era o Thomas ou era um sequestrador que mentiu e levou minha filha. E eu não conseguia adivinhar qual seria pior.

Quando cheguei, parei e olhei em volta. Como é que eu vou achar eles aqui no meio desse monte de gente?

*

A essa altura do campeonato eu já estava chorando desesperada.

- Mamãe.... - Uma coisinha minúscula agarrou minha perna.

- Filha... Meu Deus você está aqui. Que bom filha, ai meu Deus, que susto você me deu.

- Calma mamãe eu só estava brincando com o papai. - Olhei pra cima e lá estava ele.

Thomas. Bem na minha frente. Em carne e osso.

*


Como é que ele tinha coragem de estar aqui e ainda olhar pra Mel, minha Mel, com esse sorriso idiota no rosto?

- Seu o que? - Peguntei pra Melanie.

- Ele disse que é meu papai. - Ela respondeu toda sorridente.

- Seu papai? Ele não é bosta nenhuma ele é apenas um filho da ... - Parei a frase no meio pois queria poupar minha filha. Eu não podia confundi-la mais ainda. Depois de três anos sem um pai, agora ele aparece. Ela deve estar muito feliz e confusa e eu não posso piorar isso.

Então apenas peguei ela no colo e fui andando.

- Mamãe aonde a gente vai? E ele? Onde o papai vai?

- Não sei filha, ele vai pra algum longe daqui e a gente vai pra casa.

- Porque mamãe?

- Porque sim Melanie.

- Você quer que eu vá com você querida? - Ele perguntou e eu ouvi aquela voz.

Tive vontade de voar no pescoço dele. Mas ao invés disso apenas me virei e o encarei.

- Quero, eba. Quero sim. - Respondeu Melanie.

- Mas que porra você está fazendo? - Perguntei pra ele, porque eu realmente não entendia o porque dele estar aqui e colocar essas coisas na cabeça da minha filha.

- Nada, eu só quero conhecer minha filha. Eu tenho esse direito.

- Sua filha? Meu Deus, quando foi que você percebeu que tinha esse direito? Você está três anos atrasados, sinto te informar.

- Nunca é tarde.

Depois dessa frase idiota eu voltei a andar, tentando ignorar o fato de que esse cara tava vindo atrás. Além de me roubar tudo, e de me largar grávida, ele ainda tem a coragem de voltar e falar que "nunca é tarde".

Mas que grande merda.

Chegando na lanchonete coloquei a Mel no chão e ia entrando quando ele perguntou.

- Você mora aqui?

- Sim. - Respondi e me virei, encarando-o.

Se ele fizer a pergunta que eu acho que vai fazer... Eu mato esse filho da mãe.

- Porque? - Falou ele, na maior cara de pau que eu já vi na minha vida.

- Porque? Haha... Você ainda tem a coragem de falar porque? Deve ser porque alguém roubou tudo que era meu, me deixou com uma mão na frente outra atrás, grávida e sozinha em Nova York. Deve ser por isso. - Falei. Virei as costas pra ele e entrei na lanchonete.

- Julieta!!! Você está atrasada. Muito atrasada. - Falou Carlos meu chefe.

- Eu sei, me desculpe é porque houve um imprevisto.

- O que ele está fazendo aqui? - Perguntou Mary, apontando atrás de mim.

Me virei e percebi que ele ainda estava aqui.

- Eu também não sei porque ele ainda está aqui. - Falei com toda a minha sinceridade.

Eu não fazia a menor ideia do porque ele veio pra cá, porque ele veio atrás de mim, e porque ele ainda estava aqui.

Só podia ser pra fazer da minha vida um inferno, de novo.

JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora