4-Lembranças

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  O pedaço de mal caminho abriu um sorriso meigo. Fiquei meio desconfortável mas fui em sua direção.

  –Olá, posso anotar seu pedido?
Perguntei e ele riu da minha pergunta.
  –Não lembra de mim, Ana?

  Um silêncio tomou conta do lugar e eu fiquei olhando para ele tentando lembrar quem era. Olhei para seus cabelos claros e encaracolados, e seus olhos azuis como o oceano e rapidamente me lembrei. Aquele era Jay, meu ex melhor amigo de infância. Nos brincávamos juntos quando éramos pequenos e nossa amizade foi evoluindo a medida que cresciamos, mas por volta dos 15 anos, Josh começou a se aproximar de mim e Jay se afastou. Descobri recentemente que eles eram primos.

  –Jay???
  –Ana???
  Eu sorri surpresa por realmente ser ele. Como ainda não havia outros clientes, me sentei em frente a Jay para conversarmos um pouco.
  –O que te trás aqui sumido?
Perguntei a ele.
  –Vim te ver, ué. Que pergunta é essa?

  Eu fiquei sem entender, já que a gente havia se afastado a uns 5 anos atrás. Quando eu abri a boca para falar,ele continuou.
  –Eu estava pensando e ontem eu percebi que eu havia me afastado de você sem nenhum motivo. Tentei pensar em algum motivo para isso mas não vinha nada na minha mente, provavelmente era por algo irrelevante, então como senti saudades durante todos esses anos eu resolvi criar coragem e te procurar, oque eu já queria ter feito a muito tempo.

  Não havia motivos? E o Josh?
  –O motivo não era o Josh?
Perguntei seriamente e ele sorriu confuso.
  –Quem diabos em Josh?
  Ele não sabia quem era Josh, mesmo eles sendo primos?
  –Seu primo?
Eu estava muito confusa mas Jay me disse algo que me fez ficar mais confusa ainda.
  –Eu não tenho primos, Ana. Só tenho uma tia e ela ainda não teve filhos.
 
  Eu não estava entendo oque estava acontecendo, então decidi que mais tarde iria até a casa da mãe de Josh.
  Algumas horas se passaram e Jay foi embora conforme os clientes começaram a chegar. Perguntei a Lily se ela conhecia algum Josh e ela disse que pelo oque ela se lembrava, não. Que estranho. O que estava acontecendo?

  Olhei no relógio e eram 18:30. Meu expediente havia acabado e finalmente eu  poderia descobrir oque realmente estava acontecendo.
  Fui até a casa da mãe de Josh que ficava a alguns quarteirões da confeitaria e toquei a campainha. Ela abriu a porta.
  –Ana querida, oque você faz aqui a essas horas?
Olga era cliente fiel da nossa confeitaria e ia lá quase todos os dias, mas de um tempo para casa ela havia parado de ir.

  –Oi dona Olga, tudo bem? Vim te fazer uma visita!
Eu disse com um grande sorriso no rosto
  –Entre, Entre! Está muito frio aí fora, daqui a pouco começará a nevar.
Ela disse sorrindo enquanto pegava na minha mão me levando para dentro.

  Sentei na mesa e ela sentou na minha frente. Ela parecia mais feliz do que nunca. Ela me serviu chá e biscoitos.
  –Já que você é mulher assim como eu, preciso de uma opinião para algo.
Ela dizia muito sorridente enquanto eu tomava um gole de chá.
  –Eu gostaria de fazer uma surpresa para meu marido, pois estou grávida.

  Me engasguei com o chá e comecei a tossir freneticamente. Olga se levantou e veio em minha direção com um paninho na mão
  –Tome isso!
Ela me deu o paninho enquanto dava leves tapinhas nas minhas costas. Eu respirei novamente.
  –Sério dona Olga? Isso é incrível! Mas por que você precisava de ajuda?
Eu disse enquanto olhava nos seus olhos sorrindo um pouco.
  –Eu gostaria que fosse uma coisa especial, pois não é todo dia que você descobri que vai ser pai pela primeira vez.
Eu engoli seco e logo perguntei.
  –dona Olga, desculpe a pergunta mas você conhece algum Josh?
  –Não querida, mas esse é um nome que eu acho lindo. Poderia usá-lo caso fosse um menino.
Quase me engasguei novamente.

  Após ajudar dona Olga com a sua surpresa vi que já eram 21:00. Ela se ofereceu para me acompanhar até a cafeteira mas como ela parecia estar bastante cansada não quis incomoda-lá.
  –Tem certeza que não quer que eu te acompanhe, Ana?
  –Tá tudo bem, dona Olga!
  –Ok então, se cuida!
Ela dizia sorrindo e abrindo a porta pra mim.
  Estava começando a nevar e foi quando me lembrei que havia esquecido minha carteira na confeitaria. Fui andando até lá pois precisava espairecer minha mente, após descobrir que para todo mundo Josh nunca existiu.
  Cheguei na confeitaria e entrei na salinha de funcionários para procurar minha carteira e lá estava ela. Peguei, vesti minha blusa de frio reserva que deixava lá e saí para trancar a porta.
  Senti uma sensação estranha e um arrepio percorreu meu corpo. Olhei para todos os lados mas nao havia ninguém e como estava meio escuro eu não enxergava direito. A confeitaria estava sendo iluminada apenas pela luz que vinha do poste ao outro lado da rua.
  Fechei rapidamente a loja e fui chamar um uber. Meu celular estava descarregado.
  –Porque você tinha que descarregar justo agora?
Falei enquanto batia na tela do celular.
  –Vou ter que ir andando mesmo.

  Comecei a andar em direção a minha casa que era um pouco longe dali. Quando estava na metade do caminho comecei a sentir novamente arrepios e uma sensação de estar sendo observada.
  Olhei para todos os lados novamente e vi um cara estranho mancando em minha direção. Ele parecia estar bêbado.
Tentei pegar meu celular mas daí lembrei que estava descarregado, mas eu precisava disfarçar.
  Fingi estar atendendo uma ligação e continuei andando e falando no celular.
  –Oi amor, estou chegando. Eu me atrasei um pouco mas já estou bem pertinho.
  minhas mãos estavam tremendo muito e eu não sabia oque fazer mas para o meu azar o celular escorregou da minha mão e caiu no chão da rua com a tela para cima e apareceu o símbolo de descarregado.
  O homem bêbado olhou pra o celular e depois para meu rosto e deu um sorriso diabólico.
Ele começou a andar rápido em minha direção e eu comecei a correr.
  Eu corria e olhava para todos os lados mas não havia uma alma viva na rua. Flocos de neve voavam em meu rosto e as lágrimas rolavam ao lembrar que eu teria que passar pelo beco escuro por onde eu passava todas as vezes para ir embora.
  Cheguei na estrada do beco e parei pensando que o homem bêbado havia desistido de mim. As luzes dos postes não estavam acesas, pois hoje havia sido dia de manutenção e eu tinha esquecido.

  Olhei para trás e para o meu desespero lá estava o homem bêbado andando em minha direção com aquele sorriso demoníaco estampado na cara.

Minha Pura AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora