Cap 1. Ideia descabida.

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    Por Simone Tebet.

Reviro os olhos pela milésima vez, considero-me uma pessoa paciente, no entanto, a falta da virtude nesse momento, não se dá somente ao fato de eu estar esperando uma pessoa que está a trinta minutos atrasada - porque isso sim, me irrita - mas sim, ao motivo que me levou a ter que aguardá-lo.

Em uma mesa discreta, meu pai e eu, bebemos água com gás enquanto seu melhor amigo não se junta a nós.

Ainda estou me perguntando, como eu, uma mulher de trinta e cinco anos, bem vivida e experiente, concordei com esse absurdo. Sempre fui dona e senhora da minha própria vida, porém agora, sinto-me como uma adolescente sem voz nascida no século XI.

Aceitar que deixei meu pai e um sistema machista de merda decidissem minha própria vida, tem me custado caro, sinto que a qualquer momento irei surtar.

Quem em pleno século XXI casa por conveniência? É o que venho me questionando.

Gostaria muito que fosse ninguém, mas mentir para mim mesma não vai ajudar. O que estou prestes a fazer me parece tão ultrapassado quanto errado, mas infelizmente é minha única opção.

Bebendo mais um gole da minha água, mando também para dentro o nó que se formou em minha garganta, depois que concordei com essa maluquice, passei a analisar alguns casais do mesmo circulo social que o meu, alguns brindam e se beijam enquanto outros sorriem e se abraçam, são inúmeras e distintas demonstrações de afeto, mas ao observar mais de perto, notei que todos têm uma única coisa em comum; O fingimento.

Mas o que se esperar de um casamento por conveniência?

— Rogério, meu amigo! — desperto dos meus julgamentos internos, quando meu pai cumprimenta animadamente o homem de cabelos grisalhos que se aproximou sem que eu ao menos percebesse.

— Ramez Tebet! — com sorrisos, apertos de mãos e tapinhas nos ombros, os dois se recepcionam. Ambos parecendo genuinamente felizes ao se verem. - Talvez a alegria se dê aos anos de amizade e companheirismo que compartilham.

Rogerio Thronicke é um empresário bem sucedido do ramo de Construção Civil e é amigo do meu pai desde que ele contratou os serviços de sua empresa em mais um projeto dos nossos edifícios, e esse acontecimento já deve ter lá seus quinze anos de idade, o fato é que os dois se tornaram melhores amigos desde então.

— Olha só, se não é a herdeira dos Tebet — diz o senhor sorridente ao cumprimentar-me com um beijo no dorso.

— Como vai Rogério? — retribuo a saudação.

— Muito bem, querida. — diz ele com seu típico bom humor de sempre.

— Sente-se, meu amigo. — indica meu pai o assento à nossa frente.

Depois de mais alguns minutos de conversa fiada, fizemos nossos pedidos e nosso almoço se sucedeu sob conversas sobre negócios, e apesar de amar meu trabalho, confesso que já estava sem paciência para tanta falação. Eu só queria.....

— Já que falamos o almoço inteiro sobre negócios, vamos falar agora sobre o verdadeiro motivo de estarmos aqui — se pronuncia meu pai. Finalmente.

— Claro, expliquem-me sobre suas proposta — pede Rogério interessado. Meu pai havia ligado para ele dias antes convidando-o para o bendito almoço.

— Meu amigo, como você já sabe, irei aposentar-me em poucas semanas e quem ficará à frente de todos os negócios da família será Simone. — ergue seus olhos até mim e então prossegue — Porém já previmos que ela enfrentará algumas resistências durante sua gestão, você sabe, por ser mulher e solteira. — reviro os olhos. Minha vida pessoal e amorosa, não deveriam jamais serem mencionadas naquela empresa, uma vez que meu desempenho é mil vezes melhor que o daqueles velhos babões. — Então, lembrei-me que sua filha mais velha ainda está solteira. É uma moça muito inteligente, estudiosa, esforçada, responsável, uma autentica Thronicke. Pensando nisso nossa proposta é unir nossas famílias — explica meu pai, sem poupar elogios.

POR CONVENIÊNCIA - Simone & Soraya Onde histórias criam vida. Descubra agora