Prólogo: Contagem de capítulo I.

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                                 Prólogo: My dear heaven

Escrito por @ 99bunny99.

• ◈ •

Era realmente algo irônico que as coisas tivessem acontecido daquela maneira.

A brisa gélida do anoitecer bagunçava os fios de cabelo escuros de Chanyeol, o que não era algo incomum, já que o verão estava no final. Mas isso não trazia incômodo ao alfa, pelo contrário, gostava do verão na maior parte do tempo, embora nem sempre tenha sido assim, já que houve uma época em que sua estação favorita era o inverno. Mas isso já fazia muito tempo, quase que em outra vida.

O alfa girou o isqueiro metálico em sua mão mais uma vez, era um hábito que tinha adquirido através dos anos. Todas as vezes que estava trabalhando ou pensando, girava o isqueiro em seus dedos algumas vezes antes de terminar o serviço ou a linha de pensamentos, e essa era uma dessas situações; estava trabalhando.

Era um assassino.

Seu alvo não estava muito distante de seus olhos atentos. Tinha passado os últimos três dias decorando a rotina de Baekbeom, um alfa, e, para alguém que estava visado por toda a Coreia, ele estava bastante despreocupado e com uma rotina monótona. Aquele disfarce não era o melhor para um fugitivo adotar. O Beom estava trabalhando em uma escola infantil, e basicamente sua rotina se resumia em passar boa parte do dia naquele prédio. Não conseguia compreender porque ele estava agindo daquela forma, era como se fosse outra pessoa, como se não tivesse roubado a máfia coreana e assinado sua própria sentença de morte. Chanyeol, apesar de ser um assassino de aluguel e ter muito sangue em suas mãos, não aceitava qualquer trabalho, seus métodos eram diferentes, tinha seus princípios, e Baekbeom se encaixava no perfil de pessoas que aceitava matar.

Sujo. Impuro.

Baekbeom era sujo. Não que Chanyeol se considerasse um herói, longe disso, sabia o quão indigno era, mas se fosse para continuar sujando suas mãos, que não fossem de pessoas inocentes, que as pessoas que matava tivessem tantos pecados quanto os que carregava em suas costas. Por isso aceitou o pedido daquele cliente, e já estava atrasado. Era o seu último dia, tinha que finalizar o mais rápido possível.

Chanyeol ainda aguardou mais um tempo, vendo o alfa se despedir de cada criança com um abraço ou um beijo nas bochechas, então contabilizou no relógio em seu pulso quarenta minutos. Era o tempo que levava para os outros professores saírem do prédio. Por algum motivo o Beom era o último a deixar a escola, quase duas horas depois do fim do expediente, o que iria facilitar as coisas. O alfa se desencostou da parede e guardou o isqueiro em seu bolso, andando despreocupado pela rua em passos suaves. Sabia que aquele prédio tinha uma entrada pelos fundos, e foi a que usou para ter acesso e entrar sem muito esforço. Sabia que estava sozinho naqueles corredores e o local não tinha câmeras de segurança, já tinha checado todos os pequenos detalhes. Oras, ele não era nenhum amador.

Cruzou os corredores, subindo o pequeno lance de escadas até finalmente chegar na sala desejada. Assim que tocou na maçaneta de metal, sentiu um pequeno choque percorrer seu corpo. Era como se aquele fosse um lembrete do que estava indo fazer, como se tudo voltasse à tona e seus sentimentos ficassem nublados e em conflito. Mas eram por pessoas como Baekbeom que tinha uma ferida incurável em seu coração, se é que ainda tinha um, e apenas ele mesmo sabia o quanto doía como o inferno.

Finalmente girou a maçaneta, abrindo a porta lentamente, sem fazer qualquer tipo de barulho. Visualizou seu alvo no canto da sala cheia de espelhos, agachado no chão fazendo algo que parecia ser um alongamento, e parecia que sua presença ainda estava passando despercebida no local. Sabia controlar bem seu cheiro para não chamar atenção, deixar seu lúpus escondido.

Chanyeol tirou a arma do coldre em seu peitoral, escondido pela grossa camada do casaco que usava, e mirou o cano na direção do outro.

Quando finalmente sua presença foi notada, Chanyeol não esboçou nenhuma reação, apenas terminou de fechar a porta que estava entreaberta; apesar do silenciador na arma, não queria deixar nenhum ruído escapar. Viu o alfa erguer suas mãos em desespero e se desequilibrar no chão, o que o fez cair. Em passos lentos se aproximou do alvo, encostando o cano da arma nos fios rosados, e foi apenas naquele instante que Chanyeol se permitiu observar os detalhes do rosto do outro, que era livre de qualquer tipo de cicatriz ou rastro de machucados. Os olhos do Beom tinha um ar de inocência, o que era bastante irônico por todas as coisas que já tinha feito, todos os crimes que já tinha cometido. Os lábios rosados estavam trêmulos de medo e, antes que Chanyeol pudesse puxar o gatilho da arma, um cheiro chegou aos seus sentidos através da brisa que entrou pela janela aberta. Eram feromônios de ômega.

A feição confusa tomou conta do rosto do Park, pela primeira vez esboçando uma reação. Com sua mão livre, agarrou a blusa que o menor estava usando e o trouxe para perto, escutando um grito assustado e um "me solte" baixinho, quase inaudível. Cheirou os tecidos da roupa e foi subindo seu nariz cada vez mais até tocar a pele lisinha. Era cheiro de ômega.

Largou o revólver de qualquer jeito no chão, buscando em sua memória as informações que tinha recebido do Beom dias atrás:

Baekbeom.

Vinte e cinco anos.

Alfa.

Seu lobo quis rosnar. Que merda era aquela? Ele era um ômega, e Chanyeol jamais machucaria um ômega, era sua principal regra, nunca iria machucar nenhum. Nunca. E todos sabiam.

Preferia morrer a machucar um ômega.

Sentiu as mãos dele tocarem as suas, tentando se afastar em um ato desesperado, seus feromônios mostravam o quão amedrontado estava. Afrouxou seus dedos, deixando o outro se afastar mesmo que minimamente. Os batimentos em seu peito estavam descontrolados. E se não tivesse chegado perto o suficiente para sentir o cheiro? Iria matá-lo. Teria matado um ômega.

— Ômega… — Chanyeol disse, erguendo seu olhar na direção do menor mais uma vez, para logo em seguida desviar e sua atenção ir até a parede de espelhos. Suas íris estavam esbranquiçadas, seu lúpus estava descontrolado. O que era aquilo? — Você é um ômega. Seu nome é Baekbeom?

O outro nada respondeu, e o Park entendeu quando viu que a atenção dele ainda estava focada no revólver perto de sua mão. O afastou, mesmo sabendo que aquilo não traria nenhuma segurança ao outro, mas precisava entender.

— Eu não vou machucar você — Chanyeol disse com a voz rouca. Estava fazendo o maior esforço possível para não continuar se embriagando com o cheiro do ômega. — Apenas me responda, você é o Baekbeom?

— Baek… hyun… Meu nome é Baekhyun — respondeu, ainda com a voz afetada, mas assim que escutou o nome do irmão entendeu o que estava acontecendo. — Baekbeom… ele…

Chanyeol se aproximou, esperando o ômega terminar sua frase. Piscou os olhos lentamente, certo de que deveria estar prestando atenção nas palavras dele, mas algo em seu interior o fazia querer ficar próximo, queria ter a certeza de que não estava ficando louco e que tinha confundido o alvo. Não poderia existir duas pessoas iguais.

— Baekbeom é meu irmão… gêmeo.

Ou poderia sim existir duas pessoas iguais.

Gêmeos.

Um alfa e um ômega.

E então foi como se uma luz tivesse surgido nos pensamentos do alfa. Por isso tudo tinha sido tão fácil, tão simples, porque aquele não era seu alvo. Mas aquilo tudo não explicava as reações que estava tendo, Baekhyun estava o deixando tonto, era quase como se o alfa pudesse se afogar naquele cheiro tão extasiante.

My dear heaven [ChanBaek] Onde histórias criam vida. Descubra agora