Eu olhava aquele animal como se fosse a bem mais precioso daquele lugar. E realmente era. Eu não comia a dois dias, quase não tinha mais forçar para caçar. Então sim, aquele cervo era o bem mais preciso naquele momento.
O silêncio daquela floresta era mortal e reconfortante, qualquer respiração mais profunda ele saberia que eu estava ali e iria fugir.
O flocos de neve queimavam a minha pele conforme tocavam nela. Mas eu amava o frio, deixava a floresta inteira branca e com sensação de paz.
O cervo cheirava o chão tentando achar um pouco de grama mas não teve sucesso. Levantei meu arco, coloquei uma flecha, respirei fundo e mirei no meu alvo. Solto o ar e vejo o cervo caindo no chão com a flecha no coração. Eu nunca erro meu alvo, eu pelo mesmo nunca errei.
Saio de trás da árvore de onde eu estava e vou em direção ao cervo, que era grande e duraria uma semana em casa.
Guardo minha arma, me ajeito e jogo o animal nas minhas costa. Eu estava fraca mas não poderia arrastá-lo no chão, machucaram sua pele e eu não poderia vendê-la.
Conforme eu andava minhas pernas queimavam, a neve estava começando a subir. Eu tinha que sair dali o mais rápido possível, já era tarde e se eu ficasse naquela floresta por mais tempo, teria um problema.
Eu conhecia aquela floresta como a palma da minha mão, vivo nessa cidade desde criança. Eu sabia o que se escondia ali a noite.
Depois de alguns minutos começo a ouvir vozes de pessoas no centro da cidade, começo a passar por elas e sou recebida com caras de nojo, olhar de desprezo e por ai vai. Já estava acostumada. As pessoas não gostavam de mim por ser caçadora, por não ser muito feminina e por não ter um marido. Eu vivia com o meu irmão Arthur e ele é a única pessoa que eu gosto e me importo nessa cidade nojenta.
Riven meu amor, você está radiante hoje. - Nem preciso olhar para o lado, já sei quem é.
O que você quer Bram? - Pergunto sem me virar.
Lembra que eu disse que ninguém aqui gostava de mim?... Tinha esquecido desse detalhe desagradável. Bram é o típico mulherengo da cidade, que fica com qualquer uma e depois finge que nunca viu a pessoa. Ele fedia a perfumes variados, lama e cerveja.
Desde que eu fiz 18 anos ele me persegue, as vezes ele passa dos limites mas um chute nos países baixos deixa ele afastado por um tempo.Confesso que ele é bonito, um dos únicos, tem seus 1,90 de altura, moreno, alguns músculos a vista mas nada exagerado, cabelo preto, e olhos verdes. Bram também é caçador, ele é ótimo, mas eu sou melhor.
Sabe queria te chamar para sair hoje, eu e meus amigos vamos no festival na cidade ao lado. - Ele diz colocando as mãos no bolso e com um sorriso no canto da boca.
Não obrigado. - Falo seca e coloco o cervo na porta de casa. - Você deveria procurar outra para se divertir hoje, ou todas elas já se cansaram de você? - Digo me virando e olhando para seus belos olhos verdes, o sol estava batendo em seu rosto o que deixa ele ainda mais bonito.
Assim você me magoa sabe. - Fala colocando a mão no peito e fazendo cara de cão sem dono. - Tudo bem então, eu te trago alguma coisa de lá. - Fala me dando uma piscada e sai andando em direção a uma garota que estava olhando para ele enquanto passava. Reviro os olhos ao ver a cena.
Abro a porta de casa, pego o cervo e o coloco na mesa da cozinha. Volto para fechar a porta e quando me viro vejo meu irmão parado me olhando. Eu sei ser sorrateira mas ele é melhor nisso.
Um dia você ainda me mata de susto Arthur.- Falo batendo os pés no chão para tirar a neve das botas. Tiro meu arco das costa e o penduro atrás da porta.
Finalmente temos comida nessa casa.- Ele fala vindo até mim e me abraçando, me arrepio com o calor de seu corpo quente em contato com meu corpo quase congelado pelo frio. - Obrigado por ser a melhor caçadora desse lugar... e obrigado cervo por ter saido da toca. - Ele completa se desvencilhando de mim e indo até o corpo do animal na mesa.
Ele olha para o animal e analisa cada centímetro do mesmo. Arthur era açougueiro e sabia perfeitamente como desossar e tirar a pele daquilo.
- A tempestade está chegando, os animais não irão sair tão cedo. - Falo tirando meu casaco. - Esse cervo tem que durar até depois da tempestade. - Penduro o casaco e vou até a cozinha pegar um pouco de chá quente.
Consegui um pouco de farinha e leite hoje, vou fazer uns pães e bolo. Ele fala pegando sua faca e começando os trabalhos. Pego meu chá e vou para o meu quarto. Fecho a porta e tiro minhas roupas molhadas pela neve e entro na banheira de água quente que Arthur já tinha deixado pronta para mim. Amo esse homem.
O contato da água quente com meu corpo gelado me causa arreio e conforto, entro devagar até está submersa por completa. Aquele silêncio debaixo da água é como se não existisse nada ao meu redor e fosse apenas eu.
Fico alí por alguns segundo e voltei a superfície.
Esse ano a tempestade vai dar trabalho.
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